Yellen: a 1ª mulher a presidir o Fed deixa o banco com elogios de economistas e uma ficha limpa (Hannah McKay/Reuters)
AFP
Publicado em 2 de fevereiro de 2018 às 19h27.
Desemprego em seu nível mais baixo, inflação sob controle e crescimento respeitável: Janet Yellen, a primeira mulher a presidir o Federal Reserve (Fed), deixa o banco central americano com elogios de economistas e uma ficha limpa, embora Donald Trump tenha preferido substituí-la por um republicano.
Aos 71 anos, Yellen é uma democrata indicada em 2014 por Barack Obama. Neste sábado, ela passa o posto a Jerome Powell, de 64, proveniente do mercado financeiro, indicado por Trump.
"Seu trabalho foi espetacular, o melhor que um chefe do banco central pode fazer", comentou à AFP David Wessel, do centro de análises Brookings, um dos muitos economistas a elogiar o mandato de Yellen.
Até o presidente Donald Trump, que não respeitou a tradição de renovar o dirigente do Fed para um segundo mandato, reconheceu suas "impressionantes qualidades".
A satisfação vem acompanhada de precaução pelo que foi vivido com Alan Greenspan, ex-presidente do banco central que teve sua reputação aparentemente brilhante destruída pela crise.
Assim que deixou o Fed, após 19 anos na liderança, estourou a bolha imobiliária de 2008, a pior recessão dos Estados Unidos desde o pós-guerra. Greenspan foi muito criticado desde então por ter sido negligente com os excessos do mundo financeiro.
"A reputação de Yellen vai piorar se, em um ou dois anos, houver uma recessão profunda", alertou Wessel.
Mas, por ora, a condução da política monetária nas mãos de Yellen só rendeu lhe louros. A taxa de desemprego que era de 6,7% na sua chegada caiu a 4,1%. O pleno emprego não afetou a inflação, que se manteve baixo de 2%, e a economia americana está entrando em um novo ano de recuperação.
A estabilidade dos preços e a promoção do emprego são a dupla função do banco central.
Herdeira de uma situação inédita, na qual, para estimular a atividade econômica, as taxas de juros foram mantidas perto do zero por quase oito anos e o banco central injetou milhões de dólares no sistema financeiro, Yellen corrigiu essa trajetória com habilidade.
Em quatro anos, o Fed aumentou as taxas cinco vezes "sem prejudicar os mercados financeiros", afirmou o especialista da Brookings, onde Yellen continuará sua carreira como pesquisadora, de acordo com John Allen, presidente do centro de estudos.
Ela também começou a reduzir o volume de ativos do Fed, cujo saldo está sobrecarregado pelas compras maciças de títulos do Tesouro e outros títulos hipotecários realizadas no âmbito da política de flexibilidade monetária.
Entretanto, não faltam críticas a Yellen. À esquerda, que indicou que a recuperação econômica ainda parece uma recessão para os americanos, ela é repreendida por ter aumentado desnecessariamente os juros, ampliando o custo do crédito para os consumidores. Já a direita desaprova sua lentidão para aumentar as taxas, temendo o ressurgimento da inflação.
Suas repetidas advertências sobre o aumento da desigualdade lhe renderam críticas de legisladores republicanos, que acusaram Yellen de "meter o nariz em assuntos que não correspondem a ela".
Neste campo, Powell, que não é um economista de formação, mas um banqueiro de negócios que conhece bem os mercados financeiros, terá alguma vantagem ante os legisladores. "Ele provavelmente vai falar melhor às pessoas no Congresso", garantiu Wessel.