Economia

Bloqueio do Catar afetará a importação de alimentos

Ruptura da Arábia Saudita com o Catar corta o único acesso terrestre do país e ameaça suas importações de produtos frescos e matérias-primas

Catar: Arábia Saudita e seus aliados suspenderam as conexões aéreas com o Catar e fecharam os escritórios das companhias aéreas no país (Streeter Lecka/Getty Images)

Catar: Arábia Saudita e seus aliados suspenderam as conexões aéreas com o Catar e fecharam os escritórios das companhias aéreas no país (Streeter Lecka/Getty Images)

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AFP

Publicado em 6 de junho de 2017 às 14h17.

O bloqueio diplomático e econômico ao Catar, imposto pela Arábia Saudita e por seus aliados, terá um grande impacto a curto prazo nas importações de alimentos, mas isto não afetará as exportações de gás e petróleo, indicam analistas.

A ruptura com o Catar corta o único acesso terrestre do país e ameaça suas importações de produtos frescos e matérias-primas, em um momento em que o pequeno país investe 200 bilhões de dólares em infraestruturas nas vésperas da Copa do Mundo de 2022.

Já as exportações de gás natural liquefeito (GNL) e de petróleo, que correspondem a 90% das receitas do Catar, devem continuar praticamente intactas.

"Cerca de 40% do fornecimento de alimentos do Catar passa pela fronteira terrestre com a Arábia Saudita", segundo os cálculos de Anthony Skinner, o diretor para o Oriente Médio da consultoria Verisk Maplecroft.

Agora as autoridades do Catar "dependerão cada vez mais do transporte marítimo e aéreo, o que aumentará os custos e a inflação", explica Skinner.

O impacto do bloqueio foi imediato e os habitantes de Doha têm enchido desde a segunda-feira os supermercados para comprar reservas de mantimentos, apesar de o governo garantir que não haverá escassez.

O Catar ainda pode importar mantimentos do Irã ou de Omã por via marítima ou de avião da Turquia, da Europa e do sudeste asiático.

Um funcionário do governo iraniano já disse que seu país está disposto a fornecer produtos ao Catar por barco, um trajeto de 12 horas por águas do Golfo.

A Arábia Saudita e seus aliados suspenderam as conexões aéreas com o Catar e fecharam os escritórios das companhias aéreas no país.

Segundo Anthony Skinner, essas medidas obrigariam Qatar Airways a mudar suas rotas, gerando custos adicionais.

Embora as trocas comerciais entre o Catar e seus vizinhos do Golfo sejam limitadas, suas exportações para a Arábia Saudita, avaliadas em 896 milhões de dólares pela ONU, serão reduzidas a zero com o bloqueio.

- Atrasos nas infraestruturas -

O Catar é um emirado de 2,4 milhões de habitantes, entre eles 1,8 milhão de asiáticos, em sua maioria da Índia, Nepal e Bangladesh.

O país tem uma renda per capita de 100.000 dólares, um das mais altas do mundo.

O fechamento da fronteira com a Arabia Saudita obrigará os construtores de infraestruturas a importar seus materiais por mar, aumentando os preços e atrasando seus projetos, segundo Skinner.

No entanto, o gás e o petróleo continuarão transitando pelo estreito de Ormuz em direção ao Japão e ao sudeste asiático.

O Catar é o maior exportador mundial de GNL, com 80 milhões de toneladas anuais, mas apenas 10% dessa produção tem como destino o Oriente Médio.

O Catar também produz cerca de 600.000 barris de petróleo por dia.

"Não vejo nenhuma ameaça para as linhas de exportação de energia do Catar, que continuará abastecendo seus principais clientes na Ásia", explicou o especialista de Kuwait Kamel al Harami.

O país exporta por gasoduto 3,1 bilhões de pés cúbicos diários de GNL para os Emirados Árabes Unidos e Omã. No ano passado, 60% das importações egípcias de GNL vinham do Catar.

"Para os Emirados Árabes seria difícil suspender suas importações de gás do Catar, sobretudo durante os meses de verão. Eles precisam, não têm alternativa", afirmou Harami.

O Catar, com cerca de 350 bilhões de dólares investidos no exterior, poderá ver seu setor bancário sofrer, alerta James Dorsey, da escola de estudos internacionais S.Rajaratnam de Cingapura.

"Os bancos do Catar, que já têm dificuldades com a queda das reservas e com taxas de juros cada vez mais elevadas, podem se ver muito afetados se a Arábia Saudita e os Emirados decidirem retirar seus depósitos", lembrou Dorsey.

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