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Copom dá credibilidade ao governo; mercado espera mais

Taxa de juros mais alta, metas de inflação ajustadas, reforma previdenciária, fiscal e tributária na lista de prioridades para 2003. Ao que parece, a primeira fase, ou o primeiro desafio, do novo governo - que era ganhar credibilidade junto ao mercado - acabou. Pode até ser que alguns analistas critiquem a alta dos juros, a […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h15.

Taxa de juros mais alta, metas de inflação ajustadas, reforma previdenciária, fiscal e tributária na lista de prioridades para 2003. Ao que parece, a primeira fase, ou o primeiro desafio, do novo governo - que era ganhar credibilidade junto ao mercado - acabou. Pode até ser que alguns analistas critiquem a alta dos juros, a extensão do prazo de cumprimento da meta de inflação ou duvide da capacidade política do Partido dos Trabalhadores no Congresso. Mas o fato é que a direção da política econômica está definida - e é para o lado que o mercado queria. A questão agora é: descontando os efeitos distorcidos causados pelo período de "lua-de-mel", o que sobra de fato para o governo resolver?

Muita coisa. "Lula está seguindo à risca a cartilha ortodoxa da política econômica, mas isso só descarta um cenário de caos imediato", afirma Celso Toledo, da consultoria paulistana MCM. "A sensação é de ventos a favor, com câmbio e risco-país em queda", diz ele. O problema é que é só sensação. Para Toledo, o retrato do país de hoje está longe de ser empolgante.

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Para começar, o dólar continua alto. Está muito aquém dos quatro reais alcançados no final do ano passado, mas a atual média de 3,50 reais por dólar é ruim, na opinião de Toledo. "Só estivemos nesse patamar em três ocasiões, fora o período eleitoral de 2002: durante a crise do México, depois com a forte desvalorização cambial de 1999 e em setembro de 2001, depois dos ataques terroristas contra os Estados Unidos", diz ele.

Em seu valor atual - e com chances de subir ainda mais com a perspectiva de guerra entre EUA e Iraque -, a taxa de câmbio prejudica a missão do governo Lula de controlar a inflação sem prejudicar o crescimento econômico do país. Primeiro, porque ainda existem repasses de preços a serem feitos. "Deixamos de repassar 20% das perdas cambias de 2002", diz Paulo Saad, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de produtos Eletroeletrônicos (Eletros). Saad ressalta que isso não significa que os 20% serão repassados imediatamente e de uma vez só, mas a indústria ainda tem a ganhar.

Em segundo lugar, o câmbio depreciado faz com que o país empobreça internacionalmente. Com o recente afrouxamento do preço da moeda americana, os preços de bens comercializáveis no mercado externo começaram a ceder, mas ainda não é o suficiente para garantir margem de lucro. "Ou o dólar cai, ou o preço dos bens terá de subir", afirma Toledo.

A taxa de câmbio e a herança inflacionária de 2002 podem azedar a retomada do crescimento pelo novo governo, mas o que falta mesmo para dar uma medida mais exata da "recuperação" da economia é o nível da atividade industrial. "A produtividade precisa aumentar para garantir a sustentabilidade do crescimento da economia", afirma Toledo, da MCM Consultoria. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) acredita que 2002 registrou um crescimento da atividade de 1%. Para 2003, a expectativa é de 2%.

Os números definitivos, tanto da CNI quanto do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) serão divulgados apenas no início de fevereiro. Por enquanto, a sensação de bons ventos citada pelo analista da MCM também é sentida na demanda. Houve aquecimento da economia no final do ano, como sempre acontece, mas a tendência agora é a desaceleração. A CNI também espera que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha crescido 1,6% em 2002 e aumente mais 2% em 2003. É pouco se comparado com a expectativa do governo, de 2,8% este ano. Conclusão: sem ganhos de produtividade que sejam sentidos na economia real, qualquer decisão tomada no ar condicionado dos gabinetes de Brasília _ mesmo a mais correta do ponto de vista técnico _ pode ficar apenas no terreno da boas intenções.

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