Economia

Copom decide manter os juros em 6,5%

Foi a terceira manutenção seguida da Selic após 12 cortes seguidos e taxa segue em seu menor nível histórico

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central (Lula Marques/Bloomberg/Bloomberg)

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central (Lula Marques/Bloomberg/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 1 de agosto de 2018 às 18h00.

Última atualização em 1 de agosto de 2018 às 18h28.

São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou no fim de tarde desta quarta-feira (01) a sua decisão de deixar inalterada a taxa de juros em 6,5%.

Foi a terceira manutenção seguida da Selic após 12 cortes seguidos. A taxa segue assim em seu menor patamar desde que passou a ser usada como referência em 1996.

"O cenário básico contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual do que aquele esperado antes da paralisação [dos caminhoneiros]; O cenário externo apresentou certa acomodação no período recente, mas segue mais desafiador", diz o comunicado.

A decisão, por unanimidade, já era esperada pelo mercado financeiro: todas as instituições consultadas pelo Projeções Broadcast previam estabilidade.

Analistas avaliam que não foram vistas mudanças significativas no cenário de recuperação lenta da atividade e inflação próxima do centro da meta, que é de 4,5% para 2018 e 4,25% para 2019.

O cenário do Copom é que 2018 termine com inflação em 4,2%, juros estacionados em 6,5% e câmbio em R$ 3,70.

Já 2019 se encerraria com inflação levemente mais baixa (3,8%), juros levemente mais altos (8%) e câmbio em R$ 3,75.

Mais detalhes serão conhecidos com a publicação da ata do encontro na próxima terça-feira (07).

A próxima reunião do Copom, a última antes do primeiro turno da eleição presidencial, será nos dias nos dias 18 e 19 de setembro.

Apesar da manutenção, o Brasil voltou a subir (da 7ª para a 6ª posição) no ranking dos maiores juros reais do planeta.

Veja o comunicado completo:

"O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,50% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

Indicadores recentes da atividade econômica refletem os efeitos da paralisação no setor de transporte de cargas, mas há evidências de recuperação subsequente. O cenário básico contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual do que aquele esperado antes da paralisação;

O cenário externo apresentou certa acomodação no período recente, mas segue mais desafiador. Os principais riscos estão associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas e a incertezas referentes ao comércio global. O apetite ao risco em relação a economias emergentes manteve-se relativamente estável, em nível aquém do observado no início do ano;

A inflação do mês de junho refletiu os efeitos altistas significativos da paralisação no setor de transporte de cargas e de outros ajustes de preços relativos. Dados recentes corroboram a visão de que esses efeitos devem ser temporários. As medidas de inflação subjacente ainda seguem em níveis baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2018 e 2019 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,1%. As expectativas para 2020 e 2021 situam-se em torno de 4,0%; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 4,2% para 2018 e de 3,8% para 2019. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2018 em 6,50% a.a. e 2019 em 8,0% a.a. e de taxa de câmbio que termina 2018 em R$/US$ 3,70 e 2019 nesse mesmo patamar. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,75*, as projeções situam-se em torno de 4,2% para 2018 e 4,1% para 2019. 

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) a possível propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação passada e o nível de ociosidade ainda elevado podem produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.  Esse risco se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes. O Comitê julga que esses últimos riscos permanecem em níveis mais elevados.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.  O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

O Copom entende que deve pautar sua atuação com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica. Choques que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva (i.e., na propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque). É por meio desses efeitos secundários que esses choques podem afetar as projeções e expectativas de inflação e alterar o balanço de riscos. Esses efeitos podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas. Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária.

O Comitê considera que os efeitos dos choques recentes sobre a inflação estão se revelando temporários, mas é importante acompanhar ao longo do tempo o cenário básico e seus riscos e avaliar o possível impacto mais perene de choques sobre a inflação (i.e., seus efeitos secundários).

Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom."

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCopomInflaçãoJurosSelic

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto