Inflação sobe 0,87% em agosto, maior alta desde 2000
O IBGE divulgou nesta quinta-feira, 9, a variação do IPCA em agosto. Inflação no ano deve ser a maior desde 2015
Carolina Riveira
Publicado em 9 de setembro de 2021 às 09h04.
Última atualização em 9 de setembro de 2021 às 11h13.
Da crise hídrica ao preço dos alimentos, a inflação no Brasil segue sem dar trégua. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em alta de 0,87% em agosto, a maior variação para um mês de agosto desde 2000.
O índice foi divulgado nesta quinta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IPCA ficou acima das expectativas dos analistas no Boletim Focus, do Banco Central, cuja última mediana apontava alta de 0,67% em agosto.
Com o resultado, o índice acumula crescimento de 9,68% nos últimos 12 meses, superando o acumulado de 8,99% registrado até julho.
A expectativa dos analistas é que o IPCA de fato feche o ano próximo dos 8%, o que seria a inflação mais alta desde 2015.
No ano, de janeiro ao fim de agosto, a alta já é de 5,67%.
Em julho, o IPCA havia ficado em 0,96%, também a maior variação para o mês desde 2002.
Mesmo com só oito meses do ano contabilizados, o IPCA já mostra que superará com folga a meta prevista para 2021 pelo Banco Central.
O centro da meta era de 3,75%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos (ou seja, com máximo de 5,25%).
A atual projeção dos analistas ouvidos na última edição do Focus, publicado na segunda-feira, 6, é de que o IPCA feche o ano em alta de 7,58%.
As projeções só pioram a cada nova revisão: há quatro semanas, a aposta era de IPCA a 6,88%. No começo do ano, era de pouco mais de 3%. Só neste ano, foram 21 revisões para cima do IPCA.
Para 2022, a mediana do Focus projeta IPCA em 3,98%.
Preços que mais subiram
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA subiram em agosto. A maior alta veio dos transportes (1,46%), puxado por itens como o preço da gasolina, que subiu 2,8% na média nacional do IPCA — e chegou a sete reais em alguns estados.
De janeiro a agosto, a gasolina acumula alta no IPCA de 31%, o etanol, de 41%, e o diesel, de 28%.
Variação nos grupos do IPCA em agosto
- Índice Geral 0,87%
- Transportes 1,46%
- Alimentação e Bebidas 1,39%
- Artigos de Residência 0,99%
- Vestuário 1,02%
- Habitação 0,68%
- Saúde e Cuidados Pessoais -0,04%
- Despesas Pessoais 0,64%
- Educação 0,28%
- Comunicação 0,23%
No geral, fatores como o dólar alto, alta nas exportações, preço do petróleo no exterior e a crise hídrica que afeta o preço da energia elétrica estão entre as principais frentes que têm elevado a inflação no Brasil desde o ano passado.
“O preço da gasolina é influenciado pelos reajustes aplicados nas refinarias de acordo com a política de preços da Petrobras. O dólar, os preços no mercado internacional e o encarecimento dos biocombustíveis são fatores que influenciam os custos, o que acaba sendo repassado ao consumidor final”, disse em nota o analista de pesquisa do IBGE, André Filipe Guedes Almeida.
Alguma inflação é esperada em todo o mundo devido à retomada econômica, que impulsiona a demanda. Mas o Brasil vive um cenário complexo, com inflação galopante apesar do desemprego ainda muito alto, acima de 14%.
Como a EXAME mostrou, a renda do brasileiro não tem conseguido acompanhar a alta dos preços. O salário mínimo proposto pelo governo federal para 2022, de 1.169 reais, também deve ficar abaixo da inflação, com reajuste de 6,2%.
As projeções para a inflação seguem subindo ainda que a perspectiva para a economia tenham piorado.
A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2022 já fica abaixo de 1,5% em várias casas de análise, e alguns economistas começam a apostar até mesmo na possibilidade de recessão no ano que vem.
Dólar e energia, vilões dos preços
A crise hídrica que o Brasil vive neste inverno tem feito decolar os preços da energia elétrica, uma das principais altas no ano.
Além das altas até aqui, a Aneel anunciou uma bandeira tarifária de escassez hídrica no valor de 14,20 reais cobrados a mais a cada 100 quilowatts-hora consumidos, que começa a valer neste mês de setembro.
O risco de apagão também cresce devido à dependência brasileira das hidrelétricas, que respondem por mais de 60% da matriz.
"Estimamos que o risco de racionamento de energia elétrica aumentou, e revisamos essa probabilidade de 5% para 10%. O principal risco para o cenário energético no próximo ano é uma nova temporada de chuva (novembro a março) com precipitação abaixo da média histórica", escreveram analistas do banco Itaú em relatório na semana passada.
Na outra ponta, o dólar segue também como um dos principais responsáveis pela inflação no momento, e a projeção dos analistas é que continue no patamar dos 5 reais no resto do ano.
A moeda americana fechou a quarta-feira, 8, em alta de 2,89%, a 5,32 reais, puxada pelo risco político após os atos do presidente Jair Bolsonaro em 7 de setembro. O risco político segue sendo um dos principais catalisadores da alta do dólar.
A taxa Selic está em 5,25% no momento, mas novas altas já são dadas como certas, com projeção de que a taxa de juros feche o ano beirando os 8%.
Uma sinalização de alta de juros no Brasil pode atrair maior fluxo de dólares devido aos maiores retornos, e reduzir a desvalorização do real. Na quarta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a instituição agirá para controlar a inflação.
Os analistas do banco BTG Pactual digital apostam que o câmbio feche o ano em 5 reais, com projeções variando entre 4,80 (em uma projeção otimista) e 5,40, mas ressaltam que a avaliação pode mudar a depender dos desdobramentos.
"No âmbito doméstico, a existência de um cenário hídrico adverso e de uma inflação de serviços persistente, e perigosa, é indiscutível entre os economistas, que esperam que o comitê de política monetária do BCB [ Banco Central ] faça um comunicado mais firme no encontro deste mês, em busca de acomodar as expectativas para a inflação de 2022", escreveram em relatório na quarta-feira, 8.
Além do impacto nos custos de produção nas cadeias que dependem de insumos importados - do pãozinho feito com trigo importado aos insumos usadas no campo -, o dólar estimula a exportação de produtos e, consequentemente, redução da oferta interna.
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