Economia

Economia global pode estar mais perto da recessão

Economistas começam a avaliar os fatores que provocariam uma recessão. O temor é focado principalmente no comércio.

BCE: desta vez, os bancos centrais podem não ser poderosos o suficiente, já que os juros já estão baixos. (Kai Pfaffenbach/Reuters)

BCE: desta vez, os bancos centrais podem não ser poderosos o suficiente, já que os juros já estão baixos. (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 7 de agosto de 2019 às 12h20.

A escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China pode levar a economia mundial à sua primeira recessão em uma década, e investidores avaliam que políticos e bancos centrais precisam agir rapidamente para evitar esse cenário.

Nos EUA, o risco de recessão é "muito maior do que o necessário e muito maior do que há dois meses", disse em entrevista à Bloomberg Television Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA e consultor econômico da Casa Branca durante a última crise. "Muitas vezes você brinca com fogo e nada de desagradável acontece, mas, se fizer muito isso, vai acabar se queimando."

Summers, que leciona na Universidade Harvard, ainda vê uma chance menor que 50/50 de que os EUA entrem em recessão nos próximos 12 meses. Investidores são muito mais pessimistas: um segmento da curva de juros acompanhado de perto, a diferença entre as notas de 10 e de 3 meses, mostra a maior inversão desde 2007, indicando apostas em desaquecimento prolongado.

O banco central da Nova Zelândia surpreendeu investidores na quarta-feira ao cortar a taxa básica de juros em 50 pontos-base, o dobro da redução esperada, o que provocou uma forte queda do kiwi, como também é chamado o dólar neozelandês. A Tailândia também surpreendeu e reduziu os juros em 25 pontos-base. O banco central da Índia baixou a taxa básica em 35 pontos-base, um ritmo também inesperado.

Embora a escassez de mão de obra global e a mudança dos bancos centrais para uma política de afrouxamento monetário forneçam certa proteção, economistas começam a avaliar os fatores que provocariam uma recessão. O temor é focado principalmente no comércio.

Em um possível cenário, o presidente dos EUA, Donald Trump, continuaria com sua mais recente ameaça de impor tarifas de 10% sobre mais US$ 300 bilhões em produtos chineses, provocando uma retaliação do presidente chinês Xi Jinping. Embora o custo direto dessas tarifas seja provavelmente pequeno, é a incerteza criada por uma nova escalada da guerra comercial que poderia pesar sobre investimentos, contratações e, por fim, consumo.

Economistas do Morgan Stanley projetam que, se os EUA impuserem tarifas de 25% sobre todas as importações chinesas por quatro a seis meses e a China retaliar, é provável que ocorra uma recessão econômica global dentro de três trimestres. As tensões também se estendem além dos EUA e da China para incluir o Japão e a Coreia do Sul, bem como a futura relação do Reino Unido com a União Europeia.

Tendo acabado de resolver as consequências das últimas recessões, os bancos centrais voltam a acionar o modo de resgate. Na semana passada, o Federal Reserve dos EUA cortou os juros pela primeira vez desde 2008, e as expectativas são de que repita a dose no próximo mês. Investidores também precificam mais cortes até o fim do ano. Isso apesar de o presidente do Fed, Jerome Powell, ter sinalizado de que este é um ajuste de meio de ciclo, e não um afrouxamento pronunciado.

Mas, desta vez, os bancos centrais podem não ser poderosos o suficiente, já que os juros já estão baixos, e outras medidas podem não compensar as consequências dos problemas causados pela guerra comercial. Investidores consultados recentemente pelo Bank of America identificaram a impotência da política monetária como sua maior preocupação.

Acompanhe tudo sobre:BloombergChinaComércio exteriorEstados Unidos (EUA)Guerras comerciaisPIB

Mais de Economia

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor

Opinião: nem as SAFs escapam da reforma tributária

Lula diz que governo e Congresso não gostam de cortes, mas que medidas são importantes