Repórter de Economia e Mundo
Publicado em 11 de abril de 2023 às 13h46.
Última atualização em 11 de abril de 2023 às 15h52.
A inflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal índice inflacionário brasileiro, chegou a seu menor patamar em mais de dois anos, segundo os resultados divulgados nesta terça-feira, 11, pelo IBGE.
A inflação fechou o mês de março com variação mensal de 0,71% e acumulado em 12 meses de 4,65%.
É a primeira vez que o Brasil chega a uma inflação acumulada nesse patamar desde janeiro de 2021, quando a inflação foi de 4,56% (veja no gráfico abaixo).
De 2021 para cá, pressões como o choque de oferta acentuado pela pandemia, a demanda aquecida pós-quarentenas e, depois, a guerra na Ucrânia, levaram a inflação às alturas em todo o mundo — incluindo em países pouco habituados a inflação alta, como nos EUA e na Europa. A inflação no Brasil em 2022 chegou a alguns de seus maiores patamares desde o Plano Real.
Foi só a partir do segundo semestre de 2022 que as pressões inflacionárias no Brasil começaram a ceder.
A mudança de rumo veio em meio à desaceleração da economia, puxada por alta de juros, além do preço menor do petróleo no mercado internacional e a desoneração temporária de impostos sobre combustíveis, entre outros fatores.
No Brasil, além dos choques na cadeia global com a pandemia, a inflação foi impactada pela alta do dólar frente ao real em vários momentos (a moeda americana chegou perto dos R$ 6), além de preço elevado das commodities no exterior, levando a altas em preços de alimentos e combustíveis aos consumidores.
Em 2021 e início de 2022, além disso, o país viveu aumento forte nos preços da energia elétrica em meio à crise hídrica.
Esse cenário de pressão inflacionária no Brasil e no mundo seria ainda mais acentuado após a guerra na Ucrânia. O auge veio no começo de 2022, após o início da guerra, quando a inflação brasileira superou os 10%.
Nos últimos meses, diante das pressões inflacionárias globalmente, bancos centrais em todo o mundo passaram a subir juros.
No Brasil, o Banco Central estava em cenário de taxa básica de juros, a Selic, em mínima histórica de 2% em março de 2021. Depois disso, o BC começou progressivamente a subir os juros, até chegar à taxa de 13,75% atualmente, a maior desde 2016.
Nos EUA, o Fed, banco central americano, também levou a taxa básica local para o intervalo entre 4,75% e 5,0% até o momento. O aperto monetário no país começou em meio à inflação chegando ao patamar dos 9% no início de 2022, a maior em 40 anos.
Há muitos debates no mundo sobre quais fatores levaram à inflação recorde no último ano. Frentes como o choque nas cadeias globais na pandemia teriam levado a uma inflação de oferta em um primeiro momento; depois disso, a recuperação do mercado de trabalho, a reabertura após as quarentenas e os incentivos governamentais para conter os efeitos econômicos da pandemia também podem ter levado a uma inflação de demanda.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse em evento neste mês que a posição da autoridade monetária brasileira é de que a inflação atual no mundo tem forte componente da demanda. "Cada vez mais tem um componente de demanda nessa inflação", disse, citando US$ 9 trilhões em políticas fiscais no mundo com a pandemia, cerca de 10% da economia.
"Ao longo desse caminho, houve esse aumento na demanda estrutural de bens, que as pessoas entendiam que era oferta, e depois se viu que era muito mais demanda que oferta, e um tema de energia que depois se somou à guerra", disse Campos Neto.
A expectativa consenso dos economistas, por ora, é que o BC inicie algum corte de juros neste ano, embora algumas casas apostem que a Selic se manterá inalterada em 13,75% até dezembro. Nesta terça-feira, o Ibovespa chegou a subir mais de 3% no início do dia, com a perspectiva de que a inflação mais fraca vista no IPCA — que deve começar a aparecer nas próximas projeções do mercado — possa levar o BC a iniciar o corte nos juros mais cedo. Os juros futuros também operavam em queda após a divulgação do IPCA.
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