Economia

Brasil cresce 0,4% no 2o tri; investimento segue em queda

Embora seja o melhor resultado trimestral em um ano, o Produto Interno Brutodo período mostrou uma recuperação ainda bastante tímida da atividade


	Guido Mantega: "É resultado bom em relação ao primeiro trimestre, não é excepcional, mas é o prenúncio de resultados melhores", disse ministro da Fazenda
 (Sergio Moraes/Reuters)

Guido Mantega: "É resultado bom em relação ao primeiro trimestre, não é excepcional, mas é o prenúncio de resultados melhores", disse ministro da Fazenda (Sergio Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2012 às 22h45.

Rio de Janeiro - A economia brasileira cresceu 0,4 por cento no segundo trimestre deste ano comparado com os primeiros três meses do ano puxada pelo setor de serviços e o consumo, além da forte alta da agricultura, mas ainda limitada pela queda dos investimentos e pelo recuo da indústria.

Embora seja o melhor resultado trimestral em um ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do período mostrou uma recuperação ainda bastante tímida da atividade. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disseram que o resultado mostra a recuperação gradual da atividade baseado na demanda interna. "É resultado bom em relação ao primeiro trimestre, não é excepcional, mas é o prenúncio de resultados melhores que virão no segundo semestre", disse o ministro da Fazenda.

As reações iniciais de analistas indicam que a recuperação deve ganhar fôlego daqui para frente por conta, principalmente, das fortes medidas de estímulo já tomadas pelo governo. Mas essa aceleração não deve levar a um crescimento de mais de 2 por cento neste ano.

"A economia está se recuperando, mas é algo gradual. A surpresa no resultado do segundo trimestre foi a queda no investimento, achávamos que viria um número positivo e isso mostra uma situação pior", afirmou a economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) Maria Sílvia Matos, para quem o crescimento no ano será de apenas 1,5 por cento.

Em relação ao segundo trimestre de 2011, o PIB do país cresceu 0,5 por cento, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira. Na comparação anual, é o pior resultado desde o terceiro trimestre de 2009, quando houve queda de 1,5 por cento.

Pesquisa Reuters indicava crescimento de 0,5 por cento na comparação trimestral e, na medida anual, apontava para uma expansão de 0,7 por cento. As projeções variaram de 0,2 a 0,8 por cento para o crescimento trimestral e 0,4 a 1,6 por cento para o anual.


"Sem dúvida, o resultado foi afetado pela crise mundial e seus efeitos", disse a economista do IBGE Rebeca Palis.

O instituto destacou que entre os países dos Brics --Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul-- o Brasil registrou o menor crescimento na base interanual.

De acordo com dados obtidos junto ao Banco Mundial, o IBGE informou que a Rússia cresceu 4 por cento; a Índia, 5,5 por cento; a China, 7,6 por cento; e a África do Sul, 3,2 por cento no segundo trimestre ante o mesmo trimestre do ano anterior.

O IBGE informou também que revisou para baixo a expansão do primeiro trimestre sobre os três meses anteriores, de 0,2 para 0,1 por cento.

Indústria

O setor de serviços avançou 0,7 por cento, enquanto o consumo do governo subiu de 1,1 por cento, e o das famílias, 0,6 por cento no segundo trimestre, em relação aos primeiros três meses do ano.

A agropecuária teve o crescimento mais expressivo, de 4,9 por cento, mostrando uma forte recuperação em relação ao resultado do primeiro trimestre, quando recuou 5,9 por cento.

De acordo com a economista do IBGE, apesar do bom resultado, a agropecuária não foi a principal responsável pelo crescimento no trimestre, já que tem um peso pequeno na composição do PIB. "A agropecuária não foi a explicação (para o crescimento) dado o seu peso, mas ajudou", disse.

Já a indústria continuou mostrando mau desempenho, com retração de 2,5 por cento na comparação trimestral, após mostrar crescimento de 1,7 por cento no primeiro trimestre. Essa foi a queda mais aguda desde o primeiro trimestre de 2009, quando o setor recuou 6,5 por cento, no auge da crise internacional.

Mantega disse que esse é um dado que ficou no retrovisor e que com os estímulos, sobretudo na industria automobilística que representa 20 por cento do PIB industrial, haverá retomada nos dois últimos trimestres do ano.

Ele também ressaltou que na próxima semana serão anunciadas novas medidas que reduzem os custos da produção no país. A presidente Dilma Rousseff antecipou, na quinta-feira, que será anunciada a redução dos custos de energia elétrica.

Investimentos

A indústria de transformação, junto com os segmentos de extração mineral e produção de petróleo, empurrou o setor industrial como um todo para baixo. A queda da indústria transformação atingiu 5,3 por cento, a maior desde o terceiro trimestre de 2009 (-9,7 por cento).


"A produção de petróleo caiu e a de minério não cresceu muito por questões internas e externas", disse Rebeca. "A redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros teve pouco efeito também, uma vez que o setor usou os estoques que estavam elevados."

Outro indicador negativo veio dos investimentos. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou de 0,7 por cento no trimestre passado, depois de registrar queda de 1,5 por cento entre janeiro e março.

"A FBCF vem acompanhando o ritmo da economia como um todo", disse, pelo telefone, a economista de contas nacionais do IBGE, Cláudia Dionísio.

"Os juros vêm caindo há um ano. Essa á uma variável importante para uma decisão de investimento, mas não é a única. Tem câmbio, crédito, demanda e o comportamento da economia como um todo para saber se o cenário é propício", acrescentou ela.

O ministro da Fazenda buscou minimizar o dado de investimento, sublinhando que a FBCF leva mais tempo para reagir aos estímulos dados na economia.

"Investimento demora mais a reagir do que outras variáveis porque depende da visão ao longo prazo. O empresário fica com incerteza e demora mais para reagir, mas governo tem tomado medidas que vão tornar vantajoso fazer investimentos no Brasil", disse.

Consumo

O consumo das famílias continuou sua trajetória de crescimento, mas com desaceleração. No trimestre passado, a expansão foi de 0,6 por cento, menor do que o avanço de 0,9 por cento visto no período anterior. Na comparação anual, esse setor apresentou alta de 2,4 por cento entre abril e junho.

"O consumo está desacelerando nos últimos trimestres porque o crédito cresce num ritmo mais baixo, a inadimplência aumenta e demanda é menor", declarou Rebeca.

Mas o presidente BC frisou que "a demanda doméstica continuou sendo o principal suporte da economia, com o consumo das famílias sendo estimulado pela expansão moderada do crédito, pela geração de empregos e de renda."

O governo vem se esforçando para recuperar a economia brasileira, afetada pela crise internacional, com contínuas medidas de estímulo, que vão desde desonerações fiscais a melhores condições de financiamento aos investimentos.

O objetivo é garantir crescimento de 4,5 por cento no próximo ano, número que está sendo encarado como uma meta "ousada" pelo governo.

Há dois dias, o governo anunciou um novo pacote de incentivos que envolveu a prorrogação das alíquotas menores do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a alguns setores, como o automotivo e de linha branca, e reduções dos juros cobrados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Algumas dessas ações valem até o fim de 2013.

Para o economista sênior do BES Investimento, Flavio Serrano, a intensificação do ajuste na política monetária e os efeitos de mais medidas de estímulo vai surtir efeito. "A expectativa no governo e nossa é de que haverá uma recuperação no terceiro e quarto trimestres", afirmou

Para 2012, o mercado acredita que o PIB crescerá menos de 2 por cento, o que, se confirmado, representará o pior desempenho desde 2009, quando a economia encolheu 0,3 por cento por conta da crise internacional.

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