Economia

Ameaça de 'fogo amigo' pode ser desafio para Haddad

O "fogo amigo" marcou a relação dos ex-ministros Antônio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil) no primeiro mandato de Lula e tomou corpo em outros momentos dos governos do PT

Fernando Haddad. (Amanda Perobelli/Reuters)

Fernando Haddad. (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de dezembro de 2022 às 09h57.

Cobrado a deixar claro qual será a estratégia de política fiscal para compensar a alta de quase R$ 200 bilhões em despesas, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu medidas no início de 2023 para fechar o rombo das contas públicas. Mas ainda deu poucos sinais do que pretende fazer para garantir a sustentabilidade da dívida e a volta de superávits consistentes.

Na primeira semana após a indicação do seu nome para o cargo pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad colocou luz em temas que deverão pautar sua atuação no comando da economia no primeiro ano de governo: reforma tributária, antecipação do projeto de arcabouço fiscal, aumento do crédito e estímulo à ampliação das Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Haddad acabou, porém, tocando num ponto que economistas já veem como sensível no futuro governo Lula 3: o risco da reedição de divergências na equipe econômica. "É muito normal em um governo aparecerem pontos de vista diferentes; quando ministros têm pontos de vista diferentes, o presidente arbitra. Como Bolsonaro não era dado a governar, Paulo Guedes (ministro da Economia) tocava o governo como imaginava", disse Haddad, em entrevista à GloboNews.

Ele admitiu que a recriação dos ministérios do Planejamento e da Indústria e Desenvolvimento pode levar a divergências entre os ministros das três pastas, mas que "não vê isso no horizonte". Haverá ainda o ministério da Gestão, totalizando quatro pastas resultantes do desmembramento do atual "superministério" da Economia.

O "fogo amigo" marcou a relação dos ex-ministros Antônio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil) no primeiro mandato de Lula e tomou corpo em outros momentos dos governos do PT. Com Guido Mantega na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, nos governos Lula 1 e Lula 2, foi chumbo trocado o tempo todo. Mais tarde, no segundo governo Dilma Rousseff, os dois polos de divergência foram entre os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento).

Fazenda do 'B'

A nova equipe econômica terá um ministério da Indústria e Comércio "empoderado" por um novo BNDES bem mais forte, sob o comando de Aloizio Mercadante.

Ele quer montar um time forte na diretoria do banco, que será central na política econômica, por determinação de Lula. Como mostrou o Estadão, Mercadante poderá levar Nelson Barbosa, a ex-ministra Tereza Campello e quer atrair CEOs de empresas e outros nomes de peso, formando a sua própria "equipe econômica".

Embora Haddad e Mercadante tenham viés desenvolvimentista e sejam do PT, a movimentação tem chamado atenção em Brasília de parlamentares, técnicos da área econômica do governo e até mesmo de aliados de Haddad no partido. Nos bastidores se fala num "Ministério da Fazenda do 'B'", como ouviu a reportagem em círculos distintos em Brasília nos últimos dias. Eles vislumbram que cada grupo deverá fazer contraponto na definição dos temas econômicos, com arbitragem final de Lula.

Com esse cenário, a posição mais repetida em Brasília entre integrantes da transição é a de que a política econômica de Lula será de "governo", e não de um novo "Posto Ipiranga" em referência a Paulo Guedes.

LEIA TAMBÉM: 

Semana decisiva vai ‘destravar’ formação de governo Lula

Acompanhe tudo sobre:Fernando HaddadGoverno LulaMinistério da Fazenda

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor