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João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de fevereiro de 2014 às 12h03.
São Paulo - Que a China vai desacelerar, todo mundo sabe - a dúvida é quando e quanto.
De acordo com uma nova nota do Société Générale, um dos maiores bancos da Europa, o risco de uma freada brusca está sendo subestimado pelos investidores.
O cenário mais provável continua sendo de um crescimento de 6,9% em 2014 e 6,7% em 2015 - nada tão distante assim dos 7,7% de 2013.
No pior dos casos, seria 3,8% já este ano, com dois trimestres seguidos de contração. Nesse caso, a taxa de expansão mundial, prevista em 3,7% este ano pelo FMI, seria cortada em 1,5 ponto percentual para 2,2%.
Clima
O pessimismo está aumentando: do início para o final de 2013, dobrou a porcentagem de investidores consultados que veem o país crescendo menos de 3,5% já este ano, apesar deles ainda serem uma pequena minoria (8%).
A maior mudança foi em outra questão: enquanto no ano passado 100% dos investidores americanos acreditavam que o governo chinês reagiria com mais estímulos em caso de desaceleração, agora apenas 18% mantém essa expectativa.
Raízes
O crescimento chinês atual é baseado no aumento dos investimentos financiado com emissão da dívida – que foi de 150% para 210% do PIB entre o final de 2008 e de 2012.
O Partido Comunista reconhece o problema e já anunciou reformas para conduzir a economia para outro modelo mais baseado no consumo.
O problema é que essa transição precisa ser muito bem calibrada. Se o governo atacar de forma vigorosa o sistema de crédito paralelo e permitir alguns calotes, a situação pode fugir do controle e a confiança pode se deteriorar rapidamente.
Consequências
Com o pouso forçado, o preço do ouro poderia aumentar em um primeiro momento – já que ele é um dos ativos mais seguros – mas cair em seguida por causa da queda de demanda chinesa.
Uma desaceleração bruta da China seria uma péssima notícia para os emergentes que dependem do país para comprar suas commodities: o preço de metais básicos seria cortado pela metade.
O Brasil seria bastante afetado: a China é o nosso maior parceiro comercial e compra 20% das nossas exportações (veja outros números da relação).
O país também sofreria as consequências pela taxa de câmbio. A freada brusca faria o dólar se valorizar cerca de 10%, o que derrubaria ainda mais a cotação das moedas dos emergentes.
Só o aumento da incerteza poderia comer 1 ponto percentual do crescimento global, segundo o banco.
Mas nem todos os efeitos seriam negativos: uma queda de cerca de 30% nos preços do petróleo liberaria algum do dinheiro economizado para o consumo das famílias.