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Em livro, ensaísta cobra a responsabilidade "dos que decidem"

Em novo livro, Nassim Nicholas Taleb defende que governantes e líderes empresariais devem ser mais responsabilizados pelos riscos que assumem

PONTE GOLDEN GATE: para autor, gestores e instituições não deveriam viver sob redoma, longe da sociedade e de suas decisões / Justin Sullivan/ Getty Images
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Da Redação

Publicado em 7 de abril de 2018 às 07h29.

Última atualização em 7 de abril de 2018 às 16h29.

Skin in the Game: Hidden Asymmetries in Daily Life

Autor: Nassim Nicholas Taleb

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Editora: Random House

281 páginas

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Tudo aponta para a existência de um consenso entre alguns economistas e pensadores de que há uma nova ordem mundial no ambiente da economia, dos negócios e das finanças.

Trata-se de uma turma de celebridades que escrevem livros, dão palestras e prestam consultoria empresarial e financeira, abordando temas multidisciplinares em que se proliferam conceitos como “economia comportamental”, “engenharia social”, “psicologia dos negócios”, “ciências corporativa”,  “epistemologia aplicada”  e outras derivações.

São gente de peso, como  Richard Thaler e Daniel Kahnemann, ambos premiados com o Nobel, ou best-sellers como Adam Grant e Ram Charam. Seus ensinamentos, sempre consolidados em livros, inspiram desdém de alguns críticos que os consideram “auto-ajuda” — e de fato há um certo tom de “ensinamento de vida” que vai além dos limites determinados por teorias econômicas e de negócios.

A diferença é que essa turma de celebridades contemporâneas é muito bem preparada, capaz de entender de fato os sinais do tempo e oferecer um aprofundamento inteligente sobre economia, empreendedorismo, finanças e negócios em geral.

Um dos mais nomes mais célebres entre esses pensadores “da moda” é Nassim Nicholas Taleb, matemático de formação, libanês de nascimento, mas na verdade nem uma coisa nem outra. Define-se como “ensaísta” e “filósofo” e divide sua moradia entre Estados Unidos  e Inglaterra. Em fevereiro ele  lançou o livro, Skin in the Game (algo como “arriscar a própria pele”) . que promete vender tanto quanto os anteriores, principalmente Antifrágil e Cisne Negro, duas bíblias dos jovens empreendedores contemporâneos.

Taleb é uma celebridade internacional e não menos admirada e seguida no Brasil. Como todo pensador “moderno”, ele gasta boa parte do  tempo alimentando suas conexões públicas pelas redes sociais —  tem 250.000 seguidores no twitter, 150.000 no Facebook, um site pessoal atualizado, palestras no Ted Talks e outros tantos vídeos no YouTube.

Suas contribuições ao site Medium (que tem versão brasileira) são quase sempre pautadas por críticas impactantes dirigidas, em tom impiedoso, principalmente para as decisões mal sucedidas das elites políticas e econômicas. Grande criador de frases, não faltam, nesse acervo de informações, longa listas com seus aforismos. “Os três vícios mais prejudiciais são a heroína, os carboidratos e o salário mensal”; “Nunca diga ‘não’ duas vezes se for para falar sério”; “o primeiro que usa a palavra ‘mas’ vai perder a discussão”. A galera vibra!

Mas seu sucesso tem outra origem e é financeiro. Em 1987, ainda bem jovem (nasceu em 1960), fez uma operação de risco na bolsa de Nova York e ganhou uma fortuna.  A sua estratégia foi apostar num black swan, um cisne negro, expressão criada quando se acreditava que só existiam cisnes brancos (o que comprovou-se falso), definindo-se assim  um evento inesperado, de grandes proporções e imprevisível. No caso, foi a queda abrupta do índice Dow Jones, ocorrida em outubro daquele ano, e rendeu ao jovem operador algo próximo a 40 milhões de dólares. Mas não parou por aí.

O tema se transformou no livro A Lógica do Cisne Negro em que ele trata de estratégias para enfrentar (e lucrar) com eventos inesperados e de grandes proporções, como um terremoto, uma guerra ou um ataque terrorista. O livro é um best seller internacional: lançado em 2007, vende bem até hoje e já chegou à casa dos 3 milhões de exemplares — foi traduzido em 31 idiomas e é tido como uma previsão da crise financeira de 2008, um típico evento “cisne negro”.

Mas Taleb é uma máquina de fazer sucesso. Em 2012 ele lançou o Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos em que expõe um conceito adotado em atividades tão distintas quanto a física, a análise de risco, a biologia molecular, o planejamento urbano, até pela Nasa.

A antifragilidade, segundo Taleb, é o oposto da fragilidade, mas não é resistência ou robustez — qualidades sólidas, mas imutáveis. Já o que é antifrágil melhora sob a ação dos eventos e essa propriedade tem sido fundamental para a evolução dos negócios, das empresas, das finanças e até do próprio ser humano. O resultado é a inclusão do seu nome na lista Forbes como um dos mais influentes pensadores do mundo.

As suas ideias impactantes e seu temperamento questionador  lhe propiciaram o honroso  apelido de “Nietzsche de Wall Street”. Taleb critica a academia, a mentalidade estreita das corporações, os bancos, os governos e até mesmo o empresário que o reverencia.  Alia a esse perfil  um tom espiritual que agrada nos dias de hoje — é adepto da religião grega ortodoxa — e frequentemente extrapola suas ideias financeiras para dar conselhos de vida, de atividade profissional e até de relacionamentos. Um verdadeiro guru.

