Para aumentar sua relevância no comércio internacional, o Brasil precisa mudar de foco. Em vez de se preocupar apenas em negociar acordos, é preciso melhorar a oferta e a qualidade de nossos produtos e usar a tecnologia para aumentar a competitividade da indústria nacional. A opinião é de um especialista na matéria: o embaixador Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad, o órgão da ONU responsável por comércio e desenvolvimento. Ricupero deixa em meados do ano que vem o cargo que ocupava desde 1995. Baseado em Genebra, ele esteve no Brasil no fim de agosto para preparar uma reunião regional da Unctad que vai discutir a importância da tecnologia da informação para os países em desenvolvimento. Num almoço promovido pela Câmara-e.net, órgão que reúne empresas de base tecnológica, Ricupero falou a EXAME.
ESQUEÇA AS DISPUTAS COMERCIAIS
"O Brasil tem barreiras comerciais, é claro, mas o maior problema é diversificar nossa oferta. Se conseguíssemos uma liberalização geral, será que teríamos vantagens de longo prazo? Não acredito. Precisamos diminuir os custos de transação, ser mais competitivos. Um dos caminhos é usar tecnologia para ganhar competitividade. O ex-presidente da Costa Rica Jose Maria Figueres me disse que o fator decisivo para a Intel instalar sua fábrica no país foi a agilidade da alfândega. A Costa Rica tem um sistema que permite a liberação do produto em apenas 2 horas, sem necessidade de abrir os contêineres. Cingapura tem planos de baixar o tempo de transação das exportações para 7 minutos. Os acordos comerciais na Oraganização Mundial do Comércio (OMC) são importantes, sem dúvida, mas ganha o jogo do comércio mundial quem é competitivo."
MAIS INOVAÇÃO
"Temos pouca participação no comércio mundial de produtos dinâmicos, ou seja, aqueles cuja demanda cresce num ritmo pelo menos uma vez superior à taxa média do comércio mundial. Os principais produtos dinâmicos são eletroeletrônicos, computadores e química fina. O Brasil só tem presença expressiva em produtos como roupas íntimas e bebidas não-alcoólicas. E produtos dinâmicos não precisam ser sofisticados tecnologicamente. É uma questão de inovação. O Quênia, por exemplo, é um dos grandes exportadores mundiais de legumes embalados e flores. Isso é inovação."
FALTA HUMILDADE
"O órgão que dirijo tem uma série de softwares e guias para ajudar países em desenvolvimento a aumentar a competitividade. O Brasil não usa esses serviços. Falta humildade por aqui. Hoje, por exemplo, os maiores interessados nos nossos trabalhos são os indianos. Quase todos os nossos parceiros são asiáticos."