Exame Logo

Compra de armas preocupa dentro e fora da Venezuela

Caracas - Uma nova compra de armamento russo por parte da Venezuela provoca receio e críticas por causa do alto custo - quase cinco bilhões de dólares - e pelo sigilo que ronda a aquisição, que o presidente Hugo Chávez diz que só tem objetivos de defesa. A futura transação, que foi anunciada pelo primeiro-ministro […]

Primeiro-ministro da Rússia Vladimir Putin (esquerda) e presidente venezuelano Hugo Chávez se encontram em Caracas, na Venezuela (.)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

Caracas - Uma nova compra de armamento russo por parte da Venezuela provoca receio e críticas por causa do alto custo - quase cinco bilhões de dólares - e pelo sigilo que ronda a aquisição, que o presidente Hugo Chávez diz que só tem objetivos de defesa.

A futura transação, que foi anunciada pelo primeiro-ministro russo Vladimir Putin em Moscou horas depois de uma visita a Caracas, na qual o tema não foi mencionado, fará com que as compras de armamento russo pela Venezuela superem os 9,4 bilhões de dólares nos últimos anos.

Veja também

"Estamos caindo numa dependência da Rússia e eliminando qualquer competição leal entre vários fornecedores potenciais para definir que armas são compradas, para que são compradas e como são adquiridas", observou Raúl Salazar, que foi, entre 1999 e 2000, primeiro-ministro da Defesa de Chávez.

Independente da estratégia militar, os analistas consideram que o gasto é exagerado, num momento em que a Venezuela tem outras prioridades a resolver, como a recessão econômica, a crescente insegurança ou a crise de energia que implica severos racionamentos.

"Boa parte do país se pergunta como o presidente vai gastar tudo isso quando na Venezuela faltam as coisas mais básicas como água e luz", opina a analista internacional Maruja Tarre.

"Estas armas não são para lutar contra o nosso maior problema, que é a insegurança. Ninguém vê utilidade neste momento e a notícia causou um escândalo na Venezuela. O governo sequer se atreveu a anunciar", acrescenta.

Segundo fontes russas, este novo pedido venezuelano incluirá três submarinos diesel de tipo Varshavianka, 92 tanques T-72, dezenas de blindados BMP-3, 10 helicópteros Mi-28N, aviões de patrulha, lança-mísseis de bocas múltiplas Smerch e sistemas de defesa aérea, entre outros.


"Isso faz parte da corrida armamentista da Venezuela, que já levou o país a gastar 16 bilhões de dólares nos últimos três anos e quebra com a tradição pacífica deste país", destaca o analista Carlos Romero.

"Chávez quer mostrar que tem um papel central no mapa internacional, mas não está comprando nem armamento sofisticado", enfatiza ainda.

A Rússia, principal fornecedor de armas para a Venezuela, vendeu até o momento para o país sul-americano equpamentos de defesa no valor de 4,4 bilhões de dólares, fundamentalmente aviões Sukhoi-30, helicópteros e fuzis.

Além disso, Moscou concedeu um empréstimo de 2,2 bilhões de dólares no ano passado para a compra de mais armamentos. Esta cifra estaria incluída nos 5 bilhões de dólares desta nova compra.

Mas as declarações de Putin não foram totalmente precias e na Venezuela o Parlamento aprovou um recente convênio de confidencialidade sobre a cooperação técnico-militar com a Rússia. Até agora, Chávez foi o único a se pronunciar vagamente sobre esta nova compra.

Por sua parte, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, denunciou na terça-feira o risco de uma eventual corrida armamentista regional imensamente perigosa.

"A Colômbia é um país que enfrenta o desafio da violência interna, mas que não participa de corridas armamentistas", disse Uribe em coletiva de imprensa no porto de Cartagena (1.100 km ao noroeste de Bogotá), em resposta a uma pergunta sobre esse anúncio de Moscou.

"Acreditamos que devemos cumprir o dever de enfrentar o terrorismo, mas também acreditamos que a corrida armamentista é imensamente perigosa", completou.

Diante do anúncio de Putin, o governo americano afirmou na segunda-feira que sua principal preocupação é que "esses equipamentos parem em otros lugares da região".

Estados Unidos e Colômbia, seu principal aliado na América Latina, acusaram várias vezes a Venezuela de apoiar a guerrilha marxista das Farc, algo que foi negado com insistência pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

O governo venezuelano considera que o novo acordo de cooperação, que permite ao exército americano usar bases colombianas, representa um risco para seu país, que divide mais de 2.000 km de fronteira com a Colômbia.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaÁsiaEuropaPolíticaRússiaVenezuela

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame