Sede da ONU em Genebra: membros do governo interino vão a todas as salas da OIT defender impeachment e Temer (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2016 às 10h28.
Genebra - O governo de Michel Temer passou a ser alvo de repetidos ataques durante as reuniões ministeriais da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que ocorrem nesta semana na sede da ONU em Genebra.
O Itamaraty, visivelmente constrangido, foi obrigado a montar uma estratégia para responder a cada um dos ataques.
Uma recepção organizada pelo Brasil com a presença do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, também foi boicotada por parte dos sindicatos em protesto contra o chefe da pasta.
A OIT realiza a cada ano sua reunião, com a presença de governos, sindicatos e empresários de todo o mundo.
Nogueira ficará até sexta-feira em encontros na Suíça e parte de seu trabalho será o de convencer as entidades de que o governo está agindo e é legítimo.
Mas seus assistentes não disfarçam a preocupação com a repercussão dos protestos diante de centenas de delegações estrangeiros.
Um dos atos foi o boicote a um encontro social marcado para esta segunda-feira, 6. A recepção é organizada tradicionalmente e a cada ano pela missão diplomática do Brasil na ONU para receber todos os participantes nacionais na conferência da OIT.
Além de Nogueira, estavam presentes ministros do Tribunal Superior do Trabalho, representantes dos empregadores, deputados e diplomatas.
Já os representantes da CUT e outros sindicatos que, nos últimos anos sempre estiveram na recepção, optaram por organizar no mesmo momento uma manifestação em Genebra contra o governo.
Com representantes de delegações de 15 países, o encontro foi marcado por denúncias e o apelo por uma mobilização entre os sindicatos para agir contra a diplomacia brasileira.
Ao explicar a situação brasileira, o representante da CUT, Antonio Lisboa, alertou os sindicatos estrangeiros que o novo governo vai promover mudanças na previdência social e reformas trabalhistas.
Dentro do prédio da ONU, onde ocorre a conferência com 3 mil pessoas, os ataques também se repetiram. Hoje, na plenária das Nações Unidas, o sindicalista grego George Mavrikos, presidente da Federação Mundial de Sindicatos, acusou a delegação brasileira de "fascista".
A diplomacia brasileira pediu direito de resposta. Mas, quando foi falar, passou a ser vaiada. "Eles foram calados. É assim que temos de agir", disse depois Valentin Pacho, representante do mesmo sindicato.
Na sexta-feira, diplomatas brasileiros já tinha sido hostilizados numa das reuniões da OIT em Genebra por sindicatos latino-americanos. Hoje, uma delegação de trabalhadores da Venezuela acusou Temer de ter promovido "um golpe de Estado" numa das reuniões da OIT.
Preocupados com a repercussão internacional, os diplomatas brasileiros receberam a orientação de não deixar nenhum ataque sem resposta.
A embaixadora Regina Dunlop colocou um representante brasileiro em cada sala para garantir que nenhuma brecha fosse dada.
Em todas as ocasiões, o Itamaraty pediu a palavra e leu dois parágrafos indicando que a Constituição estava sendo respeitada e que não existia o golpe denunciado.
Nos corredores, porém, diplomatas e a equipe do Ministério do Trabalho não escondiam o temor de "manchar a imagem" diante da comunidade internacional às vésperas dos Jogos Olímpicos.
Deputados presentes ao evento também admitiram que mesmo o encontro do ministro com o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, que ocorre nesta terça-feira, 7, foi agendado somente depois de uma insistência por parte da missão do Brasil em Genebra.
Ryder, porém, esteve no Brasil há cerca de um mês e fez uma visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao chegar a Genebra, o ministro do Trabalho tentou mostrar que o governo Temer vai manter todos seus laços com a entidade. "O Brasil tem sido parceiro da OIT e reconhece os protocolos, em especial daqueles que o Brasil fez parte da construção", disse Nogueira.
"A OIT tem um papel fundamental na pacificação das relações do trabalho no mundo e aquilo que o Brasil tem feito no combate ao trabalho escravo e infantil, e o esforço na pacificação nas relações do trabalho, é um exemplo ao mundo", completou.
Nogueira também tentou desfazer a ideia de que o plano do governo é o de rever direitos trabalhistas, como alegam os sindicatos.
O ministro apontou que sua meta é a de manter o diálogo com os sindicatos e que as reformas na área trabalhista e previdenciária serão feitas em contato com eles.
"Tudo está sendo construído com os trabalhadores. Os trabalhadores não serão surpreendidos", disse ao jornal O Estado de S. Paulo.
Nogueira, porém, preferiu não responder se as medidas propostas serão apresentadas antes da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Isso é algo para o presidente Temer. Eu estou cuidando da pasta do Trabalho", explicou.
"O principal desafio é inverter essa tendência do desemprego. Infelizmente, estamos com uma taxa que é o dobro da média mundial", disse.
"Mas no primeiro trimestre, estamos confiantes de que haverá uma inversão e que iremos retomar a empregabilidade", afirmou.
O IBGE aponta que 11,4 milhões de brasileiros estão sem emprego, uma taxa de 11,2%. Segundo a OIT, a média mundial de desemprego é de cerca de 6%.
"Para reduzir o desemprego, precisaremos de um somatório de um conjunto de fatores: economia, a expectativa da confiança dos investidores, a fidelidade dos contratos. O Brasil está procurando aprimorar tudo isso", disse Nogueira.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.