Economia

Imprimir dinheiro não é a melhor saída para a crise, diz presidente do BC

Roberto Campos Neto argumentou que a impressão de dinheiro durante a crise do coronavírus pode causar efeitos nos juros e prejudicar a economia

Campos Neto: segundo o presidente do BC, a impressão de dinheiro pode desequilibrar a taxa de juros que é necessária para estimular a economia do país (Amanda Perobelli/Reuters)

Campos Neto: segundo o presidente do BC, a impressão de dinheiro pode desequilibrar a taxa de juros que é necessária para estimular a economia do país (Amanda Perobelli/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 9 de abril de 2020 às 18h44.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que a impressão de dinheiro não é a melhor saída para a crise, mesmo com inflação baixa. Campos Neto deu uma entrevista para o Uol.

- Eu acho que a saída não é por aí. É uma ideia, a gente sempre discute todas as ideias, mas hoje, obviamente tudo pode ser modificado dependendo do que aconteça, mas nós não entendemos que é a melhor saída não.

Campos Neto argumenta que uma impressão dinheiro, mesmo níveis baixos de inflação, podem causar outros efeitos, como para a taxa de juros. De acordo com ele, a impressão de dinheiro pode desequilibrar a taxa de juros que é necessária para estimular a economia do país sem gerar instabilidade na inflação.

Recursos parados nos bancos

No fim de março, o BC anunciou que estava liberando R$ 1,2 trilhão de liquidez, mas Campos Neto afirmou que nem todo esse dinheiro chegou de fato na economia.

- Por exemplo, (depósitos) compulsórios, sim, já foi liberado, R$ 200 bi. Se a gente pegar empréstimos com lastro em letras financeiras, que têm potencial de 670 bi, que começou só recentemente, aqui tem um portfólio de R$ 200 bi identificado.

Campos Neto também comentou sobre o encarecimento do crédito no país. Segundo ele, a análise de risco dos bancos faz com que o custo de financiamentos e empréstimos subam em um momento de crise, quando não há recursos no mercado e há maior risco de inadimplência.

- Por exemplo, você tem um fenômeno de conta de luz atrasada, as empresas estão começando a atrasar conta de luz, atrasa aluguel, atrasa fornecedor. Tudo isso está no modelo do banco e o risco percebido sobe e na hora que o risco percebido sobe, ele paga a mais também - explicou.

O presidente do BC também ressaltou, mais de uma vez, a importância de cumprir os contratos mesmo diante de uma crise. Ele argumenta que se as pessoas pararem de cumprir seus compromissos, a recuperação econômica será muito mais lenta.

- É importante cumprir contratos na economia, não quer dizer que não pode renegociar, às vezes as duas partes entendem que podem negociar, mas se os governos permitirem quebras de contratos, se as grandes empresas começarem uma conversa de querer quebrar contrato, aí a gente vai ter uma recuperação da economia muito mais lenta e muito mais sofrida - disse.

Concentração do sistema

O presidente do BC disse que em uma crise é natural que a concentração bancária aumente. Ele admitiu que as ferramentas que o Banco Central tem à disposição tendem a encorajar essa concentração nesse período, mas ressaltou que a agenda de competição do BC que vigorava antes da crise, vai continuar.

-  Estamos tomando todas as medida s para que isso não aconteça. Principalmente no que tange a continuação dos nossos programas de competição bancária. O open banking segue em curso, o pix vai ser implementado no final do ano, então a gente não está deixando essa agenda paralela morrer e nem atrasar - afirmou.

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