Como reverter o colapso do crédito e reanimar a economia?
Melhorar as contas públicas e confiança não serão suficientes para resolver a crise; relatório traz propostas para atacar restrição ao crédito
João Pedro Caleiro
Publicado em 21 de dezembro de 2016 às 12h59.
Última atualização em 21 de dezembro de 2016 às 14h01.
São Paulo – A agenda de reformas do governo está avançando, mas a perspectiva de recuperação está caindo.
A projeção para crescimento em 2017 foi de 1% para 0,58% nas últimas 4 semanas, de acordo com o Boletim Focus.
Pelo jeito, desatar o nó das contas públicas e melhorar a confiança são condições necessárias, mas não suficientes para resolver a crise.
É o que diz um novo relatório do SIMPI (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo) assinado por Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Crise do crédito
“O governo está diagnosticando a crise como se fosse estritamente fiscal, e não é”, diz ele. O outro grande problema seria a violenta restrição do crédito.
Um levantamento recente da gestora Rio Bravo Investimentos mostrou que nos últimos 12 meses, cerca de R$ 1 trilhão em créditos bancários deixou de circular na economia.
O total voltou para níveis de 2012, o que representa uma queda de 25% em relação ao que estaria circulando se a economia estivesse em níveis “normais”.
Como as famílias e empresas estão muito endividadas, os bancos não emprestam por medo da inadimplência e cortam os financiamentos.
Mas sem capital de giro, estas mesmas famílias e empresas que normalmente estariam solventes acabam quebrando.
“Em situações de deterioração da confiança, a atuação de cada banco, tentando melhorar a sua condição, piora a do conjunto”, diz Troster.
Propostas
Para mudar esse círculo vicioso, ele propões, entre outras coisas, eliminar o IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros) para operações de crédito, corrigir distorções do crédito tributário e zerar os compulsórios.
“Os compulsórios já não fazem parte dos instrumentos de política monetária em quase nenhum país do mundo, e aqui correspondem a cerca da metade do crédito livre de pessoa jurídica. Falta liquidez na economia e ao mesmo tempo, há quase 400 bilhões de reais bloqueados no Banco Central do Brasil”, aponta.
Ele também fala em tributar aplicações e vedar remunerações com prazos curtos, assim como promover uma reestruturação geral das dívidas.
O arcabouço de propostas, segundo Troster, depende apenas do Executivo, não demandaria novos recursos, aumentaria a arrecadação e não prejudicaria o sistema financeiro, pois causaria aumento da adimplência.
Governo
O governo parece ter reconhecido que precisa avançar em agendas além do ajuste fiscal e anunciou recentemente um pacote de medidas microeconômicas.
Uma delas é a regularização de passivos tributários por pessoas físicas e jurídicas para dívidas vencidas até 30 de novembro, uma forma de aumentar seu fôlego financeiro.
Também estão na lista tentativas de reduzir o spread bancário com cadastros únicos e de acelerar o pagamento eletrônico para comerciantes, facilitando seu capital de giro.
Medidas anunciadas ontem pelo Banco Central vão na mesma direção, diminuindo por exemplo a complexidade operacional, alíquotas e prazos dos compulsórios - mas não o seu nível.