Economia

Câmbio e crise favorecem compras e fusões no setor elétrico

A presença estrangeira tem crescido nos negócios, com participação em 44% dos acordos fechados em 2015, contra 26 por cento em 2014


	"As operações envolvendo energia eólica são o carro-chefe, respondendo por cerca de 30 por cento do total", diz o sócio da PwC Brasil André Castelo
 (UWMadison/ThinkStock)

"As operações envolvendo energia eólica são o carro-chefe, respondendo por cerca de 30 por cento do total", diz o sócio da PwC Brasil André Castelo (UWMadison/ThinkStock)

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2015 às 14h59.

São Paulo - O Brasil já registra mais fusões e aquisições no setor elétrico neste ano, uma tendência que deve se repetir ao longo do segundo semestre, com grandes grupos internacionais e fundos de private equity aproveitando oportunidades no país em um momento de real desvalorizado e crise de oferta de energia, segundo especialistas.

O país somou 23 operações de fusões e aquisições entre janeiro e o início de junho, contra 19 registradas no primeiro semestre completo do ano passado, apontou levantamento da Pricewaterhousecoopers (PwC), com investidores de olho no preço da energia, que tem se mantido mais alto tanto no mercado de curto prazo quanto nos leilões realizados pelo governo, para entrega nos próximos anos.

A presença estrangeira tem crescido nos negócios, com participação em 44 por cento dos acordos fechados em 2015, contra 26 por cento em 2014, disse o sócio da PwC Brasil André Castelo, em entrevista à Reuters.

"As operações envolvendo energia eólica são o carro-chefe, respondendo por cerca de 30 por cento do total", ressaltou ele, referindo-se ao maior interesse de estrangeiros nesses ativos de energia renovável.

Castelo apontou o segmento de geração como o que mais atrai investidores, seguido por transmissão e distribuição.

Já o sócio da consultoria EY Marcos Quintanilha acredita que a retomada dos acordos é puxada por esses motivos pontuais do setor no país, e não está associada a um fluxo de maior otimismo com a economia do Brasil.

"O ano de 2014 foi muito fraco em termos de volume de transações, provavelmente por receio dos investidores em relação à estabilidade das regras e da regulação depois da Medida Provisória 579/12 e suas consequências", analisou.

Analistas e advogados especializados em fusões e aquisições ouvidos pela Reuters acreditam que empresas chinesas com presença no país podem fechar em breve novas aquisições nas áreas de geração e transmissão. Nesse segundo segmento, há também empresas espanholas de olho em negócios.

Outras companhias que anunciaram investimentos recentes no país, como a norte-americana SunEdison e a gestora canadense de recursos Brookfield, são apontadas como agentes que devem manter o interesse em ativos brasileiros.

Lava-jato

Também é esperado que empresas investigadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, partam para a venda de ativos para fazer caixa, em meio às dificuldades criadas pelas investigações sobre suas atividades, o que pode impulsionar acordos de fusões e aquisições.

A Petrobras tem um plano de desinvestimentos de até 13,7 bilhões de dólares em 2015 e 2016, no qual 40 por cento devem ser obtidos pela área de Gás & Energia. A Eletrobras, que anunciou recentemente a contratação de um escritório de advocacia para investigar eventuais irregularidades em seus empreendimentos, também deverá ir ao mercado, oferecendo empresas de distribuição e participações minoritárias em Sociedades de Propósito Específico (SPEs).

"Com certeza, haverá interessados. Tudo depende de valores, mas haveria, sim, apetite. São ativos que na mão de quem sabe gerenciar podem fazer toda a diferença", afirmou o sócio do escritório de advocacia Pinheiro Neto José Oliva.

Além das estatais, construtoras envolvidas na Lava Jato também devem engrossar o movimento de aquisições, ao colocar no mercado projetos de suas divisões de energia elétrica. A Engevix, por exemplo, já vendeu a participação em empresas de transmissão e geração neste ano.

Private Equity

De acordo com a PwC, fundos de private equity responderam por 35 por cento das transações de fusões e aquisições de ativos de energia elétrica até junho de 2015, contra 22 por cento ao longo de todo o ano de 2014. "Sem dúvida, agora é o momento dos fundos, tanto locais quanto internacionais.

Eles têm feito muitas captações e estão com recursos disponíveis para investimento. Hoje eles têm mais experiência em Brasil e devem ser players interessantes nesse mercado, uma vez que o setor privado institucional está com menos apetite nesse momento", explicou o advogado Robertson Emerenciano, sócio do escritório Emerenciano, Baggio e Associados.

A Positiva, empresa de energia criada por ex-executivos da ex-MPX (hoje Eneva) que recebeu aporte de um fundo do banco inglês Barclays, considera que essas operações podem ser um mecanismo importante para apoiar as companhias em um momento em que o financiamento está mais escasso. "Existe um grupo de fundos olhando o Brasil com lupa.

A combinação de um real mais barato com o setor elétrico um pouco combalido dá um cenário interessante para a atuação deles, que têm o DNA de entrar em um momento de baixa para recuperar valor", afirmou Leandro Cunha, diretor financeiro da Positiva.

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