Economia

Grandes momentos da política

O governador Arruda preso em Brasília. A poucos metros, o presidente Lula apresenta sua candidata. Falou-se de tudo na festa petista - menos sobre a corrupção em massa no país

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

Acidade de Brasília acaba de viver um dos seus grandes momentos de 2010, ano em que vai comemorar o seu 50o aniversário e em que vai se encerrar o ciclo de oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a ministra Dilma Rousseff, após longa preparação e muita vitamina fornecida pela máquina pública, foi triunfalmente aclamada como pré-candidata oficial à Presidência da República. A uma curta distância do local do congresso do PT onde se celebrava a festa, a autoridade número 1 da capital, o governador José Roberto Arruda, estava trancafiada numa cela da Polícia Federal, por ordem da Justiça, por seu envolvimento num dos episódios de corrupção mais bem documentados que já se registrou nos anais da criminalidade política brasileira. A coincidência dessas duas realidades poderia parecer uma peça de ficção - uma parábola imaginada para ilustrar o poço escuro no qual tem vivido a vida pública nacional. Mas no Brasil de hoje a realidade supera a ficção, e ninguém parece minimamente incomodado com isso.

A sagração de Dilma foi um episódio importante - afinal, trata-se da largada, por parte das forças que hoje comandam o governo, da corrida que pode lhes dar um terceiro mandato consecutivo na chefia da nação e fazer da ministra a primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil nos 121 anos de história da nossa República. É extraordinário, também, que o governador do Distrito Federal, entre todos os lugares de Brasília nos quais poderia estar naquela hora, estivesse justamente na cadeia. Se uma coisa dessas não é capaz de chamar a atenção no mundo político, o que seria? Mas aí está: a prisão de Arruda, e o quadro de metástase que envolve o governo do DF, onde não se consegue achar alguém com um prontuário razoavelmente limpo para assumir o Poder Executivo local, não causou a mínima impressão no grande evento eleitoral do governo.

Ao longo de todo o congresso do PT, simplesmente não foi feita nenhuma menção ao assunto - nem no discurso de Dilma Rousseff, nem no discurso do presidente Lula, nem em nenhum outro. Falou-se, ali, de todo tipo de coisa considerada importante: o "papel indutor do Estado" na economia, "políticas públicas", "investimentos em todos os níveis", e por aí vai. Mas sobre corrupção, tanto a que estava bem ali ao lado quanto a que está por toda parte, ninguém foi capaz de dizer uma só palavra. Não falou o governo e, obviamente, não falou a oposição - afinal, o governador e a sua turma eram até outro dia estrelas do DEM, um dos grandes pilares oposicionistas deste país. Não faltaram, por parte dos adversários do governo, críticas severas a respeito de quase tudo o que a pré-candidata disse; em relação ao completo silêncio no quesito roubalheira, porém, ambas as partes não poderiam estar mais de acordo. É como se o governador Arruda estivesse preso em outro planeta, e não a um punhado de metros do local do congresso petista - ou, então, como se o assalto permanente ao Erário fosse um detalhe sem interesse algum para o público. A mensagem que governo e oposição passam aos brasileiros, em suma, parece mais do que clara: "Se alguém está esperando que a gente vá fazer alguma coisa a respeito, pode ir tirando o cavalo da chuva".

O episódio Arruda acabará passando, como passaram todos os outros desastres que nos últimos anos vêm reduzindo a zero o respeito devido à vida pública brasileira; como os outros, não deixará nenhuma lição. Nosso mundo político, nessas experiências, aprende justamente o contrário do que deveria. Aprende, por exemplo, que qualquer tentativa, por modesta que seja, de dificultar a ação dos corruptos tem de ser automaticamente destruída. É o que se faz no momento com o projeto "ficha limpa", que, com o apoio de 1,5 milhão de assinaturas, proibiria candidaturas de cidadãos condenados pela Justiça. Nem pensar. O projeto é "autoritário" e "inconstitucional", diz o deputado José Genoino, grande liderança do PT. Tem o apoio em massa dos colegas.

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