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Inovação e setor público: um ator em busca de um papel

Papel do BNDES e capacidade de financiamento foram debatidos em SP; para professora italiana, Brasil corre risco de “jogar o bebê fora com a água da banheira”

Inovação (Getty Images)

João Pedro Caleiro

Publicado em 13 de maio de 2015 às 17h34.

São Paulo – Qual é o papel do setor público na inovação ?

O tema foi discutido hoje em palestras e debates no 6º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, organizado pela Confederação Nacional da Indústria ( CNI ) em São Paulo.

Mariana Mazzucato, professora da Universidade de Sussex, começou com a sua tese: a inovação é bem-sucedida quando o Estado participa em todos os elos da cadeia, e os melhores exemplos disso estão no Vale do Silício ( veja a entrevista para EXAME.com ).

As tecnologias que culminaram no iPhone como o GPS e a própria internet, por exemplo, tem raízes em agências públicas, o que ficou de fora da história contada pelos capitalistas de risco.

“Uma biografia de 600 páginas sobre Steve Jobs (ótimo livro, aliás) e nenhuma página, nenhuma palavra sobre financiamento público. Quem se beneficia dessa narrativa estreita e distorcida?”.

O papel do Estado na criação (e não só correção) de mercados – “criar a onda para depois o setor privado surfar” - aparece em missões do passado (como o envio do homem à Lua) e na necessidade atual de uma revolução verde.

Os 4 maiores bancos públicos do mundo – Alemanha, Europa, Brasil e China – gastam mais em tecnologia verde do que todo o setor bancário privado mundial. Na China, o objetivo é de chegar a 20% de energia com fontes renováveis até 2020.

Para Mazzucato, a experiência internacional mostra que o que funciona nestas missões são agências públicas descentralizadas que trabalhem em rede e protegidas de influência político, com condições e ambições suficientes para atrair as melhores mentes.

Foco e dinheiro

Mas todos notaram que a experiência de outros países precisa ser absorvida com cuidado. Inovação, afinal, é criar e não copiar.

“Eu nunca diferenciaria a inovação da cultura de inovação. Não acho que o Brasil tem sucesso quando pega da China, dos EUA, ou de onde for, mas quando pega do próprio Brasil”, diz Michael Schrage, pesquisador do MIT.

Ele também destacou que o sucesso não depende apenas de dinheiro – um tema especialmente importante no contexto brasileiro de receitas em queda e contenção de despesas.

“Não acredito que as exigências do ajuste atual sejam incompatíveis com um trabalho maior do setor público. Independente do sucesso ou fracasso da inovação em si, precisamos de um trabalho mais efetivo do poder público e na articulação dessas inovações com o setor privado e na disseminação delas na economia e na sociedade”, diz Luis Fernandes, presidente da Agência Brasileira de Inovação (FINEP).

A velocidade e a tolerância ao fracasso também foram bastante citados como elementos indispensáveis para uma cultura de inovação. O lema, de acordo com Schrage, deve ser não fazer melhores consumidores, e sim tornar os consumidores melhores:

“Inovação, como velocidade, é meio e não fim. A questão não é como você falha mais rápido, e sim como você aprende mais rápido com essas falhas. Já ganhei muito dinheiro com companhias que até agora não aprenderam com seus erros“, diz Michael.

Erros

Sobre aprender com os erros, Mariana diz que pela primeira vez em uma década, olha o Brasil com mais preocupação do que excitação – e isso tem muito mais a ver com a situação do debate do que com os números econômicos:

“O que começou no Brasil desde Lula foi um foco em inovação alinhado com um ataque à pobreza. Uma conversa horizontal que muitos países sequer tiveram. Agora, isso mudou, e meu medo é que vocês joguem o bebê junto com a água da banheira, indo para outro extremo. Claro que o Brasil tem problemas de burocracia e captura, mas não podemos cair nessa conversa medíocre de que o setor público precisa ser tímido e envergonhado. Historicamente, isso nunca funcionou em nenhum país que eu conheci.”

Segundo ela, é importante entender que se o Estado precisa participar da inovação, precisamos tolerar tanto que ele fracasse quanto que absorva parte dos ganhos – temas tabus para alguns economistas:

“A inovação vai falhar! O quanto permitimos ao setor público falhar é tão importante quanto pensar em como ele pode capturar parte do ganho quando dá certo. Nós culpamos o setor público quando ele faz as coisas fáceis (como o BNDES financiar as empresas grandes), mas quando financia as coisas difíceis e falha, também os culpamos!”

