Ernesto Araújo: encontro vai ser realizado à pedido dos europeus, que querem conhecer o novo interlocutor brasileiro (Andre Coelho/Bloomberg)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de janeiro de 2019 às 19h32.
Davos - O governo brasileiro vai retomar o diálogo comercial com a Europa. Nesta semana, em Davos, o chanceler Ernesto Araujo vai aproveitar a presença da Comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmström, para debater a agenda bilateral. Na pauta, porém, não estará apenas a ideia de expandir o comércio. Mas também o potencial de crise aberto diante da decisão de Bruxelas de impor sobretaxas ao aço brasileiro.
O encontro vai ser realizado à pedido dos europeus, que querem conhecer o novo interlocutor brasileiro e, acima de tudo, saber se ainda existe interesse em um acordo entre Mercosul e UE.
Bruxelas não disfarçou a preocupação com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições brasileiras e tentou acelerar a conclusão de um acordo entre Mercosul e UE antes do final do governo de Michel Temer. Mas o projeto fracassou, inclusive diante da resistência da França.
Ao jornal "O Estado de S. Paulo", diplomatas europeus não esconderam que estão "curiosos" para tentar entender qual será o posicionamento do Brasil nas negociações, principalmente diante dos sinais de flexibilização do Mercosul.
Já no início de 2019, Bruxelas ainda decidiu ampliar as barreiras aos produtos siderúrgicos de todo o mundo, em medidas que acabaram atingindo o Brasil. O governo, agora, quer negociar para tentar retirar pelo menos parte das medidas que afetam suas exportações.
Além da UE, a agenda brasileira em Davos prevê encontros entre o presidente Jair Bolsonaro e parceiros comerciais. Pela primeira vez desde a prisão Cesare Battisti na Bolívia, Bolsonaro e o governo da Itália vão se reunir. O encontro vai ocorrer no dia 23, quarta-feira, às margens do Fórum.
Fontes em Roma confirmaram ao jornal que os italianos querem abrir um "novo capítulo" na relação bilateral. Bolsonaro estará com o primeiro-ministro, Giuseppe Conte que, no dia da prisão de Battisti, telefonou para negociar com o brasileiro uma deportação direta do condenado, sem passar pelo Brasil. A imprensa italiana chegou a tratar a presença de Bolsonaro em Davos como de um "superstar".
Outro encontro bilateral de Bolsonaro no dia 23 será com o presidente da Suíça, Ueli Maurer, que lidera o partido de direita no país alpino. Berna já indicou que quer aproveitar a chegada do novo presidente brasileiro para falar em uma estratégia para ampliar o comércio e investimentos. Maurer é do Partido do Povo Suíço que, há poucos anos, criou uma polêmica internacional ao fazer uma publicidade sugerindo que as ovelhas brancas chutassem para fora da Suíça as ovelhas negras.
O encontro tem sido alvo de debates, já que partidos políticos de centro e esquerda querem garantias de que Maurer também tratará de temas como meio ambiente, democracia e direitos humanos com Bolsonaro.
O presidente brasileiro também tem um encontro fechado com o primeiro-ministro do Japão, Shiunzu Abe.