Economia

Anápolis

O trevo do Brasil

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h34.

No fim da primeira quinzena de novembro, um evento comemorativo reunirá centenas de empresários e autoridades em Anápolis, a 60 quilômetros de Goiânia. A festa, marcada para o dia 14, incluirá a inauguração simultânea de seis fábricas, que representam um investimento conjunto de 30 milhões de reais em atividades como produção de embalagens, farmaquímicos e suplementos. Para os anapolinos, como é conhecido o pessoal da terra, essa é a maneira mais adequada de celebrar o 25o aniversário do Distrito Agroindustrial de Anápolis, o Daia -- são as bodas de prata de uma união bem-sucedida entre uma cidade e seu bairro industrial. Com as seis novas fábricas, o Daia chega à marca de 100 empresas instaladas e quase 8 000 empregos diretos gerados. Outras 14 indústrias encontram-se em fase de instalação -- o que adiciona às contas 600 empregos na construção civil. A corrida rumo a Anápolis foi acelerada com a reforma tributária, que pretende encerrar a temporada de benefícios fiscais. "Esperamos receber, na nossa festa, mais 39 empreendedores interessados em investir na cidade", diz o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, Ridoval Chiareloto.

O afluxo de empresas colocou Anápolis no posto de município mais competitivo de Goiás, numa pesquisa realizada neste ano pela Secretaria Estadual de Planejamento (a avaliação não inclui a capital, Goiânia). A cidade foi a primeira colocada em PIB, receita municipal, massa salarial, infra-estrutura e localização. A maior novidade nessa história de sucesso, porém, é de ordem qualitativa: há um processo acelerado de diversificação da base industrial local. A principal força de Anápolis ainda é o pólo farmaquímico, em que atuam cerca de 20 laboratórios, como Teuto, Greenpharma e Neo Química. Eles vendem medicamentos pa ra todo o Brasil e exportam para mais de dez países na África e na América Latina. O setor farmaquímico também fornece insumos para o agronegócio, como fertilizantes e suplementos alimentares para animais.

Nos últimos anos, porém, essas empresas ganharam companhia. O Daia abriga hoje mais de 40 fabricantes de componentes para o setor automotivo, roupas, embalagens, grãos, material de construção e outros produtos. Uma das fábricas a ser inaugurada em novembro é a da Companhia Metalgraphica Paulista (CMP), que desembarcou em Anápolis na esteira do boom do agribusiness no estado. Numa fábrica enxuta e moderna, 40 funcionários poderão produzir latas de óleos comestíveis, tintas e conservas. "Trazemos de São Paulo apenas as chapas, que ocupam menos de um décimo do volume das latas prontas", diz Mílton Varanda, gerente da nova fábrica. "Como há grande produção de óleo de soja no Centro-Oeste, decidimos montar as latas aqui."

Diversos fatores contribuíram para tornar Anápolis atraente para quem quer montar um negócio ou procura emprego. Além do crescimento da economia do Centro-Oeste, pesam decisivamente a concessão de incentivos fiscais e a localização. O investimento público no pólo industrial, na forma de perdão tributário, soma 4 bilhões de reais, ou seis vezes o investimento privado, de cerca de 650 milhões.

Os incentivos, porém, talvez não tivessem tanto efeito num lugar menos privilegiado geograficamente. Anápolis tem o apelido de "Trevo do Brasil", por se situar no centro do país, a 150 quilômetros de Brasília, e ser ponto de encontro de quatro rodovias federais (as BR-020, 060, 153 e 414), que levam a todas as outras regiões. A Ferrovia Centro-Atlântica liga a cidade ao sudeste. A Ferrovia Norte-Sul, se concluída, terá lá seu quilômetro zero. Prevê-se para 2006 o início do funcionamento da Plataforma Logística Multimodal, obra que integrará o aeroporto, o porto seco e os ramais de acesso às rodovias e ferrovias. "Estar aqui é uma vantagem competitiva", diz Marcelo Gonçalves Filho, presidente do laboratório farmacêutico Neo Química. A empresa fatura 192 milhões de reais e já teve sua linha de produção anteriormente localizada em São Paulo e Belo Horizonte. Nos 14 anos que está em Anápolis, o número de funcionários do Neo Química foi multiplicado por 10 e o faturamento, por 15. "Com a mão-de-obra barata, os incentivos e a localização, temos um custo mais baixo do que seria possível no Rio de Janeiro ou em São Paulo", afirma Gonçalves Filho.

