Economia põe em dúvida repasse de lucro das estatais
Parcelas dos ganhos das estatais repassadas ao Tesouro Nacional enfrentam uma forte pressão para cumprir seu papel
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2012 às 11h54.
Brasília – Consideradas uns dos principais instrumentos do governo para compensar a queda de arrecadação, as parcelas dos lucros das estatais repassadas ao Tesouro Nacional enfrentam uma forte pressão para cumprir esse papel. A desaceleração da economia no primeiro semestre e resultados negativos em empresas como a Petrobras, que registrou o primeiro prejuízo trimestral em dez anos, põem em dúvida a capacidade de os dividendos das estatais garantirem o equilíbrio das contas públicas em 2012.
Recentemente, o governo elevou em R$ 3 bilhões – de R$ 23,5 bilhões para R$ 26,5 bilhões – a estimativa de pagamento de dividendos de estatais em 2012. Esse dinheiro ajudará a compensar a queda de R$ 13,3 bilhões esperada na arrecadação federal de impostos em relação ao valor originalmente projetado no orçamento. Especialistas, no entanto, questionam se essa previsão é factível.
De janeiro a junho, o Tesouro Nacional recebeu R$ 7,956 bilhões em dividendos, o que significa que o governo teria de requisitar cerca de R$ 8 bilhões de lucros das estatais no segundo semestre para alcançar a estimativa. Para o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, isso só será possível se as estatais puderem pagar dividendos acumulados não repassados em outros anos. “Em tese, o governo tem como tirar mais resultados com base em dividendos acumulados”, disse.
Para Montero, o recente prejuízo da Petrobras e as perspectivas de diminuição do lucro do Banco do Brasil indicam que o governo deve apelar para outras empresas. “Tenho a impressão de que o grosso [dos dividendos] virá do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], mas para saber se o governo conseguirá levantar todo o valor estimado, é necessário esperar os resultados das estatais”, declarou.
A política de distribuição dos dividendos é definida em assembleia de acionistas, que decide que parcela do lucro deve ser reinvestida na própria empresa e que proporção é distribuída aos acionistas. Principal acionista das estatais federais, o Tesouro Nacional pode abrir mão desses recursos em momentos de expansão da economia e exigi-los em momentos de queda na arrecadação. Esse procedimento, no entanto, foi usado em 2009 e 2010, e, segundo especialistas, não se sabe se as estatais ainda têm fôlego para repassar mais dividendos.
O economista-chefe da Sulamérica Investimentos, Newton Rosa, acredita que, em um ambiente de queda de receitas e de gastos que não diminuem, os dividendos tornaram-se essenciais para cumprir o superávit primário – economia para pagar os juros da dívida pública. Neste ano, o Governo Central, composto pelo Tesouro Nacional, pela Previdência Social e pelo Banco Central, deve economizar R$ 97 bilhões. Com a crise atual e o crescimento dos gastos públicos, ele questiona se o governo conseguirá cumprir a meta cheia.
“Estamos em um quadro excepcional, em que o mundo atravessa uma crise muito grande. Como o Brasil está em uma situação fiscal muito melhor que a maioria dos países, temos espaço para não cumprir a meta cheia este ano, desde que o governo reafirme o compromisso com a política fiscal saudável nos próximos anos”, disse Rosa.
Montero também indaga se o governo deveria requisitar mais dividendos apenas para tentar cumprir a meta de superávit primário. “Receitas extraordinárias como os dividendos ajudam a alcançar a meta, mas têm pouco impacto sobre a demanda porque não representam o que o governo, de fato, conseguiu economizar. Não sei até que ponto vale usar manobras contábeis para insistir na meta cheia”, declarou.