Argentina: equipe liderada por Nicolas Dujovne começou a negociar uma linha de crédito stand-by com o FMI (Marcos Brindicci/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 10 de maio de 2018 às 10h19.
Última atualização em 10 de maio de 2018 às 10h24.
O Ministro da Fazenda da Argentina, Nicolas Dujovne, se reúne nesta quinta-feira (10) com a diretora-executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em Washington. Ontem, a equipe liderada por ele, começou a negociar uma linha de crédito stand-by. Trata-se de um acordo tradicional, parecido ao ultimo negociado pela Argentina, em 2005: a instituição financeira faz desembolsos trimestrais, desde que o pais receptor cumpra determinadas metas.
"Estou decepcionado, porque quando negociei o ultimo acordo com o FMI, achei que seria o ultimo", disse, em entrevista a Agencia Brasil, o economista Guillermo Nielsen. Ele foi responsável pela negociação dos acordos stand-by de 2003 e 2005, e a renegociação da divida externa, depois do calote de 2001.
Segundo Nielsen, o atual governo deveria ter reduzido os gastos públicos, antes de chegar ao extremo de ter que pedir socorro ao Fundo. "Teria sido melhor colocar em ordem nossas próprias contas, do que ter que recorrer a uma organização internacional para nos obrigar a fazer os deveres de casa".
O empréstimo seria para recuperar a confiança dos mercados na Argentina, depois da disparada do dólar na semana passada, que levou o Banco Central a elevar a taxa de juros de referencia a 40%. Com isso, pretende atrair de volta os capitais de empresas e fundos estrangeiros, que migraram para os Estados Unidos, depois que o governo norte-americano elevou suas taxas. Mas a volatilidade da economia da Argentina - pais altamente dependente de financiamento externo para pagar suas contas - afugentou investidores que não estão dispostos a correr tantos riscos nessa nova conjuntura internacional.
O governo insiste que herdou um alto déficit fiscal da ex-presidente e atual senadora da oposição, Cristina Kirchner. E que seria politicamente inviável ter feito cortes drásticos. Em dois anos e cinco meses de governo, o presidente da Argentina, Mauricio Macri adotou medidas de liberalização econômica, para tirar o pais do estancamento: eliminou as restrições cambiais impostas por sua antecessora e permitiu as empresas de serviços públicos de atualizarem duas tarifas, congeladas e subsidiadas desde o colapso da economia em 2001.
Os aumentos das tarifas (alguns de 700%) repercutiram nos preços e contribuíram para a manutenção da inflação alta, herdada do governo Kirchner, que supera os 20% anual. Reduzir o índice inflacionário tinha sido um dos pilares da campanha de Macri, além de tornar a Argentina mais transparente e aberta ao mundo. O presidente argentino - que assumiu em meio a crise politica brasileira e ao escândalo da Lava-Jato - assumiu uma posição de liderança na região: a Argentina foi sede da reunião da Organização Mundial do Comercio (OMC), no ano passado, e do G20 ( grupo que reúne as vinte maiores economias) este ano.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, e o atual vice-presidente norte-americano Mike Pence, viajaram a Buenos Aires e elogiaram os novos rumos da economia. Macri também recebeu as visitas dos mandatários do Japão, da Itália e da Alemanha e a própria Lagarde que - segundo o presidente argentino - apoiou a politica "gradualista" argentino.
Na quarta-feira (9) a noite, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina emitiu um comunicado para mostrar que Macri está no rumo certo. Na nota, os governos do Japão, dos Estados Unidos, da Espanha, do Chile e do Brasil manifestam seu apoio as negociações do governo argentino com o FMI. Mas internamente, Macri pagou um custo politico pela decisão. Uma pesquisa de opinião publica realizada pelas consultoras D'Alessio IROL/Berensztein mostra que apenas um de cada três simpatizantes de Cambiemos (a coalização de partidos de centro-direita no governo) apoia a negociação com o FMI.
A pesquisa foi realizada antes mesmo da decisão ser anunciada, na terça-feira (8) pelo próprio Macri. A maioria (75%) dos 1077 entrevistados considera "inadequado" pedir ajuda ao FMI. E 50% deles consideram o governo responsável pela atual situação.
O governo também enfrenta oposição no Congresso. Na quarta-feira (9) à noite, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que - se implementado - obrigaria o governo a reestabelecer as tarifas dos serviços públicos aos níveis de novembro de 2017. E só permitiria aumentos futuros de acordo com a porcentagem dos aumentos salariais. O projeto ainda será votado pelo Senado, onde o governo tampouco tem maioria. Mas Macri já disse que irá vetá-lo, porque produziria um rombo no orçamento.