O crescimento econômico não seria motivo de comemoração por si só se não tivesse bons efeitos sobre a vida da população. Nesse quesito, Anápolis representa um belo caso de industrialização com minimização dos danos e maximização dos benefícios. Há décadas, a cidade tem indicadores sociais superiores à média goiana, que por sua vez é superior à média brasileira. Entre 1991 e 2000, porém, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Anápolis avançou praticamente no mesmo ritmo que o de Goiás e o do Brasil, mantendo a dianteira sobre ambos, um feito digno de nota para uma cidade que já chega a 293 000 habitantes. "Esse modelo de industrialização tem de ser monitorado permanentemente, mas até agora tem efeitos positivos, como o desenvolvimento da infra-estrutura urbana", afirma Dalmo Moreira, do Centro de Pesquisas Econômicas da Universidade Católica de Goiás.

Alguns pontos frágeis são evidentes na economia local -- e indicam boas oportunidades de investimento. Em qualidade de mão-de-obra, Anápolis ficou apenas em terceiro lugar na pesquisa da Secretaria de Planejamento do Estado. O dado mostra um descompasso entre a industrialização e a capacidade de treinar funcionários. Há um esforço de guerra para suprir essa lacuna, liderado pela Universidade Estadual de Goiás, que criou em Anápolis o primeiro curso de pós-graduação em farmacêutica industrial do país, e pelo Senac, que abrirá novos cursos de especialização em 2004.

A riqueza da indústria, porém, começa a irrigar outras áreas. Quem passa pela avenida Dom Prudêncio, no bairro nobre de Jundiaí, repara num elegante condomínio de 17 andares. A obra será entregue no início de 2004 pela construtora Lugasa. Seu proprietário, o anapolino Mounir Naoum Filho, de 34 anos, também investe num novo hotel, o Sol Inn, que será administrado pela rede Meliá. "Há uma carência local de hotéis, bares, restaurantes e lazer", diz Naoum Filho. As obras marcam o retorno a Anápolis dos investimentos do clã Naoum. Mounir Naoum, o pai, saiu do Líbano e instalou-se em Anápolis em 1948. Sempre viveu na cidade, mas desde os anos 60 investiu fora dali -- por exemplo, na construção do tradicional Naoum Plaza, em Brasília, ou na aquisição de usinas de álcool em Mato Grosso. A história agora é outra. "Depois da estabilidade da moeda, a cidade retomou o crescimento e firmou-se como ótima região para investir", diz Naoum Filho.

ANÁPOLIS EM NÚMEROS
Área geográfica: 1 078 km2
População: 293 000 habitantes
Potencial de consumo per capita*: 1 800 dólares
Expectativa de vida: 70,2 anos
Mortalidade infantil: 20,7 por 1 000 nascimentos
IDH: 0,788 (é o 838º do Brasil)
Lei de Responsabilidade Fiscal: o município compromete 29,2% de
suas receitas com a folha do funcionalismo
Principais atividades: indústria farmacêutica (é o maior pólo de fabricação
de medicamentos genéricos), alimentos e agronegócio, distribuição e comércio
varejista
Fontes: IBGE/ADH/Prefeitura Municipal de Anápolis/Simonsen Associados
*Em 2002

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

São Paulo cria meio milhão de empregos formais em um ano, alta de 3,6%

EUA divulga payroll de agosto nesta sexta — e que pode ser crucial para o Fed

Senado marca sabatina de Galípolo para 8 de outubro, dia em que indicação será votada no plenário

Lula diz que acordo com Vale sobre desastres em Minas Gerais será resolvido até outubro

Mais na Exame