Economia

Agora é a hora

Se vamos crescer, é para já. O governo não pode deixar para depois

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.

Os gregos diziam que a fortuna é um cavalo de crina longa. Quando passa por você, sua única chance é agarrá-lo pela crina. Por quê? Porque esse cavalo não tem rabo. Se não o pegou na primeira oportunidade que teve, não o pega mais. Creio que por aqui, na questão do crescimento econômico, estamos vivendo esse dilema. Se vamos crescer, é para já. O governo corre o sério risco de deixar passar uma janela propícia para a retomada do crescimento que não vai ficar aberta para sempre. Aliás, é bem provável que logo se feche.

A sabedoria popular diz que o inferno é aqui mesmo, pois é onde pagamos nossos pecados. Assim, o governo Lula, que assumiu com a promessa e o compromisso do crescimento econômico, precisou subir juros, conter preços, deixar a atividade econômica, a renda e o emprego cair para conseguir uma estabilidade macroeconômica que resgatasse as condições de governabilidade do país. Depois viria o segundo passo, com a criação de condições para a retomada do crescimento sustentado.

Pois bem: nota 10 em segurar a economia quando foi preciso, e risco de segunda época em retomá-la, agora que o ano está quase terminando. Os feitos, que no decorrer do ano foram muito bons, aí estão: inflação baixa e cadente, risco Brasil despencado, dólar contido, juros em queda, bolsa subindo.

Mas, quando se pergunta sobre como é que engrena o crescimento, as respostas se referem sempre ao que foi feito para conter, não para expandir a economia. A janela para crescer é de agora para o fim do ano. Tem a ver com o impulso das vendas de Natal, de usar o 13o salário, estímulos para consumir, depois para poupar -- e botar a roda para girar. Nisso o setor privado é especialista: vê uma chance, corre atrás e faz crescimento simplesmente por que precisa sobreviver.

Ficar esperando que os indicadores macro façam o milagre da multiplicação dos pães é cair na passividade determinista que tanto os petistas criticaram na administração anterior. É uma armadilha perigosa e fascinante, que pode pôr tudo a perder. Pior: poderá dar ensejo a que se pense que este governo não sabe como fazer para que a economia cresça, depois de ter aprendido, a duras penas, como fazer para impedir que emborcasse de uma vez.

Será que esse risco é mera fantasia? Quase certamente, não. E isso porque, se não houver sinais inequívocos de que teremos um grande fim de ano, as decisões dos cidadãos e das empresas sobre como se comportarão no futuro ficarão para o ano que vem. Quer dizer: depois das férias. Ou seja, para março, e aí é só um trimestre, porque no segundo semestre há eleições e a gente sabe como é, ano eleitoral...

No ramo do que o governo pode fazer já é realmente acelerar as reformas, definir logo o marco regulatório, retomar obras de infra-estrutura e acelerar programas setoriais (como, aliás, vem fazendo na área agrícola, de exportações, de habitação popular e, agora, de financiamento à habitação para a classe média). Endurecer com o FMI vem bem a calhar, e é parte essencial do dever de casa.

Precisa, a qualquer custo, encontrar espaço no orçamento para investir em crescimento econômico, e precisa auxiliar a criar as condições para que os estados também originem esse espaço na reforma tributária. A mãe de todas as batalhas será fazer isso sem despejar sobre o contribuinte a conta final, sob a forma de uma carga tributária ainda maior, que, no fim, quando a roda der a volta completa, inviabilize o crescimento.

A pedagogia do poder está a indicar que o próximo capítulo passa por cortar custos do Estado, em vez de continuar sobrecarregando pessoas e empresas com novos encargos. Em síntese: se o governo quiser mesmo gerar empregos, vai ter de apostar no investimento e reduzir a ênfase em distribuir renda na veia, em programas sociais de todos os tipos, como faz hoje.

Sim, é verdade, diversos deles são fundos constitucionais, sobra pouco para o investimento, o FMI é enjoado, é um país pobre, falta tão pouco para o fim do ano. É verdade, é verdade, é verdade.

Mas esse cavalo não tem rabo.

Sidnei Basile é diretor-superintendente do grupo EXAME

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