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Brasil precisa gastar R$ 8 bi para evitar "impasse logístico"

Para José Ribamar Miranda Dias, da Anut, não há tempo para grandes projetos, apenas para medidas emergenciais

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h35.

A atual estrutura de transporte não suporta mais as demandas de um país em crescimento. Se não forem investidos 8 bilhões de reais até o final de 2005, o Brasil vai viver um verdadeiro colapso no setor de transportes. A avaliação é do vice-presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (Anut), José Ribamar Miranda Dias. Ele apresentou os cálculos nesta terça-feira (31/8) na Câmara de Comércio França-Brasil. Dias chefiou o Grupo Executivo de Modernização dos Portos durante os oito anos da gestão Fernando Henrique Cardoso.

Com mais de 60% das cargas transportadas por rodovias um predomínio inalterado há 20 anos , a vulnerabilidade dos produtores é ainda maior (Leia reportagem da revista EXAME que acompanhou, durante cinco dias, a viagem das mercadorias pelo principal corredor de exportação do Brasil para avaliar os problemas na infra-estrutura de transportes). "Além de não servir a um país que vem interiorizando cada vez mais sua produção agrícola, a malha rodoviária está em situação pré-falimentar. Estamos à beira do colapso rodoviário por conta das chuvas", afirma Dias. Enquanto o crescimento do transporte rodoviário foi de 50% entre 1990 e 2000, a expansão das estradas foi de 7%, de 139 mil quilômetros para 165 mil. Enquanto se implantava essa expansão insuficiente, as vias existentes foram abandonadas, segundo afirma o vice-presidente da Anut. A malha ferroviária encolheu 7% durante os anos 90. "O Brasil é um gigante fraco, com veias deficientes", diz.

Segundo levantamento da Anut, os investimentos em transportes caíram de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1975 para 0,5% em 1985. A partir de 1989, com a extinção do Fundo Rodoviário Nacional, o aporte no setor mal superou 0,2% do PIB nos anos de maior investimento, até atingir cerca de 0,1% em 2003.

Mas o problema não se limita às estradas, à dependência exagerada do trasnporte por caminhão e à acanhada estrutura ferroviária. De acordo com levantamento da entidade, entre 2004 e 2008, a exportação de produtos agrícolas necessitará de um aumento de capacidade de movimentação de cargas nos portos de 21 milhões de toneladas. Quando o assunto é a estrutura portuária, outro sério problema vem à tona. O custo em Roterdã, na Holanda, por contêiner é de 100 dólares em média, contra 250 em Santos. Enquanto no porto holandês 60 contêineres são carregados ou descarregados por hora, com o trabalho de cinco funcionários, em Santos, 22 trabalhadores manipulam 40 contêineres por hora.

Todos esses problemas se traduzem em pesados prejuízos. Só em excesso de estoque, uma prevenção das empresas contra os infortúnios da logística, as perdas somam 118 bilhões de reais. Quanto aos desperdícios nos corredores de escoamento da produção (como a deterioração de mercadoria nas filas dos portos), o Brasil joga fora 15 bilhões de reais todos os anos. Com multas por atraso no embarque e desembarque, vão embora cerca de 3,6 bilhões de reais só neste ano.

Soluções

"Não dá tempo de ampliar a malha, tem que tirar o máximo do que está a", afirma Dias. A associação tem pressionado o governo para garantir a aplicação dos recursos previstos no orçamento de 2004, um total de 1,834 bilhão de reais. Segundo ele, até junho o governo gastou apenas 4% do previsto. Para o ano que vem, a Anut reivindica que se eleve o orçamento do Ministério dos Transportes para 6 bilhões de reais com a receita gerada pela Cide. A contribuição foi criada para financiar a infra-estrutura de transportes mas tem sido represada pelo Ministério da Fazenda para gerar superávit primário. Na avaliação da Anut, a prioridade dos do ministério para os próximos 16 meses precisam ser obras emergenciais (veja a tabela).

A associação, que reúne empresas como a CSN, Gerdau, Bunge, Braskem e entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), também afirma que não faz sentido que a produção de grãos do norte da região Centro-oeste seja direcionada para os portos do Sul e Sudeste. O caminho racional seria operacionalizar hidrovias para escoar a safra pela costa do Norte e Nordeste.

Quando se fala em Parcerias Público-Privadas (PPPs), Dias demonstra ceticismo. "Não me refiro à infra-estrutura de energia, mas nos transportes é difícil encontrar projetos que atraiam interesse dos empresários. E mesmo que a legislação seja aprovada agora em dezembro, vão passar uns seis anos até as coisas começarem a acontecer. Não temos tempo para isso."

16 meses para evitar o colapso dos transportes
Investimentos necessários (em bilhões de reais)
Obras emergenciais em rodovias

4,5

Gargalos nas ferrovias

2,0

Hidrovias

0,7

Portos

0,8

Fonte: Anut
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