Os comentários foram bem-vindos por João Carlos Ferraz, diretor do BNDES , instituição que vem sido questionada pela falta de transparência:

“Estamos em um contexto deprê e vocês vieram afagar um ego machucado. O BNDES tem sido atacado de uma maneira absurda, mas a contribuição dele para a economia brasileira é enorme. Só aparece o lado negativo e não o positivo, então obrigado por reconhecer aqui.”

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Mariana Mazzucato, professora da Universidade de Sussex, começou com a sua tese: a inovação é bem-sucedida quando o Estado participa em todos os elos da cadeia, e os melhores exemplos disso estão no Vale do Silício ( veja a entrevista para EXAME.com ).

As tecnologias que culminaram no iPhone como o GPS e a própria internet, por exemplo, tem raízes em agências públicas, o que ficou de fora da história contada pelos capitalistas de risco.

“Uma biografia de 600 páginas sobre Steve Jobs (ótimo livro, aliás) e nenhuma página, nenhuma palavra sobre financiamento público. Quem se beneficia dessa narrativa estreita e distorcida?”.

O papel do Estado na criação (e não só correção) de mercados – “criar a onda para depois o setor privado surfar” - aparece em missões do passado (como o envio do homem à Lua) e na necessidade atual de uma revolução verde.

Os 4 maiores bancos públicos do mundo – Alemanha, Europa, Brasil e China – gastam mais em tecnologia verde do que todo o setor bancário privado mundial. Na China, o objetivo é de chegar a 20% de energia com fontes renováveis até 2020.

Para Mazzucato, a experiência internacional mostra que o que funciona nestas missões são agências públicas descentralizadas que trabalhem em rede e protegidas de influência político, com condições e ambições suficientes para atrair as melhores mentes.

Foco e dinheiro

Mas todos notaram que a experiência de outros países precisa ser absorvida com cuidado. Inovação, afinal, é criar e não copiar.

“Eu nunca diferenciaria a inovação da cultura de inovação. Não acho que o Brasil tem sucesso quando pega da China, dos EUA, ou de onde for, mas quando pega do próprio Brasil”, diz Michael Schrage, pesquisador do MIT.

Ele também destacou que o sucesso não depende apenas de dinheiro – um tema especialmente importante no contexto brasileiro de receitas em queda e contenção de despesas.

“Não acredito que as exigências do ajuste atual sejam incompatíveis com um trabalho maior do setor público. Independente do sucesso ou fracasso da inovação em si, precisamos de um trabalho mais efetivo do poder público e na articulação dessas inovações com o setor privado e na disseminação delas na economia e na sociedade”, diz Luis Fernandes, presidente da Agência Brasileira de Inovação (FINEP).

A velocidade e a tolerância ao fracasso também foram bastante citados como elementos indispensáveis para uma cultura de inovação. O lema, de acordo com Schrage, deve ser não fazer melhores consumidores, e sim tornar os consumidores melhores:

“Inovação, como velocidade, é meio e não fim. A questão não é como você falha mais rápido, e sim como você aprende mais rápido com essas falhas. Já ganhei muito dinheiro com companhias que até agora não aprenderam com seus erros“, diz Michael.

Erros

Sobre aprender com os erros, Mariana diz que pela primeira vez em uma década, olha o Brasil com mais preocupação do que excitação – e isso tem muito mais a ver com a situação do debate do que com os números econômicos:

“O que começou no Brasil desde Lula foi um foco em inovação alinhado com um ataque à pobreza. Uma conversa horizontal que muitos países sequer tiveram. Agora, isso mudou, e meu medo é que vocês joguem o bebê junto com a água da banheira, indo para outro extremo. Claro que o Brasil tem problemas de burocracia e captura, mas não podemos cair nessa conversa medíocre de que o setor público precisa ser tímido e envergonhado. Historicamente, isso nunca funcionou em nenhum país que eu conheci.”

Segundo ela, é importante entender que se o Estado precisa participar da inovação, precisamos tolerar tanto que ele fracasse quanto que absorva parte dos ganhos – temas tabus para alguns economistas:

“A inovação vai falhar! O quanto permitimos ao setor público falhar é tão importante quanto pensar em como ele pode capturar parte do ganho quando dá certo. Nós culpamos o setor público quando ele faz as coisas fáceis (como o BNDES financiar as empresas grandes), mas quando financia as coisas difíceis e falha, também os culpamos!”

Os comentários foram bem-vindos por João Carlos Ferraz, diretor do BNDES , instituição que vem sido questionada pela falta de transparência:

“Estamos em um contexto deprê e vocês vieram afagar um ego machucado. O BNDES tem sido atacado de uma maneira absurda, mas a contribuição dele para a economia brasileira é enorme. Só aparece o lado negativo e não o positivo, então obrigado por reconhecer aqui.”

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