Economia

Com PIX, Banco Central impulsiona democratização financeira no Brasil

Sistema de pagamentos instantâneos tem potencial de acelerar a bancarização, desestimular pagamentos via TED e DOC e impactar as relações cotidianas

Pagamentos: a partir de novembro será possível pagar boletos (de quaisquer natureza) 24 horas por dia, sete dias da semana, sem ter que esperar o tempo de transação como ocorre hoje (Germano Lüders/Exame)

Pagamentos: a partir de novembro será possível pagar boletos (de quaisquer natureza) 24 horas por dia, sete dias da semana, sem ter que esperar o tempo de transação como ocorre hoje (Germano Lüders/Exame)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 24 de julho de 2020 às 13h13.

Última atualização em 24 de julho de 2020 às 15h47.

O Banco Central brasileiro planeja para os próximos anos uma ampla agenda de implementação de novos tecnologias no mercado financeiro que pode impulsionar a esperada (e necessária) democratização financeira.

Os quatro pilares da agenda BC# são “inclusão, competitividade, transparência e educação financeira”. Essa transformação começa a ser colocada em prática com o lançamento do primeiro programa, o sistema de pagamentos instantâneos (PIX), em novembro.

De forma geral, o PIX vai funcionar como um facilitador e acelerador de pagamentos, onde o comprador poderá enviar diretamente o valor do serviço ou produto para o vendedor em questão de segundos. Isso será possível porque as transferências irão ocorrer sem a necessidade de intermediários. O serviço, no entanto, só funcionará para pagamentos no débito.

Com isso, será possível pagar boletos (de qualquer natureza) 24 horas por dia, sete dias da semana, sem ter que esperar o tempo de transação como ocorre hoje. Tudo será autorizado por um aplicativo no celular, o que também ajuda a desestimular o uso de dinheiro físico, bem como reduzir as tarifas bancárias.

"Quando o PIX estiver em plena operação, haverá um inevitável questionamento às atuais tarifas de TED, DOC ou boleto, que custam na casa de oito, 10 reais ou acima disso. Basta ter em mente que uma operação desse tipo vai ser tarifado em apenas 1 centavo para cada lote de 10 transações", explica Carlos Flávio de Souza, Diretor de Inovação da Flexdoc, fintech especializada em automação de fluxos de negócios.

Com a implementação do PIX, somada às outras medidas tecnológicas desenhadas pelo BC, entre elas a regularização até o final de 2021 do open banking (que vai ampliar a liberdade de escolha de serviços e a agilidade no atendimento ao cliente, aproximando os bancos tradicionais das fintechs), a perspectiva é que o Brasil amplie sua eficiência econômica.

Uma pesquisa realizada pela Visa em 2017, que buscou entender os benefícios dos pagamentos digitais, projetou que se toda a população da capital de São Paulo alcançasse o mesmo nível de uso de pagamentos eletrônicos dos 10% com maior utilização, o benefício líquido anual para a cidade poderia chegar a 11 bilhões de dólares. Em 15 anos, isso traria um aumento de 0,23% para o PIB paulista anualmente e a criação de 106 mil novos postos de empregos formais.

A pesquisa mostra uma série de vantagens para todas as partes envolvidas nesse processo. Do lado dos consumidores, há um ganho de tempo em não precisar ir ao banco, economia com juros de mora, redução de crimes já que o dinheiro físico é escasso, aumento do controle financeiro da população e análises mais precisas para a criação de perfis de crédito.

Do lado do empresário, a tendência é que com uma maior digitalização haja redução no número de roubos e furtos, economia em tempo de trabalho, possibilidade de aumento das vendas em canais digitais e melhores dados para aprimorar os serviços prestados aos clientes.

Já para o governo, o potencial envolve aumento da arrecadação pela captura da economia informal e economia na justiça penal pela redução dos crimes.

"É todo um mundo que se abre. Com o PIX e open banking é possível que apareçam novas oportunidades de negócios por conta da imensidão de dados que podem surgir. Os dados são a grande commodity da década e, somado ao cadastro positivo por exemplo, podem inclusive desaguar em melhorias no mercado de crédito brasileiro", diz Arthur Mota, economista da Exame Research.

Inclusão financeira

Até o final do ano passado, o Brasil tinha uma média de 45 milhões de pessoas desbancarizadas, ou seja, brasileiros que não movimentam a conta bancária há mais de seis meses ou que optaram por não ter conta em banco.

Esse grupo, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, movimenta anualmente no país mais de 800 bilhões de reais.

Com a popularização do PIX, especialistas projetam um aumento significativo no número de pessoas com contas em bancos, principalmente as digitais, já que elas podem ser abertas via celular.

"Um sistema de pagamento que funciona 24/7, em questão de segundos, vai incentivar pessoas que por algum motivo não têm necessidade de ter uma conta bancária", afirma Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da FEBRABAN.

Com essa medida, será possível formalizar essas transações que hoje são informais e feitas por meio de dinheiro físico. Se a agenda do BC# conseguir se capilarizar em todo o país, o Brasil tem o potencial de ficar mais uma vez na vanguarda das transformações digitais para o setor financeiro, assim como foi com a implementação de chips em cartões e biometria bancária.

(Com Alex Halpern, do Insper)

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralPIXTED

Mais de Economia

Contas externas têm saldo negativo de US$ 5,88 bilhões em outubro

Mais energia nuclear para garantir a transição energética

Boletim Focus: mercado reduz para 4,63% expectativa de inflação para 2024

Lula se reúne hoje com Haddad para receber redação final do pacote de corte de gastos