O ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto (Paulo Whitaker/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de agosto de 2015 às 19h15.
São Paulo – O ex-ministro Delfim Netto se disse “espantado” com as declarações da presidente Dilma Rousseff ontem de que demorou para reconhecer a crise.
“Até 2013 você não tinha grandes problemas, mesmo nas contas, mas 2014 foi uma coisa deliberada – destruímos as finanças para obter a reeleição”, disse na manhã desta quarta-feira em São Paulo.
Era uma referência às declarações, feitas recentemente pela presidente para três jornais, de que demorou para perceber a gravidade da crise e que poderia ter feito uma inflexão antes.
“Ontem ela me lembrou o velho Nietzsche: as piores mentiras são as que contamos para nós mesmos. E somos vítimas disso”, disse Delfim.
A declaração do ex-ministro da Fazenda entre 1967 e 1973 foi feita durante o seminário “Repensando o Desenvolvimento Produtivo no Brasil”, na escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.
Também estavam presentes o Luis Carlos Bresser Pereira, ministro dos governos Sarney e FHC, e Roberto Mangabeira Unger, atual ministro de Assuntos Estratégicos.
Em sua apresentação, Mangabeira disse que o ajuste fiscal não era uma forma de conquistar confiança financeira e sim de depender menos dela.
Delfim também disse que “não se pode queixar da Dilma, uma pessoa inteligente" e que "a primeira função de um governo é continuar governo para poder corrigir os erros que cometeu ou fazer novos erros”.
Ele também colocou o problema fiscal em perspectiva histórica: teria começado com o golpe da maioridade em 1840 e a promessa, já na época, de controlar despesas - descumprida por todos os governos desde então, sem excessão.
Apesar disso, Delfim não se mostrou pessimista sobre a trajetória brasileira:
“Com todos os seus problemas e depois de passar por 20 ou 30 crises como a atual, o Brasil chegou a 2015 como 7ª economia do mundo. O resultado final não é tão ruim quanto parece”.