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Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2011 às 13h30.
O ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto acredita que a economia brasileira voltará a crescer com algum vigor no quarto trimestre deste ano, mas que o país só voltará a ter uma expansão de 4% em 2010. Durante palestra no EXAME Fórum, promovido pela revista EXAME nesta segunda-feira em São Paulo, ele disse que o país poderia até mesmo registrar um crescimento de 2%, 3% ou 4% em 2009 caso o Banco Central não tivesse demorado tanto para agir.
Delfim disse que, quando a crise estourou, em setembro do ano passado, o BC tinha 200 bilhões de dólares em reservas internacionais e também ganhou acesso a um linha do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) de 30 bilhões de dólares. Além disso, o país vinha de um crescimento de 6% ao ano, a primeira expansão acima da média mundial dos últimos 25 anos. O terceiro motivo para uma atuação mais enérgica do BC seria a baixa representatividade das exportações brasileiras em relação ao PIB. "Naquele momento poderíamos ter dado algum conforto ao setor exportador", disse ele.
"O BC sempre agiu na direção certa, mas sempre com sete meses de atraso e sempre com doses homeopáticas. Não usou sua musculatura para que a economia caísse para 2%, 3% ou 4% de crescimento", disse ele.
Outro erro do BC, segundo Delfim, foi ter dado um melhor tratamento para os bancos grandes e para os bancos estatais. "O BC desenvolveu a teoria de que banco grande é melhor que banco pequeno e de que banco público é melhor do que banco privado."
Outro participante do EXAME Fórum, o professor Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, havia dito, pouco antes, que ao menos a crise vai permitir que o Brasil baixe a taxa básica de juros para um patamar mais próximo da média mundial. Delfim foi irônico e afirmou que isso não adianta nada em um momento em que a economia brasileira passou de uma situação ótima para uma muito pior. "A política monetária errada nos deu a oportunidade baixar os juros, mas trocamos uma Brigitte Bardot de 18 anos por uma de 81", afirmou.
O peru da farofa
Delfim também usou a ironia ao comentar a recente alta da Bovespa. O ex-ministro disse que não é possível avaliar se a alta foi exagerada, mas explicou o movimento do mercado com as qualidades da bolsa brasileira e com a provável capacidade do país de sair da crise.
Neste ano, até 4 de maio, a bolsa brasileira subiu 36% em dólares, o que, descontados os impostos e as taxas, leva a um ganho de 25% em pouco mais de quatro meses. "O Brasil é o grande peru da farofa mundial. (...) Imagina o que vai acontecer quando o [George] Soros descobrir isso."
O ex-ministro lembrou, entretanto, que o ingresso de recursos estrangeiros na bolsa brasileira contribui para a valorização do real e que é preciso prestar atenção no efeito "devastador" disso sobre o sistema produtivo.
Delfim, no entanto, enumerou motivos para o Brasil se recuperar da crise: 1) É o único Bric com uma democracia constitucional em funcionamento; 2) Não há problemas de língua, fronteiras e étnico-religiosos, o que é um sinal de adaptabilidade e tolerância; 3) Tem muita energia renovável e o petróleo do pré-sal; e 4) A redução da relação dívida/PIB, a menor exposição cambial dos débitos e as reservas internacionais afastaram a possibilidade de uma crise das contas externas;
"Provavelmente não vamos ter uma falta de energia ou uma crise no balanço de pagamentos. Então o Brasil vai sair dessa crise, tem condições para construir uma estrada de concreto, uma Autoban alemã para os próximos 25 anos", afirmou. "Mas sem um estado isso não é possível. O estado tem seus defeitos, mas precisa ser inteligente para ajudar o setor privado nesse caminho."