Economia

E agora? China anuncia menor crescimento desde 1990

A segunda maior economia do mundo cresceu 6,4% no quarto trimestre e 6,6% no ano. Em 2017, a China havia crescido 6,8%

Porto na China: guerra comercial com EUA afeta perspectivas para crescimento do país (China Stringer Network/Reuters)

Porto na China: guerra comercial com EUA afeta perspectivas para crescimento do país (China Stringer Network/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2019 às 06h38.

Última atualização em 21 de janeiro de 2019 às 11h41.

A segunda-feira será dia de digerir os dados do PIB chinês divulgados na madrugada, reforçando as previsões de que, em 2018, o país teve o menor crescimento econômico desde 1990. A segunda maior economia do mundo cresceu 6,4% no quarto trimestre e 6,6% no ano. Em 2017, a China havia crescido 6,8%. Analistas consultados pela agência Reuters previam expansão de 6,3% em 2019. 

Os dados oficiais colocam a China de volta no caminho da desaceleração econômica vivida desde 2008. Na década, além do crescimento registrado em 2017, o país só melhorou a taxa de crescimento econômico em relação ao ano anterior em uma oportunidade: 2010 (10,6%).

A redução no ritmo de crescimento está dentro das prévias fornecidas pelo próprio governo e é natural para um país que há três décadas puxa o crescimento da economia global (cerca de um terço da expansão veio da China). Ainda assim, os números reforçam a necessidade de mudança nas políticas econômicas chinesas, e servem como novo lembrete de que as disputas comerciais com os Estados Unidos devem, sim, afetar a economia global no curto prazo. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional revisou para baixo a previsão de crescimento global tanto para 2018 quanto para 2019, de 3,9% para 3,7%.

Para evitar dúvidas sobre a sustentabilidade de seu projeto econômico, o governo do presidente Xi Jinping, deve acelerar um plano de estímulo, como já fez no passado. O risco é aumentar ainda mais a montanha de débito no país e reforçar a artificialidade de crescimento em setores como a construção civil, com milhares de apartamentos vazios por falta de demanda.

O governo também deve seguir estimulando o consumo interno, parte de um plano recente para mudar o foco do crescimento chinês da exportação para uma economia mais diversificada. Segundo a Reuters, dados divulgados nesta segunda-feira mostram que números como investimentos e vendas no varejos recuaram, levando o consumo para as menores taxas em 15 anos.

Os números desta segunda-feira também devem aumentar a pressão para que a China chegue a um acordo com os Estados Unidos para evitar o início de uma guerra comercial generalizada. Os dois países acertaram uma trégua até março.

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O Escritório Nacional de Estatísticas (ONE) divulgou os resultados em entrevista coletiva realizada nesta segunda-feira em Pequim. O diretor do órgão, Ning Jizhe, disse que a queda de 0,2 pontos percentuais do PIB em relação a 2017 era “algo esperado” devido ao “complexo entorno doméstico e internacional”.

Um dos principais dados divulgados pelo ONE é o avanço do consumo como impulsor do crescimento econômico, um dos pilares da mudança de modelo econômico proposta pelo presidente do país, Xi Jinping. O índice passou de 58,8% em 2017 para 76,2% em 2018.

“O consumo apoia o crescimento sólido, estável e firme, ocorrendo devido a uma maior disponibilidade de crédito para os cidadãos”, explicou Ning na entrevista coletiva.

O terceiro setor foi o que mais avançou no país ao longo do ano passado, com um crescimento de 7,6%. No entanto, o avanço é 0,4 ponto percentual menor do que em 2017. O segundo setor registrou expansão de 5,8%, e o primário 3,5%, de acordo com o ONE.

Perguntado sobre o impacto da guerra comercial com os Estados Unidos, o diretor da ONE reconheceu que as tensões afetaram a economia chinesa, especialmente no último trimestre.

“A disputa está prejudicando as duas economias, mas conseguimos manter a nossa estável e operacional, fazendo progressos”, disse.

Ning também falou sobre os esforços do governo para reduzir o excesso de capacidade da indústria no país, mas não quis aprofundar a questão. “Continuamos registrando avanços e cumprimos o objetivo antes do tempo”, ressaltou o diretor da ONE.

No entanto, contradizendo a fala de Ning, a produção de carvão cresceu 5,2% no ano passado, o maior avanço registrado desde 2015.

A consultoria Capital Economics lançou dúvidas sobre a credibilidade dos resultados divulgados pelo ONE.

“Os dados oficiais do PIB foram estáveis demais nos últimos anos para serem um guia confiável do crescimento econômico da China”, afirmou a empresa em comunicado.

Por outro lado, um analista da Julian Evans-Pritchard destacou que a economia chinesa conseguiu se sustentar melhor do que as expectativas, apesar de ter um resultado frágil em relação ao incrível crescimento registrado pelo país na década de 1990.

O ONE também divulgou dados demográficos da China em 2018. A população do país ganhou mais 5,3 milhões de pessoas, totalizando 1,395 bilhão. E 59,6% delas vivem atualmente em zonas urbanas.

Apesar do crescimento, o número de crianças nascidas no país foi 11,6% menor do que em 2017. Por outro lado, 17,9% da população chinesa têm mais de 60 anos.

O governo da China só divulgará as metas de crescimento da econômica depois da sessão da Assembleia Nacional Popular em março. Analistas, porém, indicam que o PIB do país deve se expandir entre 6% e 6,3% em 2019, com um período de instabilidade no primeiro semestre que será seguido de mais tranquilidade no segundo.

“Temos toda confiança de poder manter um rendimento econômico estável dentro de um nível razoável em 2019”, disse Ning, descartando qualquer quadro de deflação no país neste ano.

“O entorno exterior é mais complexo e perigoso em 2019. Há desafios, mas também oportunidades. Temos que colocar as coisas em perspectiva: a economia mundial se desacelera, mas a China continua sendo o principal contribuidor para o crescimento global. Nossa economia é resistente e tem os meios de superar as dificuldades”, analisou o diretor do ONE.

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