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A retração americana pode abrir uma oportunidade para o país

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h40.

A persistente queda das bolsas americanas, o enfraquecimento do dólar e a redução das taxas de juro de longo prazo nos Estados Unidos indicam que são cada vez mais prováveis duas hipóteses que abordei exaustivamente nestes artigos:

1. O fim do mais longo ciclo expansionista do pós-guerra, marcado pela queda drástica dos investimentos proporcionalmente ao PIB na maior economia do mundo.

2. A incapacidade de inverter a tendência de esfriamento da demanda agregada, e particularmente de desaceleração do consumo privado, por meio da atuação agressiva do Fed (baixando as taxas de juro de curto prazo) e do Tesouro (reduzindo impostos e ampliando gastos públicos).

O desaquecimento da economia americana não é necessariamente má notícia para uma economia emergente com boa dinâmica de crescimento do mercado interno. A redução da taxa de retorno do capital nas economias centrais, após o fim do ciclo selvagem de investimento em novas tecnologias, indicaria uma tendência de deslocamento de capitais e de transferência dessas tecnologias em direção aos mercados emergentes de grande dimensão que exibissem bons fundamentos e dinâmica de expansão.

Eis o padrão clássico de difusão das novas tecnologias:

  • Uma fase efervescente de inovações deflagra ondas colossais de investimento nas economias centrais. O formidável volume de financiamento é viabilizado pela expansão de crédito pró-cíclica e pela "exuberância irracional" dos mercados acionários, inebriados pelas possibilidades abertas pelas novas tecnologias. O Fed de Greenspan lubrificou, sem dúvida, tais sonhos.
  • Como reflexo do excesso de investimento, inicia-se uma fase turbulenta de intensa competição. Trata-se de um processo globalizado de "destruição criadora", semelhante à seleção natural das espécies. A contração das margens de lucro, a queda da rentabilidade do capital, o colapso de empreendimentos e os problemas associados nos mercados de crédito são capítulos conhecidos dos estudiosos das flutuações cíclicas. Também fazem parte o estouro das bolhas acionárias e os esforços das autoridades monetárias e fiscais para atenuar a grande contração da atividade econômica.
  • É nesse momento de estabilização das novas tecnologias, de expectativas de baixo retorno do capital e de longo período de cicatrização nas economias centrais que se abre uma janela de oportunidade para a transferência de capitais e difusão de tecnologias para os países emergentes. Os candidatos a receber os investimentos são nações que apresentem boas perspectivas de crescimento, estabilidade monetária, responsabilidade fiscal, clima favorável a investimento estrangeiro, impostos razoáveis e mão-de-obra qualificada. O que significa, enfim, a existência de um bom clima de negócios.

    Em contraposição ao que acontece na dimensão comercial, na qual persistem subsídios e protecionismo mesmo no mais liberal dos países, a globalização ocorreu em ritmo alucinante na dimensão financeira. A redução dos déficits fiscais por todos os governos e a adoção generalizada de metas inflacionárias pelos bancos centrais, tornando pró-cíclica a política monetária durante o boom expansionista, resultaram em formidável expansão de crédito para o setor privado. Os excessos creditícios foram cometidos globalmente, como atestam as sucessivas crises de países (asiáticos emergentes, Rússia, Argentina) e de setores (energia, telecomunicações, internet).

    É nesse terreno movediço que iniciamos a corrida sucessória. Seja qual for seu resultado, o país pode se tornar elegível à nova ordem mundial. Basta que o novo presidente prossiga com as reformas estruturais.

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