Sede do Banco Central, em Brasília (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 14 de maio de 2024 às 09h05.
Última atualização em 14 de maio de 2024 às 10h09.
A divisão entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu os juros para 10,5% ao ano, foi explicada com a publicação da ata nesta terça-feira, 14. O grupo de cinco diretores do Banco Central (BC) que votou pela redução de 0,25 ponto percentual considerou que o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas era mais importante do que manter o guidance.
"Para tais membros, o forward guidance indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava. Tais membros ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas. À luz do que foi analisado, tais membros consideraram que uma redução de 0,25 ponto percentual era mais apropriada para o atingimento da inflação na meta no horizonte relevante", informou a ata do Copom.
Já o grupo de quatro diretores do BC que votou pela queda de 0,5 ponto percentual argumentou que não seguir o guidance poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do comitê. Para eles, era apropriado, como em decisões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta de inflação.
"O debate proposto por tais membros foi sobre o custo de oportunidade de não seguir o guidance vis-à-vis a mudança de cenário no período. Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê. Para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo precípuo do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado", informou a ata.
Apesar de votar pela queda de 0,5 ponto percentual, esse grupo sinalizou que era necessário mudar o ritmo de queda de juros a partir da reunião do Copom de junho.
"Por fim, tal grupo enfatizou a necessidade de flexibilidade das decisões nas reuniões a partir de junho, o que permitiria, à luz de novo conjunto de informação, calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada", informou a ata.
Apesar da divergência sobre o ritmo de queda, os membros do Copom analisaram os impactos da mudança da meta fiscal sobre as expectativas de inflação. Eles reafirmaram que reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros. Por outro lado, o que se observou foi um aumento do prêmio de risco e uma percepção de piora da situação fiscal, de acordo com os agentes que respondem o Questionário Pré-Copom.
"O Comitê acompanhou com atenção os desenvolvimentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. Ainda que as projeções de resultado primário e de trajetória da dívida não tenham se alterado significativamente, observou-se, no período, um aumento do prêmio de risco e uma percepção de piora da situação fiscal, de acordo com os agentes que respondem o Questionário Pré-Copom", informou a ata.
Por fim, os diretores do BC também sinalizaram que ciclo de queda de juros pode estar perto do fim ao afirmar que não se furtarão do compromisso com a meta de inflação.
"A reancoragem das expectativas de inflação é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta. O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira. O Comitê não se furtará de seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação", informou a ata.