Economia

Inflação resistente aumenta custo para governo se financiar

Segundo especialistas, probabilidade de que o BC continue a elevar a Selic é o principal fator que tem impulsionado as taxas dos títulos públicos


	Alexandre Tombini, coordena reunião do Copom: Banco Central deve continuar a elevar a taxa Selic para conter os preços
 (Elza Fiúza/ABr)

Alexandre Tombini, coordena reunião do Copom: Banco Central deve continuar a elevar a taxa Selic para conter os preços (Elza Fiúza/ABr)

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Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2014 às 13h22.

Brasília - A expectativa de que a inflação continue resistente nos próximos meses tem elevado o custo para o governo se financiar. Segundo especialistas, a probabilidade de que o Banco Central (BC) continue a elevar a taxa Selic – juros básicos da economia – para conter os preços é o principal fator que tem impulsionado as taxas dos títulos públicos.

Nas últimas semanas, os títulos prefixados de dez anos, um dos papéis ofertados pelo Tesouro com taxas mais altas, vem pagando juros de 13,2% ao ano, o maior nível desde fevereiro de 2010. A instabilidade levou o Tesouro Nacional a suspender a venda de títulos no Tesouro Direto e a fazer leilões de compra, quando o governo readquire os papéis dos aplicadores para fornecer um referencial para o mercado.

Por meio dos títulos públicos, o governo pega dinheiro emprestado dos investidores para honrar compromissos. Em troca, o Tesouro compromete-se a devolver os recursos com alguma correção, que pode seguir a taxa Selic, a inflação, o câmbio ou ser definida com antecedência no caso dos títulos prefixados. O Tesouro vende os papéis se concordar com as taxas pedidas pelo mercado.

No caso dos títulos prefixados e corrigidos pela Selic, as taxas têm como referencial os juros básicos da economia. De acordo com o professor de estratégias empresariais Ricardo Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a preocupação de que a inflação permaneça alta em 2014 pressiona os juros dos títulos públicos por causa do aumento das chances de que o Banco Central promova novos aumentos na taxa Selic, atualmente em 10,5% ao ano.

“Os investidores olham como a inflação e os juros vão se comportar. O mercado considera o quanto a inflação vai resistir e quanto tempo deverá durar o ciclo de alta da Selic para formar os juros dos títulos públicos”, explica Teixeira. As preocupações, ressalta, aumentaram depois que a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, divulgada quinta-feira (23), indicou a possibilidade de a Selic continuar a subir.


No caso dos títulos prefixados, as taxas também refletem a desconfiança dos investidores em relação ao governo. Apesar de os juros desses papéis terem atingido os níveis mais altos em quatro anos, o professor da FGV não acredita que as taxas reflitam o desempenho das contas públicas, pressionadas pelo aumento dos gastos federais nos últimos anos.

“Em outras regiões, como na Europa, os juros dos títulos refletem uma crise de desconfiança em relação aos governos. No Brasil, o governo, de fato, tem gastado mais, mas isso ainda não afetou a crença na capacidade de pagamento da dívida pública pelo Tesouro”, diz.

Segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, os investidores acreditam que a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará 2014 em 6,01%. Pela segunda semana seguida, a estimativa aumentou.

O vice-presidente da Associação de Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, também acredita que as perspectivas em torno da inflação sejam o principal fator de influência sobre as taxas dos títulos públicos. “O mercado tem a expectativa de que o Banco Central continue a aumentar os juros por causa da pressão dos preços de transportes e de combustíveis. Sem contar que o dólar tende a subir ainda mais e pode contaminar a inflação”.

Embora resultem em aumento de custos para o governo financiar a dívida pública, Oliveira acredita que o momento é bom para quem deseja comprar títulos federais. “Esse nível de juros é ruim para o devedor, que é o governo, mas beneficia o investidor, que vai ganhar mais aplicando nesses papéis do que há um ano, mesmo com a inflação corroendo parte dos rendimentos”, acrescenta.

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