Governo determina despachos de térmicas mais caras
O movimento mostra cautela enquanto os reservatórios das hidrelétricas ainda estão relativamente baixos
Reuters
Publicado em 3 de novembro de 2017 às 18h02.
São Paulo/Brasília/Rio de Janeiro - O Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE) decidiu nesta sexta-feira, em reunião extraordinária, manter a operação de térmicas mais caras, apesar de uma melhora na expectativa de chuvas em novembro, que reduziu os preços da energia elétrica no curto prazo (PLD).
O movimento mostra cautela enquanto os reservatórios das hidrelétricas ainda estão relativamente baixos e a temporada de chuvas está se intensificando.
O órgão governamental CMSE decidiu manter o despacho das usinas térmicas com Custo Variável Unitário (CVU) de até 702,50 reais/MWh para a semana de 4 de novembro a 10 de novembro de 2017, apesar de o Custo Marginal de Operação (CMO) para o mesmo período ter caído mais de 40 por cento ante o período anterior, para 479,88 reais/MWh, com a previsão mais otimista de chuvas.
Dessa forma, o CMSE determinou o chamado "despacho fora da ordem de mérito". Na semana passada, quando isso ainda não acontecia, as térmicas com CVU de até 702,50 reais/MWh estavam ligadas, mas o CMO --calculado de acordo com a chuva esperada nas hidrelétricas-- era de 823,16 reais/MWh.
O CMO caiu acentuadamente nesta semana depois de uma previsão de chuvas mais intensas nas áreas dos reservatórios das usinas hídricas, principal fonte de geração elétrica do país.
A região Sudeste, que responde pela maior parte da geração hidrelétrica, deverá receber um volume de chuvas equivalente a 98 por cento da média histórica em novembro, ante 72 por cento na previsão da semana anterior.
"A decisão (de despachar fora da ordem de mérito) decorre do fato dos Custos Marginais de Operação (CMO) para todos os subsistemas... terem sofrido acentuada redução devido ao início do período chuvoso, sem que essa tendência de melhora nas afluências tenha se refletido em ganhos significativos nos níveis de energia armazenada dos reservatórios em todos os subsistemas brasileiros até o momento", afirmou o Ministério de Minas e Energia, em nota.
Com as previsões mais otimistas para chuvas, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) para o mercado de curto prazo de energia elétrica saiu do valor máximo e caiu cerca de 9 por cento ante semana anterior nos submercados Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte, sendo fixado em 483,21 reais/MWh.
"Os modelos identificaram uma grande quantidade de água chegando ao sistema e os modelos matemáticos internalizaram isso como sinal para desligar as térmicas, mas por absoluta prudência optamos por mantê-las ligadas na semana entrante, pois não é hora de ficar de brincadeira e sim tratar esse tema de forma madura", disse uma fonte do governo à Reuters, na condição de anonimato.
O Sudeste, que concentra quase 70 por cento da capacidade de armazenamento das hidrelétricas, está hoje com apenas 17,7 por cento do volume nos lagos das usinas.
Uma segunda fonte do governo, que também pediu para não ser identificada, disse que o tempo em que térmicas mais caras ficarão ligadas vai depender da continuidade da estação chuvosa.
"É difícil, é arriscado fazer prognóstico neste momento de início da estação. A previsão para novembro é boa. Vamos torcer para se manter assim", disse.
O final de outubro e os primeiros dias de novembro tiveram significativa melhora no nível de chuva na região das hidrelétricas, mas o movimento ainda não será suficiente para acabar com um cenário de crise de armazenamento nos reservatórios dessas usinas, disse uma executiva da consultoria meteorológica Climatempo, nesta semana.
O cenário hídrico desfavorável já tem se refletido nas contas de luz --a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou na semana passada um aumento nas cobranças das bandeiras tarifárias, que elevam o custo da energia em momentos de escassez de oferta.
O aumento nas cobranças das bandeiras tarifárias, no entanto, não tem sido suficiente para cobrir o déficit das distribuidoras gerado pelos custos maiores que os cobrados em suas tarifas, em função das térmicas mais caras.
Por conta disso, a diretoria da Aneel aprovou na última terça-feira mudanças nas regras de um fundo setorial, a Conta de Energia de Reserva, que poderá agora destinar recursos para apoiar em caráter "cautelar" o fluxo de caixa das distribuidoras de eletricidade.