Economia

Desonerações como do IPI vão perdendo força, diz economista

“Esse tipo de instrumento para a situação de hoje é pouco eficaz”, disse Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria


	Carros: para o economista-chefe da Votorantim Corretora, a manutenção no IPI mostra a fragilidade da retomada econômica e é um tipo de incentivo que tem que ser dado
 (Marcello Casal Jr./Abr)

Carros: para o economista-chefe da Votorantim Corretora, a manutenção no IPI mostra a fragilidade da retomada econômica e é um tipo de incentivo que tem que ser dado (Marcello Casal Jr./Abr)

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Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2013 às 06h12.

São Paulo – No sábado, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que as alíquotas do IPI de carros e caminhões – que aumentariam gradualmente em abril e julho– serão mantidas até o final do ano. Para Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, esse tipo de desoneração vai tendo cada vez menos efeito.   

“Esse tipo de recurso pode funcionar em um momento de crise, como 2008, para incentivar minimamente o consumo, mas isso vai perdendo força. Esse tipo de instrumento para a situação de hoje é pouco eficaz”, disse Alessandra. 

A medida deve ter um leve impacto no IPCA, segundo relatório de macroeconomia do Itaú. “Nosso cenário previa que o aumento de IPI para veículos em abril e em julho, se ocorresse, adicionaria 0,14 ponto percentual no IPCA desse ano. O resultado é uma simulação e não significa uma revisão em nossa previsão de inflação corrente”, afirma o relatório. 

A projeção de inflação da Tendências também não será alterada, segundo Alessandra Ribeiro, responsável pelo acompanhamento de atividade econômica, inflação e política monetária da Consultoria. "Do ponto de vista de inflação, com a volta escalonada (do IPI) ocorreria um impacto de 0,17 p.p. no IPCA do ano, mas não vamos alterar a projeção do IPCA anual (que está em 5,6%) principalmente porque o que imaginávamos de impacto de desoneração da cesta básica para março não aconteceu, e dada a inflação de alimentos pior do que imaginamos, fica elas por elas”, afirmou. Do ponto de vista de atividade também não seria nada significativo a ponto de alterar a projeção de PIB, segundo Alessandra. 

Para Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, a manutenção no IPI mostra a fragilidade da retomada econômica e é um tipo de incentivo que tem que ser dado. “O governo está na direção correta, mas a combinação faz com que o resultado prático seja de estímulos temporários”, disse.  Para Padovani, hoje, no Brasil, há uma combinação de mercado de crédito cauteloso com insegurança do investidor – o que faz com que os incentivos dados tenham dificuldade de alcançar plenamente a economia. 


Para Felipe Leroy, professor no Ibmec/MG, o governo não tinha outra opção. “Não há outra alternativa, ou faz isso por meio de politica fiscal ou pelo Banco Central. Não há como estimular no curto prazo com outro tipo de política”, disse. Mas ele também acredita que, agora, o impacto será menor do que o obtido com as outras alterações do IPI. “Já gastou um pouco”, disse. 

Curto prazo

 “Vemos o governo muito preso em medidas de curto prazo porque está buscando resultado de curto prazo, reage a dados de curto prazo, (por exemplo, o dado de indústria que será divulgado amanhã). Está longe de ser uma coisa ideal, de estimular economia no médio e longo prazo”, disse Alessandra.

“Em países com gestão macroeconômica e microeconômica mais séria não vemos (a adoção de medidas como corte de IPI)”, disse Alessandra. O uso desse tipo de recurso, no entanto, não é algo que só acontece no Brasil. “Esse tipo de medida acontece em países como Argentina e Venezuela”, disse. 

Um ativismo muito grande por parte do governo não ajuda o ambiente de negócios, mas esse não é o caso, segundo Padovani, para quem esse tipo de incentivo de curto prazo é bem vindo mas pode contar com uma melhor comunicação por parte do governo.  “O governo pode avançar muito na comunicação explicando melhor sua agenda”, disse.

Na semana passada, na África do Sul, em encontro dos Brics, Dilma havia afirmado que não acreditava em políticas de combate à inflação que olhassem a redução do crescimento econômico. Mais tarde, o presidente do Banco Central foi acionado para desfazer o mal-entendido e afirmou que não há tolerância com a inflação. 

O episódio mostra que os investidores estão bastante sensíveis a qualquer comunicação do governo, segundo Padovani. “Estamos vivendo momentos atípicos, então qualquer fala do governo gera muito impacto”, afirmou.

“(a manutenção do IPI) é um sinal positivo, mas não o suficiente para mudar a percepção do investidor”, disse Keith Martin, consultor da Aon Brasil. Para Martin, a manutenção indica que o governo reconhece que precisa manter ou tomar novas medidas p estimular a economia, por outro lado, o investidor quer certeza ao longo prazo - e essa manutenção do IPI reduzido até o final do ano não se encaixa nisso. “É um sinal positivo, mas não suficiente para mudar o comportamento dos investidores”, disse. 

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