Governo prevê a contratação de 51 mil servidores no Orçamento de 2021
Proibição de contratar novos servidores está em vigor até o fim de 2021, mas reposições decorrentes de vacâncias são permitidas, abrindo brecha jurídica
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de outubro de 2020 às 15h35.
Última atualização em 22 de outubro de 2020 às 15h48.
Na contramão do que havia sido indicado pelo governo, a proposta de Orçamento enviada ao Congresso prevê a contratação de 50.946 servidores em 2021, em todos os Poderes.
O impacto financeiro para repor essas vagas foi estimado em 2,4 bilhões de reais, sendo 2,1 bilhões só no Executivo. A partir de 2022, o custo anualizado para manter essas novas despesas sobe para 4,5 bilhões de reais.
As projeções constam também de nota técnica conjunta das consultorias de Orçamento e Fiscalização do Senado e da Câmara sobre o projeto — que ainda não tem data de votação.
A proibição de contratar novos servidores até o fim de 2021 havia sido incluída na Lei Complementar nº 173, que garantiu um alívio financeiro de 125 bilhões de reais a estados e municípios para o combate à covid-19.
Como contrapartida a essa ajuda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, cobrou o congelamento dos salários até dezembro do próximo ano, com a justificativa de evitar que o dinheiro extra fosse usado para outras finalidades, como reajuste do funcionalismo em pleno ano eleitoral.
Pelo texto da lei, porém, a proibição para contratar novos funcionários vale salvo reposições decorrentes de vacâncias de cargos e contratações temporárias para prestação de serviço militar. Como a legislação não diz em que tempo, ficou uma brecha jurídica.
Promoções de carreiras dos servidores também têm sido tentadas por meio desse artifício. O episódio mais recente envolveu os procuradores federais da Advocacia-Geral da União (AGU). A promoção de 606 procuradores de uma só vez acabou sendo suspensa após a repercussão negativa do anúncio.
Para o economista do Senado Leonardo Ribeiro, a lei foi feita às pressas e deixou brechas. Ele considera elevado o número de novas contratações, comparado à taxa de reposição das aposentadorias que o próprio governo tem projetado, em torno de 26%. "O número está elevado. Não tem transparência no cumprimento da legislação", avalia. Ribeiro defende a regulamentação pelo governo da lei 173 para afastar dúvidas e insegurança jurídica.
Em nota, o Ministério da Economia afirmou que analisará "caso a caso" as solicitações de concursos públicos encaminhadas pelos órgãos à pasta. "Lembramos que o Ministério da Economia apenas autoriza o Orçamento para concurso. O agendamento e a realização do certame cabe a cada órgão", afirmou.
Levantamento do próprio ministério prevê que 110.481 servidores podem se aposentar até 2025. A maior parte dessas aposentadorias (57.142) seria de servidores com nível intermediário, cuja taxa de reposição é cada vez mais baixa.
Gastos totais
O projeto de Orçamento de 2021 prevê 338,4 bilhões de reais para gastos primários com pessoal e encargos sociais. O valor representa um acréscimo de 4,54% em relação ao autorizado para 2020, no valor de 323,7 bilhões de reais. Esse crescimento é superior ao percentual de atualização do limite de despesas primárias previsto no teto de gastos — a regra que impede o crescimento das despesas acima da inflação.
Acrescentando as despesas financeiras (contribuição patronal para o regime próprio de Previdência do servidor), que somam 25,3 bilhões de reais, o gasto total com pessoal em 2021 foi estimado em 363,7 bilhões de reais — 5,36% superior ao total de despesas autorizadas para 2020.
As duas consultorias do Congresso apontam na nota técnica que só em 2023 pode-se esperar um desempenho fiscal comparável ao de 2018, com o rombo das contas do governo central reduzido a 1,75% do PIB — a previsão é que em 2021 o déficit seja equivalente a 3% de toda a riqueza produzida no país.