Para o Banco Central, o agravamento da crise pode ainda levar à significativa redução da oferta de crédito externo às empresas brasileiras (Divulgação/Banco Central)
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2012 às 14h11.
Brasília - Diante do cenário externo mais conturbado, que terá reflexos na atividade econômica do país, o Banco Central reduziu nesta sexta-feira a projeção de déficit em transações correntes do país para 2012, de 68 bilhões de dólares para 56 bilhões de dólares.
Mesmo assim, a autoridade monetária manteve suas contas sobre Investimento Estrangeiro Direto (IED) em 50 bilhões de dólares para o período, apostando que o Brasil não deixará de atrair recursos voltados para o setor produtivo.
"O déficit (em conta corrente) reflete moderação da demanda por bens e serviços no exterior e repercute o cenário de deterioração internacional", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.
O menor déficit em transações correntes -que são operações feitas pelo Brasil com o exterior, como comércio e viagens internacionais- esperado para este ano veio quase totalmente da redução das estimativas sobre remessas de lucros e dividendos, que passaram de 38 bilhões para 28 bilhões de dólares.
Essa é uma das principais variáveis com impacto na conta corrente do país e mostram os envios de recursos de multinacionais instaladas no país para suas matrizes.
Para o BC, o agravamento da crise pode ainda levar à significativa redução da oferta de crédito externo às empresas brasileiras. Não por menos, passou a trabalhar com uma hipótese ainda mais conservadora para o financiamento das dívidas, baixando a indicação da taxa de rolagem de 125 por cento para 100 por cento neste ano.
"2011 foi ano de ampla liquidez, com taxas de rolagem de 400 por cento. O segundo semestre teve outra cara, as medidas de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) influenciaram esses fluxos", comentou Maciel, acrescentando que em maio esse percentual baixou para 79 por cento.
Ele referiu-se ao aumento da alíquota do imposto sobre prazos mais longos de empréstimos feitos por empresas no exterior, definido pelo governo na época em que o dólar mostrava fraqueza frente ao real.
Investimento produtivo
Maciel explicou que a decisão de manter a expectativa para o IED em 50 bilhões de dólares neste ano reflete uma postura conservadora. Ele observou que o Brasil tem fundamentos macroeconômicos sólidos, com capacidade de atrair o interesse dos estrangeiros, e que essa estimativa pode ser elevada nos próximos meses.
"A se confirmar a estimativa de junho (de 4,8 bilhões de dólares para IED), vamos encerrar o primeiro semestre com 28 bilhões de dólares de ingresso de IED, o que pode sinalizar estimativa melhor para o ano", disse, acrescentando que em junho, até o dia 20, o investimento já estava em 3,3 bilhões de dólares.
O BC informou que o IED somou 3,716 bilhões de dólares no mês passado, acima do esperado pela própria autoridade monetária, de 3 bilhões de dólares. No acumulado do ano, no entanto, o ingresso soma 23,323 bilhões de dólares, abaixo do montante de 27,027 bilhões de dólares registrado em igual período de 2011.
Maio
Em maio, o Brasil registrou déficit na conta corrente de 3,468 bilhões de dólares, em linha com a previsão de economistas ouvidos pela Reuters, de 3,4 bilhões de dólares. Em 12 meses, o resultado representa 2,11 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Para junho, o BC projeta déficit de 4,5 bilhões de dólares.
Apesar da redução do fluxo de IED na comparação com o ano passado, esses recursos financiaram plenamente o déficit de 20,958 bilhões de dólares em transações correntes entre janeiro e maio.
No item viagens, segundo o BC mostrou que gasto dos brasileiros no exterior em maio superou em 1,298 bilhão de dólares o de estrangeiros no país. No ano, essa despesa líquida está em 6,010 bilhões de dólares.
As remessas líquidas de lucros e dividendos atingiram 2,550 bilhões de dólares em maio e 8,444 bilhões de dólares no acumulado do ano. Em 2011, essas remessas foram 4,189 bilhões de dólares e de 14,704 bilhões de dólares, respectivamente.
Os fluxos de comércio tem se reduzido no Brasil este ano devido a uma persistente incerteza sobre o panorama da economia global, sobretudo na Europa.
Assim como a crise tem afetado a demanda de produtos brasileiros, ela tem provocado aumento no montante de lucros e dividendos que as empresas repatriam às matrizes no exterior.
O governo espera que parte dos problemas do comércio sejam revertidos com a recente desvalorização do real em relação ao dólar. Isso poderia compensar parte das perdas ao tornar o valor dos bens brasileiros mais competitivos, deixando também as importações mais caras.