Ajuste fiscal será forte e exigirá diálogo, diz Caffarelli
O ministro interino da Fazenda disse que 2015 será um ano de ajustes e que as reformas necessárias exigirão muito diálogo do governo
Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2015 às 15h20.
Brasília - O ministro interino da Fazenda , Paulo Caffarelli, disse antes de transmitir o cargo para o novo titular da pasta, Joaquim Levy , que 2015 será um ano de ajustes, especialmente um forte ajuste fiscal, e que as reformas necessárias para a retomada do crescimento exigirão muito diálogo do governo.
Caffarelli, que era o secretário-executivo de Guido Mantega, que bateu o recorde de tempo à frente do ministério, disse ainda que a agenda de investimentos exigirá participação do mercado de capitais e apoio de bancos privados nacionais e internacionais.
A Zona do Euro tem estado relativamente calma no campo financeiro, mas não conseguiu retomar o crescimento, diminuir o desemprego ou afastar o perigo de deflação - e os efeitos disso estão aparecendo na política. Na Espanha e na Grécia, os partidos anti-euro e anti-austeridade lideram nas pesquisas. Na França, a neo-fascista Marine Le Pen ganha espaço. Enquanto isso, a toda-poderosa Alemanha desacelera mas ainda resiste em gastar mais ou dar o aval para uma nova injeção de recursos via Banco Central Europeu. O perigo é que sem crescimento e sem inflação, a Europa possa se tornar um novo Japão, e dessa forma não haveria como manter a dívida dos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) em uma trajetória sustentável.
Já faz dois anos que o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe chegou ao poder prometendo ressuscitar a economia com três flechas: estímulo fiscal, expansão monetária e reformas estruturais. As duas primeiras foram para frente, mas a terceira não - e os resultados decepcionaram. O iene se desvalorizou e o mercado de ações explodiu, mas a inflação e o boom das exportações não vieram - as empresas simplesmente aumentaram seus lucros ou investiram em outro lugar. Enquanto isso, o crescimento cedeu diante de um aumento de impostos destinado a conter a dívida explosiva ( mais que o dobro do PIB ). Abe foi confirmado novamente no cargo este mês e segue com seu plano, mas algo precisa melhorar para manter viva a ideia de que o Japão tem rumo.
Desde a crise de 2009, a China injetou trilhões e trilhões de dólares na economia que além de não terem sido muito bem utilizados, podem estar criando uma pilha de dívidas insustentável. Além do mais, a economia do país depende demais do mercado imobiliário , e os preços estão caindo: "a bolha pode ter finalmente explodido", diz Roubini. A solução, todo mundo sabe: caminhar de um modelo baseado em investimento para um mais dependente de consumo. O problema é que a cada vez que o crescimento começa a ceder, o país deixa de lado a transição e estimula as mesmas áreas. E "quanto mais a China empurra o problema com a barriga, maior é a chance de um pouso forçado", diz o relatório. Uma desaceleração rápida do país afundaria junto com ela o preço das commodities e o crescimento de muitos emergentes - incluindo o Brasil.
Estado islâmico, crise na Ucrânia , guerra civil na Síria, protestos em Hong Kong , ebola na África ... com tanta turbulência acontecendo ao redor do mundo, Roubini está perplexo com a calma dos mercados. Um problema básico é que eles tem uma dificuldade enorme em precificar o risco de eventos sérios mas de baixa probabilidade que tem o poder de levar abaixo todo o sistema. "Há um século atrás, os mercados ignoraram alegremente os perigos que levariam à Primeira Guerra Mundial até o verão de 1914. Hoje, eles podem estar ignorando a possibilidade muito real de que os grandes riscos macro e geopolíticos se unam para formar uma tempestade perfeita", diz o relatório.
Quem acompanha a cotação do dólar já percebeu: ele está subindo, e muito, e não é só no Brasil. Isso acontece porque a moeda americana é um ativo seguro e a economia dos Estados Unidos é a única do mundo desenvolvido que cresce de forma vigorosa. Europa, Japão e China injetam dinheiro para desvalorizar suas moedas, ganhar competividade e crescer através de exportações enquanto os americanos pensam é em aumentar sua taxa de juros pela primeira vez desde a crise. A dinâmica funciona, mas só até certo ponto, e prejudica quem exporta commodities e depende de financiamento, como o Brasil. "Com seus níveis de dívida privada e pública, os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de se tornarem o consumidor residual gastador da economia global. Então, eventualmente, um dólar muito forte a desestabiliza", diz o relatório.