Economia

4 sinais que Argentina e Venezuela foram separadas ao nascer

Relatório do Citi aponta questões políticas e econômicas que os dois países tem em comum


	Jogo de futebol entre Argentina e Venezuela: a Argentina vem usando a Venezuela como modelo na política nos últimos dez anos, segundo relatório do Citi
 (Getty Images)

Jogo de futebol entre Argentina e Venezuela: a Argentina vem usando a Venezuela como modelo na política nos últimos dez anos, segundo relatório do Citi (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo – Argentina e Venezuela tem algo em comum além da língua espanhola. Relatório de pesquisa econômica do Citi assinado por Joaquin A Cottani e equipe aponta quatro sinais de que os países foram, na verdade, “separados no nascimento”.

Do ponto de vista da dívida pública, Argentina e Venezuela enfrentam o mesmo problema: poderiam ser países solventes mas, em decorrência do tamanho do déficit fiscal e do nível de reservas estrangeiras, entre outros, sua solvência não é tão sólida, segundo o Citi. 

O banco também aponta que itens como reservas internacionais e financiamento do Banco Central ao governo e ao setor financeiro doméstico, que em economias normais são o último recurso, na Argentina e na Venezuela são o primeiro recurso – porque os outros são limitados ou não existem. E as semelhanças não param por aí:

Política

Na política os países também são parecidos. A Venezuela tem o que o Citi chama de autocracia democraticamente eleita – agora na expectativa de escolha de um novo presidente - enquanto na Argentina, o governo é um pouco menos autocrático, segundo o Citi, há o mesmo populismo. “(a Argentina) Vem usando a Venezuela como modelo nos últimos dez anos”, afirma o relatório. 

Os dois países também tem reformas que precisam ser implementadas para encerrar a estagflação (alta inflação e recessão). Para evitar a inadimplência externa, o Citi sugere que os governos dos dois países precisam implementar reformas – como o aperto fiscal e monetário enquanto desvalorizam suas moedas. “Mas, dada a dinâmica política dos dois países, isso não deve acontecer por agora”, afirma o relatório.

Situação fiscal

Em oito anos, a participação da despesa primária do governo  argentino no PIB subiu 19 pontos percentuais, chegando a 44,6% em 2012. Ao mesmo tempo, o equilíbrio fiscal, incluindo juros passou de uma taxa de 3,8% de superávit consolidado do PIB para um déficit de 4,4%.

E na Venezuela não é muito diferente. Entre 2006 e 2012 a despesa primária do governo aumentou 18,6 pontos percentuais, chegando a 45% do PIB. O déficit fiscal, no mesmo período, passou de 1,5% do PIB para 11%.


A estimativa do Citi para o crescimento real do PIB argentino em 2013 e 2014 é de 3,0% em cada ano. Para o Brasil a projeção é um pouco melhor em 2012, de 3,1% - e salta para 4,0% em 2014. Para a Venezuela a projeção de crescimento é de 1,0% em 2013 e 2,0% em 2014.

Política monetária

A política monetária é dominada pela situação fiscal expansionista, segundo o Citi. Na Argentina, o montante da dívida do governo nas mãos do Banco Central aumentou de 25% do total de ativos para 55% (entre 2010 e 2012). Novamente, algo muito semelhante ocorreu na Venezuela. O financiamento do governo foi responsável por cerca de 65% da expansão monetária ao longo dos últimos três anos.

Os agregados monetários estão se expandindo rapidamente nos dois países, segundo o Citi. No entanto, a inflação é muito menor em ambos os casos. “A razão pela qual os agregados monetários estão crescendo a um ritmo mais elevado do que os preços é o controle cambial, que explica por que, apesar das expectativas elevadas de inflação e desvalorização da moeda, a demanda por moeda está crescendo, ao invés de cair”, afirma o Citi.

Contas externas

“Uma forma mais genuína (menos inflacionária) de expansão monetária é a acumulação de reservas externas”, diz o Citi, destacando a importância disso na Argentina entre 2002 e 2007, quando o câmbio real estava subvalorizado graças a uma combinação de repressão a inflação e intervenção do banco central no mercado de câmbio. Com a apreciação do peso argentino em termos efetivos, as reservas internacionais começaram a cair em relação ao PIB – e hoje estão um pouco abaixo de 10% do PIB, o que é um nível relativamente baixo na comparação com os outros países da América Latina, segundo o Citi.

De novo, a Venezuela enfrenta problema semelhante. No mesmo intervalo de tempo, as reservas do Banco Central da Venezuela caíram de 16,1% do PIB para 6,7%. “Apesar de que parte da queda pode ser atribuída a um desvio das reservas para fundos especiais do governo usados para gastos sociais, mesmo que estes fundos sejam adicionados às reservas, o estoque total representou 11% do PIB em 2012 representando uma redução de 5 pontos percentuais desde 2007”, explica o Citi.

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