Economia

Governo Temer negocia nova pedalada fiscal com o Congresso

Hoje, o gestor público que descumprir a norma é enquadrado no crime de responsabilidade, o que pode levar a um processo de impeachment

Michel Temer: presidente foi satirizado em desfile (Adriano Machado/Reuters)

Michel Temer: presidente foi satirizado em desfile (Adriano Machado/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 18h49.

Última atualização em 5 de janeiro de 2018 às 19h50.

O governo do presidente Michel Temer negocia com o Congresso uma mudança constitucional (PEC) que possibilitará o endividamento para pagar despesas correntes, como os gastos com pessoal. A mudança, se aprovada, acabará com a regra de ouro da responsabilidade fiscal: as operações de crédito federais não podem ser maiores do que as despesas com investimentos.

Atualmente, o gestor público que descumprir a norma é enquadrado no crime de responsabilidade — no caso do presidente, em outras palavras, significa meio caminho para um processo de impeachment.

Com crescimento da dívida pública e baixo investimento, o governo vem encontrando dificuldades para manter em dia os pagamentos da máquina estatal. Em 2017, a regra só não foi descumprida porque o BNDES devolveu 50 bilhões de reais ao Tesouro Nacional. Em 2018, o governo espera contar com a mesma saída, mas, para se precaver, gostaria que a PEC fosse aprovada quanto antes e com validade já para este ano.

Após a notícia correr o mercado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse ao jornal O Globo que Temer tem condições de cumprir a norma. Para ele, o problema mesmo será em 2019, quando um novo governo assumir as cambaleantes contas públicas sem o compromisso de mais devoluções do BNDES. A ideia inicial é que a suspenção da regra de ouro via PEC seja temporária. A proposta em estudo pelo governo é que ela tenha vigência até 2026, mesmo ano em que termina a do Teto de Gastos.

Embora o governo tente dar ar de normalidade, mudanças no meio do jogo nunca são bem vistas. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro emitiu nota nesta sexta-feira em que se diz extremamente preocupada. Segundo ela, a regra de ouro é “um dos pilares para a segurança das contas públicas. E deve permanecer intocável, como verdadeira salvaguarda contra medidas que levem ao descontrole de gastos”.

Para o procurador que denunciou as pedaladas de Dilma Rousseff, Julio Marcelo de Oliveira, mudar a regra de ouro “será um sinal muito claro de que o país está perdendo o controle de seu endividamento e de suas despesas”, disse em entrevista ao site de VEJA.

A economista Monica de Bolle, pesquisadora no Peterson Institute, foi ainda mais direta ao comentar a proposta do governo no Twitter: “Ao contemplar a suspensão da #regradeouro, o governo Temer nos remete à destruição das instituições fiscais promovida pelo governo Dilma. Não há como dourar essa amarga pílula”.

Acompanhe tudo sobre:Dívidas de paísesExame HojeGoverno TemerOrçamento federal

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor