Economia

Crise automotiva no Brasil ainda pode piorar, diz PSA

“Se preparou uma festa para 5.000 pessoas e chegaram 500”, diz Ana Theresa Borsari, diretora geral das marcas Peugeot, Citroën e DS no Brasil

Fábrica da Peugeot-Citroën, no Rio de Janeiro (Germano Lüders/Exame)

Fábrica da Peugeot-Citroën, no Rio de Janeiro (Germano Lüders/Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 11 de julho de 2018 às 14h48.

Última atualização em 11 de julho de 2018 às 15h01.

Com estruturas pesadas e decisões que são tomadas olhando 10 anos à frente, a indústria automotiva brasileira ainda não conseguiu deixar para trás o pior da crise dos últimos anos. Essa é a opinião de Ana Theresa Borsari, diretora geral das marcas Peugeot, Citroën e DS no Brasil.

Em 2011 se imaginava um mercado automotivo para 2018 a 5,5 milhões de carros, um avanço de mais de 50% em relação às 3,63 milhões de unidades vendidas na época.

Mas mesmo com o crescimento acelerado das vendas nos primeiros meses desse ano em meio a queda dos juros e maior oferta de crédito, a indústria ainda não se recuperou do tombo causado por uma das piores recessões da história, e o número não deve passar de 2,4 milhões.

“Se preparou uma festa para 5.000 pessoas e chegaram 500”, disse ela em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo. “Os impactos desse superdimensionamento estão na cadeia inteira, desde a concepção da autopeça até os distribuidores”.

A greve dos caminhoneiros ocorrida em maio só piorou a situação, afetando o fornecimento de autopeças e o comportamento dos clientes, que “sumiram” -- apesar de, na prática, os 10 dias de paralisação terem mudado muito pouco no cenário brasileiro.

A greve, entretanto, ajudou a derrubar as projeções de crescimento desse ano, que agora estão em 1,53%, segundo a última pesquisa Focus, comparada a uma expectativa de 2,7% em meados de maio. Há economistas ainda mais pessimistas: na semana passada, o Itaú reduziu sua projeção para o PIB para 1,3%.

Dados referentes a junho divulgados pela Anfavea mostram que o setor encerrou o primeiro semestre do ano com crescimento de 14% nas vendas em relação ao mesmo período de 2017, um ritmo que vem perdendo força em relação às altas acumuladas ao redor de 20% nos meses anteriores.

Ana Theresa é uma das poucas mulheres em posição de destaque no setor automotivo. Levantamento realizado pela AutomotiveBusiness mostra que a participação das mulheres no setor no Brasil aumentou de 15% em 2013 para 17% em 2017, a maioria (46%) em produção e manufatura.

No topo da gestão das montadoras, onde está Ana Theresa, a presença feminina ainda é baixa, com apenas quatro mulheres ocupando posições de presidência ou vice-presidência e 38 como diretoras, o que equivale a 4,4% do universo total de mulheres nessas empresas. No exterior, um dos exemplos mais visíveis é Mary Barra, chairman da General Motors.

Para ela, a sua experiência em gestão de crise contribuiu para sua ascensão em uma indústria predominantemente masculina. Ela iniciou a carreira no grupo francês em 1995, passando por várias áreas no Brasil e seguindo para a Europa em 2010, onde ajudou a coordenar a reação da empresa aos efeitos da crise financeira de 2008 em países como Turquia e Grécia, o que incluiu a unificação das marcas do grupo, processo semelhante ao que ela conduz hoje no Brasil. Na Eslovênia, essa otimização de estrutura ajudou a triplicar os resultados em 2 anos e meio, disse a executiva.

Apesar de a expectativa de que o segundo semestre seja mais complicado, com as eleições impulsionando as incertezas e a volatilidade, a PSA não deve alterar seus planos por enquanto.

O tamanho relativamente pequeno da PSA no país ajuda a empresa a reagir mais rapidamente a mudanças de cenário, segundo a executiva. A PSA tem 1,88% do mercado brasileiro, de acordo com dados de junho da Anfavea.

“Adotamos um cenário um pouco mais conservador em relação ao crescimento que faz com que, agora, esse cenário que antes era conservador passa a ser otimista”, disse ela.

 

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