No ano passado, aceitou o convite para dar umas palestras no Brasil e, de maneira muito amistosa, concordou em comparecer em encontros com seus admiradores brasileiros — um verdadeiro fã clube .

A capacidade de Taleb conquistar admiradores se deve ao seu talento, conhecimento e ideias, além do dom de saber se promover. Mas tem uma qualidade irrefutável: a capacidade de transmitir seus conteúdos  por meio de uma linguagem popular, que todos entendem, por mais complexos que sejam. E é fato que, se suas teorias parecem malucas, não se pode negar que são também fascinantes.

É o caso do livro Skin in the Game — uma boa oportunidade para se ter uma visão geral de seu trabalho. O princípio dessa nova teoria prega que instituições, governantes, grandes empresas e,enfim, pessoas que tomam decisões importantes, que afetam a sociedade, devem assumir responsabilidades, ou melhor, os riscos inerentes ao que decidem.

“Nós somos cada vez mais governados por uma elite intelectual, política, econômica e cultural que não arca com as consequências das decisões que toma”, escreve ele, citando a antiga prática romana de fazer os engenheiros passarem a noite sob a ponte que projetaram.

Obrigando as instituições a por a própria pele em risco elas,certamente, serão mais efetivas. “Todo o crescimento da sociedade, seja econômico ou moral, sempre advém de um pequeno número de pessoas. Se a pele deles está em risco, isso pode alterar condições fundamentais da sociedade.  A sociedade não evolui pelo consenso, pelo voto, pela maioria, por comitês, por reuniões prolixas, por conferências acadêmicas, e por pesquisas de opinião; somente algumas poucas pessoas já são o suficiente para alterar o equilíbrio da balança desproporcionalmente.”, argumenta ele. “Só assim é possível aprender com os erros”, completa.

Do computador para a realidade

Taleb argumenta que nossas instituições, e as pessoas que as lideram, vivem numa espécie de redoma bem protegida e, tal como imperadores irresponsáveis, agem com a soberba e  a arrogância de planejar nosso futuro, interferir na nossa vida, determinar o que é bom ou ruim, o que é certo ou errado, sem ter a menor responsabilidade sobre essas decisões.

Um belo dia, se aposentam enriquecidos e confortáveis , e ficam dando opiniões e palpites sobre a vida dos outros. Enquanto reinam, ignoram as fragilidades e estão cegas para os “cisnes negros” que podem ocorrer a qualquer momento bem na frente deles.

Mas Taleb não condena o estudo contemporâneo da economia. Sou um economista ortodoxo neoclássico tradicional, e não um heterodoxo radical ou qualquer coisa do gênero. Apenas não gosto de modelos duvidosos que utilizam alguma matemática, como regressão, que ignoram padrões escolásticos e obtêm resultados errados. E odeio essa preguiçosa mania de depender mecanicamente de métodos estatísticos ruins. Não gosto de modelos que fragilizam. Não gosto de modelos que funcionam no computador, mas não na realidade. Isso é que é economia padrão”, define-se.

O que ele condena mesmo é como a instituição de ensino, de qualquer nível, foi consolidada no mundo ocidental. “Não se pode considerar como ensinamento a prática de colocar os estudantes dentro de uma prisão de alta segurança chamada escola. O processo de aprendizagem não deve ser uma dissuasão das ideias dos alunos. É preciso que eles corram também o risco do aprendizado para conseguir evoluir. Isso não acontece na academia”, escreve ele.

E por conta desse raciocínio, Taleb prega a extinção do Prêmio Nobel de Economia que, segundo ele, apenas ratifica e consolida um pensamento acadêmico sem a experiência da ação e dos riscos nela implícitos. Suas demandas pela reforma da academia, tanto das ciências quanto das humanas, têm um apelo popular e sedutor, mas não são calçadas por argumentos profundos ou teóricos, e sim por apelos à experiência e prática —  e talvez por isso mesmo tenham tanta adesão entre seus leitores e adeptos. Taleb é reconhecido como um profissional que de fato teve experiências práticas sobre as questões que aborda, inclusive como operador da bolsa, como consta em sua biografia.

Um exemplo dessa falta de vivência e isenção irresponsável dos riscos é, segundo Taleb, o jornalismo. “O refúgio de covardes desconectados da realidade”, escreve ele. Um tanto radical para quem, afinal, vale-se da imprensa para promover seus livros, ideias e a si próprio.

Mas ele atribui essa característica não extamente à profissão, mas ao rumo que o jornalismo acabou adotando por conta da evolução (“sem riscos”) da atividade: “Antigamente, o exercício do jornalismo era um ato de coragem, no qual revelavam-se verdades do poder estabelecido com o risco de ser preso e até ser morto. Em toda a minha carreira, nunca vi um jornalista da área de finanças ir para “o outro lado”, ou seja, se expor ao risco de opiniões contrárias.  Como jornalistas podem entender tanto de política se nunca atuaram como políticos? Os modernos jornalistas são formados para serem covardes ou saberem escapar da realidade. E a grande tragédia é que os grandes realizadores estão em contato com o mundo por meio do jornalismo”.

A galera vibra!

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