Exame Logo

Brasil é um dos países que mais gastam com servidores públicos

De uma relação de 74 países, o Brasil tem o 7º maior gasto: 12,9% do PIB. Os dados são de 2019 e consideram despesas com pessoal ativo de União, estados e municípios

Esplanada do ministérios em Brasília 21/4/2020 (Ueslei Marcelino/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de maio de 2021 às 14h34.

Última atualização em 20 de maio de 2021 às 09h47.

O Brasil tem uma das maiores despesas com remuneração de servidores no mundo, segundo dados reunidos pelo Tesouro Nacional em um painel interativo que será lançado pelo órgão. De uma relação de 74 países, o Brasil tem o sétimo maior gasto: 12,9% do PIB. Os dados são de 2019 e consideram despesas com pessoal ativo de União, estados e municípios.

Penduricalhos para contornar o teto salarial de 39.200 reais mensais, salários maiores do que na iniciativa privada e brechas para o acúmulo de remunerações são fatores apontados por especialistas para explicar a permanência do Brasil no topo do ranking. Um histórico de aumentos acima da inflação nos salários também contribui para o quadro.

Veja também

O ganho mais recente incorporado ao conjunto de regras para servidores foi uma portaria do Ministério da Economia prevendo que militares da reserva e servidores civis aposentados que continuam trabalhando em determinados cargos podem receber as duas remunerações, mesmo que ultrapassem o teto de 39.200 reais. A medida beneficiou o presidente Jair Bolsonaro com um "aumento" de 2.300 reais por mês e o vice-presidente Hamilton Mourão, com 24.000 reais mensais. Ministros também serão beneficiados.

A medida despertou críticas, sobretudo no momento em que o time do ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta fazer avançar no Congresso sua proposta de reforma administrativa, para flexibilizar a estabilidade no cargo, extinguir penduricalhos que hoje turbinam salários e deixar o terreno pronto para uma revisão futura de carreiras e salários. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aguarda votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para avançar à próxima etapa, que é a análise de mérito na comissão especial.

"Fico me perguntando onde estavam com a cabeça. Não faz o menor sentido, até pelo momento do país", critica o deputado Tiago Mitraud (Novo-MG). Ele preside a Frente Parlamentar Mista da Reforma Administrativa e apresentou um requerimento de informações para cobrar explicações do governo. "Além de ser imoral, é uma incoerência muito grande." Além de ter enviado a proposta de reforma administrativa, o governo também reduziu o valor da ajuda a vulneráveis durante a pandemia em 2021, sob a justificativa de controle de gastos.

Emergentes

O raio X traçado pelos dados do Tesouro permite observar que a proporção de gastos com o funcionalismo no Brasil supera a observada em outras nações emergentes, como Rússia, Chile, Peru e Colômbia, e também em países avançados, como Estados Unidos, Alemanha e Espanha. O dado considera as despesas não só com salários, mas também com a contribuição patronal para a Previdência desses servidores.

O economista José Luiz Rossi, professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), ressalta que o gasto com servidores no Brasil é heterogêneo, tanto do ponto de vista de esfera administrativa quanto do ponto de vista dos Poderes. No primeiro caso, a União tende a pagar maiores salários do que estados e municípios. Ele cita um estudo do Banco Mundial que aponta um elevado prêmio salarial dos funcionários federais, de 96% em relação ao que ganha um trabalhador com as mesmas qualificações no setor privado. Esse prêmio era de 36% nos estados e praticamente zero nos municípios.

Sob o ponto de vista dos Poderes, Judiciário e Ministério Público costumam destoar mais dos outros Poderes em termos de manobras para driblar o teto remuneratório. No fim de 2019, por exemplo, o Estadão/Broadcast mostrou que o vale-refeição de juízes superava o salário mínimo em 24 dos 27 estados brasileiros.

"É um Estado grande, que tem uma demanda grande", diz Rossi, em uma justificativa para parte do gasto com um quadro significativo de servidores. No Brasil, segundo dados da Pnad Contínua, 11,9 milhões se declaravam empregados do setor público no trimestre até fevereiro de 2021. Por outro lado, ele reconhece que há distorções. "A questão é a política de incentivos. Não se tem na carreira muitos degraus, o funcionário passa a maior parte da carreira ganhando o salário máximo", afirma.

Já o economista Bráulio Cerqueira, presidente da Unacon Sindical, entidade que representa auditores de finanças e é ligada ao Fórum Nacional de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), critica os dados que colocam o Brasil no topo do ranking de gastos com funcionalismo. Segundo ele, a contabilidade dos gastos com a Previdência dos servidores varia entre países.

"Nos três níveis federativos, é importante esclarecer isso, os salários de servidores civis estão congelados até o fim deste ano, na verdade estão sendo reduzidos em termos reais. No governo federal, a última recomposição salarial para 80% dos servidores ocorreu em janeiro de 2017", diz Cerqueira. "Não há descontrole com a folha hoje, o que há é o contrário, arrocho salarial e quedas sucessivas do gasto com salários."

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.

Acompanhe tudo sobre:EXAME-no-InstagramOrçamento federalServidores públicos

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame