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Brasil sofre com impacto da "nova China"

A ameaça da China sobre a economia brasileira vai além do efeito da desaceleração do crescimento do nosso maior parceiro comercial

Iuane: desaceleração chinesa soma-se à deterioração das expectativas domésticas (AFP/Frederic J. Brown)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2016 às 21h34.

A China abriu 2016 assustando os mercados.

A desaceleração chinesa soma-se à deterioração das expectativas domésticas, endossando as previsões de alta do dólar e recessão.

E a ameaça da China sobre a economia brasileira vai além do efeito da desaceleração do crescimento do nosso maior parceiro comercial.

Se a China apenas estivesse desacelerando o crescimento de 10% para 7% ou 6%, não seria um problema, diz Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo. Segundo ele, o mais grave é a mudança do modelo econômico chinês, do crescimento baseado em exportações, investimentos e indústria para outro, baseado em serviços e consumo.

O economista lembra que o novo motor de crescimento chinês é menos dependente de commodities, como o minério de ferro. Grandes obras de infraestrutura como portos e aeroportos foram construídas até em excesso, assim como plantas de indústrias, como siderúrgicas, e moradias. Estas obras vinham alimentando a demanda do gigante asiático por matérias-primas. Agora, a maioria delas está pronta.

A ”nova China” representa uma mudança em sentido oposto ao que o Brasil tenta fazer. A economia brasileira teve, nos últimos anos, excesso de consumo, enquanto investimentos e poupança doméstica foram insuficientes e as exportações, fracas. A transição na China encontra o Brasil atrasado no seu próprio processo de mudança e com cenário econômico deteriorado após equívocos dos últimos seis anos, diz Silber.

Esta combinação de fatores externos e internos aponta para novas altas do dólar, diz o economista. Mesmo reconhecendo que há muita incerteza nas previsões tanto para o dólar quanto para outros indicadores da economia, pois o cenário está, em parte, subordinado à crise política, Silber observa que o risco Brasil medido pelo CDS, que ronda os 500 pontos, sugere possíveis novas desvalorizações do real.

O dólar poderia chegar a R$ 4,50 ao longo deste ano, considerando-se que o CDS passou de 100 pontos para 500 desde 2011, diz o professor. Além dos riscos representados pela China, Silber observa que a alta dos juros americanos também traz pressão de alta para o dólar globalmente.

A balança comercial brasileira fechou 2015 com recuperação expressiva e tende a continuar se beneficiando do real mais fraco este ano. Contudo, não deve ser suficiente para evitar nova recessão, que Silber estima entre 3% e 3,5% em 2016. O desemprego, medido pela PNAD do IBGE, pode bater em 13% e, ao mesmo tempo, a inflação deve seguir acima do teto da meta, diz o professor da USP. Para ele, a recessão pode evitar que o BC suba os juros. Com a política fiscal ”arrebentada”, não há muito o que o BC possa fazer, diz.

As mudanças na China agravam a crise, mas o maior problema foi o Brasil não ter feito, durante o período de bonança, as reformas necessárias para reduzir suas fragilidades, diz Silber. “A loteria que o Brasil ganhou com a alta das commodities acabou.”

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A China abriu 2016 assustando os mercados.

A desaceleração chinesa soma-se à deterioração das expectativas domésticas, endossando as previsões de alta do dólar e recessão.

E a ameaça da China sobre a economia brasileira vai além do efeito da desaceleração do crescimento do nosso maior parceiro comercial.

Se a China apenas estivesse desacelerando o crescimento de 10% para 7% ou 6%, não seria um problema, diz Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo. Segundo ele, o mais grave é a mudança do modelo econômico chinês, do crescimento baseado em exportações, investimentos e indústria para outro, baseado em serviços e consumo.

O economista lembra que o novo motor de crescimento chinês é menos dependente de commodities, como o minério de ferro. Grandes obras de infraestrutura como portos e aeroportos foram construídas até em excesso, assim como plantas de indústrias, como siderúrgicas, e moradias. Estas obras vinham alimentando a demanda do gigante asiático por matérias-primas. Agora, a maioria delas está pronta.

A ”nova China” representa uma mudança em sentido oposto ao que o Brasil tenta fazer. A economia brasileira teve, nos últimos anos, excesso de consumo, enquanto investimentos e poupança doméstica foram insuficientes e as exportações, fracas. A transição na China encontra o Brasil atrasado no seu próprio processo de mudança e com cenário econômico deteriorado após equívocos dos últimos seis anos, diz Silber.

Esta combinação de fatores externos e internos aponta para novas altas do dólar, diz o economista. Mesmo reconhecendo que há muita incerteza nas previsões tanto para o dólar quanto para outros indicadores da economia, pois o cenário está, em parte, subordinado à crise política, Silber observa que o risco Brasil medido pelo CDS, que ronda os 500 pontos, sugere possíveis novas desvalorizações do real.

O dólar poderia chegar a R$ 4,50 ao longo deste ano, considerando-se que o CDS passou de 100 pontos para 500 desde 2011, diz o professor. Além dos riscos representados pela China, Silber observa que a alta dos juros americanos também traz pressão de alta para o dólar globalmente.

A balança comercial brasileira fechou 2015 com recuperação expressiva e tende a continuar se beneficiando do real mais fraco este ano. Contudo, não deve ser suficiente para evitar nova recessão, que Silber estima entre 3% e 3,5% em 2016. O desemprego, medido pela PNAD do IBGE, pode bater em 13% e, ao mesmo tempo, a inflação deve seguir acima do teto da meta, diz o professor da USP. Para ele, a recessão pode evitar que o BC suba os juros. Com a política fiscal ”arrebentada”, não há muito o que o BC possa fazer, diz.

As mudanças na China agravam a crise, mas o maior problema foi o Brasil não ter feito, durante o período de bonança, as reformas necessárias para reduzir suas fragilidades, diz Silber. “A loteria que o Brasil ganhou com a alta das commodities acabou.”

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