Economia

Atender demandas depende de crescer, diz Mendonça de Barros

Mendonça de Barros, consultor de Aécio, e Nelson Barbosa, ex-membro do governo, concordam sobre necessidade de investimento mas discordam sobre desonerações

EXAME.com (EXAME.com)

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João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 13 de agosto de 2014 às 18h21.

São Paulo - O EXAME Fórum desta quarta-feira, realizado no hotel Unique em São Paulo, foi encerrado com o debate "O Brasil precisa de uma mudança de rota em sua política econômica? O que mudar? O que não mudar?".

A participação de Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Insper e um dos assesores econômicos de Eduardo Campos, foi cancelada após a notícia da morte do candidato.

Estiveram presentes Nelson Barbosa, membro do governo entre 2003 e 2013, inclusive como secretário executivo do Ministério da Fazenda, e José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados e um dos consultores do programa de Aécio Neves.

O jornalista Ricardo Boechat começou a mediação do debate perguntando sobre uma possível assimilação de ideias ou sinergia neste novo cenário eleitoral - o que nenhum dos participantes vê acontecendo, pelo menos no calor do momento.

Para Barbosa, mais do que qualquer vontade, é a pequena margem de manobra que vai determinar os rumos daqui para frente. Ele acredita que se o próximo governo tomar as medidas na direção correta - como ele acredita que acontecerá - 2015 será como 2009 ou 2003, um ano com primeiro semestre difícil e um segundo semestre com inflação em queda e economia em alta.

Isso não significa que nossos dilemas estariam resolvidos: "estamos em um período de transição, com uma nova sociedade integrada no mundo. Isso vai requerer um aumento de recursos para áreas como educação, saúde, transporte - o que já vem acontecendo. Mas não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, então se torna mais uma questão política de como distribuir."

Mendonça de Barros concorda em parte: "está na última capa da EXAME: o país parou. (...) e a velocidade do atendimento das demandas legitimas vai depender, antes de tudo, e mais do que tudo, da capacidade de trazer de volta o crescimento. Se não cresce, não tem arrecadação, vai gastar ainda mais? Vai causar inflação? Vai aumentar impostos?"

Barbosa acredita que um crescimento de 3% ou 3,5% ao ano é possível, mas vai depender do aumento da taxa de investimento - questão martelada por muitos participantes do Fórum. Oportunidades não faltam:

"O Brasil já tem um potencial de crescimento relativamente alto: há pessoas para serem incluídas, recursos naturais, etc; a questão é mais de previsibilidade e segurança sobre o retorno de investimento. O Brasil está numa estranha situação de crescimento baixo com vários projetos de investimento viáveis na gaveta."

Mendonça de Barros listou suas prioridades para mudar este cenário: infraestrutura ("uma injeção na veia da produtividade"), estabilidade das regras, inspiração no sucesso do agronegócio e simplificação tributária, incluindo um imposto sobre valor agregado que acabe com a guerra fiscal: "no nível que está, na complexidade que está, não tem jeito."

Boechat perguntou se é mais importante racionalizar do que diminuir os impostos. Barbosa diz que sim: "o Brasil precisa hoje produzir economia fiscal de cerca de 2% do PIB. Você pode fazer isso arrecadando 22% e gastando 20% ou arrecadando 32% e gastando 30%. A carga tributária deve ser do tamanho do que a sociedade demanda do seu estado".

Ainda no tema dos impostos, os debatedores discordaram em relação às desonerações pontuais promovidas pelo governo atual. Márcio Utsh, presidente da Alpargatas, se manifestou para notar que trocar imposto de folha de pagamento por imposto sobre faturamento pune as empresas que se automatizaram e tiveram sucesso.

Nelson Barbosa, um dos arquitetos da política, reconheceu que ela favorece em um primeiro momento quem é intensivo em trabalho, mas a defendeu: "as empresas falam sempre que o Brasil tem um dos maiores custos trabalhistas do mundo. Se tornar o trabalho caro fosse incentivo à produtividade, seríamos o país mais produtivo do mundo."

Mendonça de Barros disse que entende a lógica da medida, mas teria preferido uma desoneração total, neutra e sem escolha de setores, ainda que menor. 

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