Economia

Cúpula das Américas começa com incerteza sobre guerra comercial

As novas tarifas anunciadas pelos EUA criam um cenário de instabilidade econômica na América Latina

Cúpula das Américas: países latinos se preocupam com impacto das novas tarifas americanas em seus economias (Ivan Alvarado/Reuters)

Cúpula das Américas: países latinos se preocupam com impacto das novas tarifas americanas em seus economias (Ivan Alvarado/Reuters)

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EFE

Publicado em 13 de abril de 2018 às 11h29.

Última atualização em 26 de abril de 2018 às 18h41.

Buenos Aires - A América Latina se prepara para a oitava Cúpula das Américas com uma recuperação comercial cujo futuro é incerto devido às políticas protecionistas impulsionadas pelos Estados Unidos, que podem gerar uma guerra comercial global.

A decisão anunciada há um mês pelo presidente americano, Donald Trump, de impor tarifas extraordinárias às importações americanas de aço e alumínio despertou controvérsia mundial.

Essa imposição tarifária é tema de discussão em fóruns multilaterais, e na própria cúpula de Lima - onde estarão reunidos chefes de Estado da América, mas da qual Trump desistiu de participar - parece que não será exceção.

Na América Latina, a medida afetaria de modo direto principalmente Brasil, Argentina e México, mas estes ficaram excluídos temporariamente. O primeiro, junto com o Canadá, porque o assunto é parte da renegociação do Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), e os outros dois por decisão de Trump, ainda submissa a conversas bilaterais em curso.

"Os principais fornecedores de aço e alumínio latino-americanos foram excluídos, mas é preciso estar mais preocupado com a eventual consolidação de uma guerra comercial em nível mundial que afetaria a região", disse à Agência Efe Marcelo Elizondo, diretor da empresa de consultoria Desarrollo de Negocios Internacionales-DNI.

Por enquanto, Washington e Pequim - os polos em disputa pelo aço - não passaram da fase de mostrar os dentes, mas, se as negociações não prosperarem, os países de América Latina, que em sua maioria têm Estados Unidos ou China como principal parceiro comercial, poderiam se ver afetados por uma desaceleração do comércio global.

"Há uma luz amarela. Se isto se agravar, pode afetar a região, mas ainda não ocorreu", declarou Elizondo.

O cenário incerto encontra a América Latina em um momento de recuperação em matéria de trocas comerciais, após o ciclo de recessão de 2012-2016.

Nos seus últimos relatórios, tanto a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe como o Banco Interamericano de Desenvolvimento indicam que em 2017 houve uma melhora no valor das exportações regionais.

Para Dante Sica, diretor da consultora Abeceb e ex-secretário de Indústria e Comércio da Argentina, hoje o cenário é "favorável" à região.

"Temos pela frente dois anos de crescimento forte e harmonizado em nível mundial. O comércio global cresce acima do PIB mundial, com preços historicamente altos nos produtos que América Latina exporta e que vão estar sustentados", disse Sica à Efe.

Isso, no entanto, não reduz a incerteza, "porque nas guerras comerciais se sabe por onde se entra, mas não como se sai" e, se finalmente começar um conflito global, o impacto será "incerto", uma vez que, segundo o especialista, há países da região que podem ver-se favorecidos e outros prejudicados.

Por exemplo, destacou Sica, se a China deixar de comprar certos produtos dos Estados Unidos, alguns países latino-americanos - principalmente os exportadores de produtos primários - podem fornecê-los, mas os países com plataformas industriais mais desenvolvidas "deveriam se cuidar mais" diante das ofertas chinesas de manufaturas.

Elizondo concorda com o fato de que, "se os Estados Unidos decidirem se retrair, a América Latina ativaria ainda mais seus vínculos com outros mercados, em particular os asiáticos".

O discurso protecionista de Trump, que chegou à Casa Branca no início de 2017, já levou blocos como o Mercosul e a Aliança do Pacífico a reavivar negociações comerciais com outras regiões e países e abrir novas conversações para expandir seus horizontes comerciais.

Por sua vez, a China move suas próprias fichas e acelera seus investimentos na América Latina, fundamentalmente em minerais, alimentos e energia com a intenção de exportar da região para abastecer seu próprio mercado.

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