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Inflação pressiona resultados de empresas de consumo

A Ambev e a Natura já acusaram esse cenário nos resultados do primeiro trimestre, com um mix de receitas, margens e lucros menores que o esperado

  A inflação medida pelo IPCA, que serve de referência para a meta do governo, atingiu 6,49 % no acumulado de 12 meses até abril. A meta é de 4,5 %, com tolerância de dois pontos percentuais (Marcos Santos/USP Imagens)
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Da Redação

Publicado em 8 de maio de 2013 às 17h29.

São Paulo - A disputa pela renda disponível das famílias num cenário de inflação elevada no Brasil e pressão de credores para reduzir a inadimplência está afetando os resultados das empresas, especialmente as ligadas ao varejo.

A fabricante de bebidas Ambev e a companhia de cosméticos Natura já acusaram esse cenário nos resultados do primeiro trimestre, com um mix de receitas, margens e lucros menores que o esperado.

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BRF e Pão de Açúcar também esperam meses difíceis à frente. A primeira, dona das marcas Sadia e Perdigão, conseguiu lucros maiores no começo do ano, em meio a repasse de custos, mas teme que não possa fazê-lo mais.

"Tenho preocupação com o consumidor, se perdurarem estes níveis de inflação alta e a renda comprometida com outras dívidas. Existe um rearranjo, uma desaceleração no consumo de bens não duráveis", disse recentemente o presidente da BRF, José Antonio do Prado Fay.

A inflação medida pelo IPCA, que serve de referência para a meta do governo, atingiu 6,49 % no acumulado de 12 meses até abril. A meta é de 4,5 %, com tolerância de dois pontos percentuais.

Para tentar conter a escalada de preços, em abril o Banco Central elevou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 7,50 % ao ano, no que foi entendido pelo mercado como início de um ciclo de aperto monetário que pode levar o juro básico para algo em torno de 8,25 % no fim deste ano.

Com a expectativa de que a inflação comece a desacelerar dentro de três a quatro meses, as varejistas enxergam suas vendas acelerando mais adiante, à medida que a renda disponível começar a se recuperar.

"No segundo trimestre, o volume segue pressionado, mas deve melhorar ao longo do ano", disse o vice-presidente de Finanças e de Relações com Investidores da Ambev, Nelson Jamel, prevendo que medidas do governo para controlar a inflação ajudarão a elevar a renda disponível das famílias.


Para analistas, porém, a desaceleração do varejo tem uma combinação mais complexa, o que exigirá habilidade das empresas para perceberem até que ponto podem repassar aumento de custos.

Um limitador poderia ser o esforço das famílias para reduzir dívidas. "O endividamento das famílias está muito alto", disse o sócio da Órama Investimentos Álvaro Bandeira.

Dados recentes do BC mostram que a taxa de inadimplência no sistema financeiro nacional caiu pelo terceiro mês seguido em março, a 5,5 %, mas ainda perto dos 5,9 % de outubro passado, máxima da série histórica iniciada em 2000.

Após a inadimplência ter atingido picos em 2012, nos últimos meses os bancos também ficaram mais rigorosos na concessão de crédito. Com isso, o ritmo de expansão dos empréstimos no país, que vinha acima 20 % ao ano, desacelerou quase pela metade.

Oligopólios

Em meio ao embate para repassar aumento de custos nesse cenário de transição, setores econômicos dominados por um número menor de empresas tendem a mostrar maior capacidade de defender suas margens de lucro, avalia o economista-chefe da Bradesco Corretora, Dalton Luis Gardimam.

"Achamos que, de maneira geral, os lucros das empresas tendem a crescer ao redor de 20 a 30 % neste ano", disse.

Por outro lado, os esforços do governo de incentivar investimentos em infraestrutura podem sinalizar uma gradual troca do principal motor de crescimento da economia, de consumo para investimento, o que tende a ser marginalmente negativo para as empresas de varejo.

"O consumo da famílias tende a ter uma participação menor para o crescimento do PIB este ano, o que tende a ser ruim para as empresas de consumo", disse o analista de consumo do Itaú BBA, Vitor Pachoal.

Diante disso, investidores já não parecem tão animados com as ações de varejistas.

No acumulado do ano até o fechamento de 7 de maio, o ICON, índice da bolsa paulista que aponta o desempenho do setor de consumo, teve alta de 2 %, após um salto de 40 % em 2012. Ainda assim, o desempenho das ações de varejistas é melhor que o referencial do mercado acionário local, o Ibovespa, que exibe baixa de quase 8 % em 2013 até aqui. (Edição de Raquel Stenzel e Cesar Bianconi)

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