Economia

Brasil recomprará os últimos títulos da época da moratória

Governo anunciou, nesta quinta-feira (23/2), a antecipação do resgate dos títulos Bradies, que venceriam em 2012. Esse é o último resquício da dívida renegociada na década de 80

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h04.

Dois meses depois de quitar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo brasileiro assume mais um compromisso histórico. O Tesouro Nacional anunciou nesta quinta-feira (23/2) um plano para resgatar, antecipadamente, os títulos Bradies que ainda estão no mercado. Esses papéis foram emitidos em 1994 como uma forma de refinanciar a dívida externa do país, que não foi paga na década de 80 - com  a moratórias dos governos João Figueiredo e José Sarney.
 
"Esse é mais um marco para a economia brasileira", diz Alexandre Chauar, superintendente de renda fixa internacional do Banif Primus. Segundo ele, trata-se de um passo importante rumo à conquista do grau de investimento, título tão sonhado pela equipe econômica. O vencimento desses títulos estava marcado para 2012.

Os títulos bradies remanescentes no mercado somam 6,64 bilhões de dólares. O governo irá quitar essa dívida em abril com dinheiro das reservas internacionais brasileiras, que hoje estão em torno de 56 bilhões de dólares, volume considerado seguro por especialistas para o pagamento de dívidas. "Como reserva internacional, esse dinheiro rende muito pouco, pois é remunerado por bancos de primeira linha, que têm juros baixos. É mais negócio usar o dinheiro para quitar dívidas, estas sim, atreladas a juros altíssimos", afirma  Chauar.

Boa fase

O governo está aproveitando o momento ideal para recomprar esses títulos. Não apenas as reservas internacionais estão em um de seus melhores níveis, como também o mercado internacional passa por uma fase favorável. Outros países, como o México, já quitaram todas as suas dívidas em Bradies.

Para a economista Daniela Prates, da Universidade de Campinas (Unicamp), esta é uma ótima iniciativa do governo. Ela lembra que os Bradies, por estarem atrelados ao calote dos anos 80, têm uma imagem ruim entre os investidores. "Por serem títulos caros e ligados à moratória, eles acabam contaminando o risco-país", diz a professora.

Não se trata, porém, apenas de uma questão de imagem. Na prática, a recompra total dos Bradies pode aliviar a pressão sobre o dólar. A equipe econômica não considera esse o motivo principal, mas ao utilizar parte das reservas para quitar dívidas, o governo também está promovendo um enxugamento da moeda americana presente no país. "Ainda que indiretamente, a medida deve ajudar a frear a queda do dólar", afirma Daniela.

Momento histórico

Criado na década de 80 pelo então  secretário do Tesouro dos Estados Unidos,  Nicholas Brady, os títulos Bradies tornaram-se comuns principalmente entre países latino-americanos, como México e Brasil, que decretaram a moratória. O objetivo do Plano Brady era melhorar o perfil da dívida desses países ao atrelá-los a títulos do Tesouro americano. A ajuda americana visava, na prática, a estabilização do mercado financeiro internacional, cuja crise já prejudicava os investidores norte-americanos.

No caso brasileiro, os títulos Bradies só foram emitidos em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso estava à frente do Ministério da Fazenda. Na época, ficou acertado o refinanciamento de parte da dívida total, ou 49 bilhões de dólares. Os Bradies - que serão quitados antecipadamente pelo Tesouro Nacional -  são o último resquício dessa dívida.

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