Figo: como as flores do figo se abrem internamente, elas precisam de um processo especial para ser polinizadas (Artisteer/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 7 de dezembro de 2016 às 10h02.
Última atualização em 9 de dezembro de 2016 às 10h42.
Foi espantoso quando descobrimos que alcachofras são, na realidade, flores.
E que alcaparras são botões de flor em conserva. Mas descobrir o que realmente é o figo – e a vespa que possibilita sua existência – nos levou a questionar todas as verdades que conhecemos neste mundo.
Para explicar em termos simples, os figos não são, estritamente falando, frutos – são flores invertidas.
As figueiras não florescem do mesmo modo como as macieiras ou os pessegueiros.
Suas flores se abrem dentro de uma vagem em formato de pera, que, mais tarde, amadurece e se converte no fruto que comemos.
Então cada flor produz um fruto único, com uma só semente de casca dura, chamado aquênio, e o figo é composto de muitos aquênios, que são o que lhe confere seu caráter crocante. Portanto, quando comemos um figo, estamos na realidade comendo frutos múltiplos.
Mas não é só isso que torna o figo um caso singular.
Pelo fato de as flores do figo se abrirem internamente, elas precisam de um processo especial para ser polinizadas. Não podem depender do vento ou das abelhas para transportar seu pólen. É aí que entra a vespa-do-figo.
O figo não pode sobreviver sem a vespa-do-figo para disseminar seu material genético, e a vespa-do-figo não sobrevive sem o figo, porque é nele que ela põe suas larvas. Esse relacionamento é conhecido como mutualismo.
A vespa-do-figo fêmea penetra o figo masculino – vale lembrar que não comemos os figos masculinos – para pôr seus ovos ali.
O figo masculino tem um formato próprio para acomodar as vespas quando põem os ovos. As asas e antenas da vespa fêmea se quebram e caem quando ela penetra na pequena passagem de entrada no figo, de modo que, uma vez que ela entrou, não tem como sair.
Cabe às vespinhas bebês levar o ciclo de vida adiante. As vespas bebês machos nascem sem asas, porque sua única finalidade é acasalar com as vespas fêmeas – estritamente falando, suas irmãs – e cavar um túnel para saírem do figo.
São as vespas-bebês fêmeas que saem do figo, levando o pólen com elas.
Se uma vespa-do-figo penetra por acidente em um figo feminino (os figos femininos são os que comemos), em vez de um masculino, não há lugar para ela se reproduzir no interior do figo. E ela não pode fugir, porque suas asas e antenas foram arrancadas.
Então a vespa morre dentro do figo. É uma pena, mas é necessário, porque é assim que ela transporta o pólen que nos proporciona uma fruta que adoramos.
Não se preocupe, isso não significa que quando você sente algo crocante ao mastigar um figo, está mastigando uma carcaça de vespa. O figo utiliza uma enzima chamada ficina para decompor a vespa em proteínas, embora a ficina nem sempre decomponha o exoesqueleto inteiro.
Assim, é verdade que quando você come um figo, na realidade está comendo vespas-do-figo – ou algo que foi uma vespa-do-figo no passado --, mas pode pelo menos se consolar sabendo que essas vespas são minúsculas. Alguns veganos podem optar por não comer figos por essa razão.
Assista ao vídeo abaixo do Brain Stuff para ver exatamente como funciona o processo de polinização.
E aqui há outro vídeo que explica em mais detalhes como funciona a ficina:
Essa matéria foi originalmente publicada no portal HuffPost Brasil.