Em Charlottesville, nos Estados Unidos, um pequeno departamento da Universidade da Virgínia explora há décadas uma questão intrigante: o que acontece com a consciência após a morte? A resposta segue como um dos principais mistérios da humanidade. Mas, ao longo dos últimos 50 anos, há um enigma que pode respondê-la, deixado pelo psiquiatra Ian Stevenson.
Criador do Departamento de Estudos Perceptuais (Division of Perceptual Studies, ou DOPS) da Universidade de Virgínia em 1967, Stevenson se tornou referência na pesquisa de fenômenos como experiências de quase-morte e reencarnação. Ao longo dos anos, o cientista descobriu uma série de informações sobre o assunto, mas deixou a maior descoberta de seu trabalho — o estudo Combination Lock Test for Survival — para depois de sua morte.
O experimento é simples. Antes de se aposentar como diretor do DOPS, Stevenson deixou um pequeno baú de madeira fechado com um cadeado. O código secreto, somente ele conhecia. Quando enfim morreu, em 2007, o pesquisador levou a informação consigo para o túmulo. Ele tinha a teoria de que, se conseguisse que o código fosse transmitido de alguma forma ou por alguém, seria possível provar que existe vida após a morte, ou pelo menos maneiras de contatar entes que já deixaram a Terra.
Vidas passadas e reencarnação: verdade ou mito?
Stevenson dedicou a vida para documentar casos de crianças que afirmavam se lembrar de vidas passadas. Até a aposentadoria, havia registrado mais de 2,5 mil relatos ao redor do mundo, com detalhes. Uma das características mais marcantes desses casos é a clareza de memórias sobre pessoas, lugares e até eventos históricos que os jovens jamais poderiam ter conhecido.
As pesquisas enfrentam, claro, ceticismo. Críticos argumentam que as lembranças podem ser influenciadas por crenças culturais, inverídicas ou fruto de coincidências. Apesar disso, o trabalho de Stevenson conquistou apoiadores de peso, como o ator John Cleese, e continua sendo financiado exclusivamente por doações privadas.
Atualmente, o DOPS mantém uma equipe dedicada à investigação de casos de reencarnação, experiências extracorpóreas e outros fenômenos considerados "inexplicáveis", relacionados à vida após a morte. Sob a direção do psiquiatra Jim Tucker até 2023, o departamento explorou principalmente relatos de crianças entre 2 e 6 anos, faixa etária na qual as memórias de vidas passadas parecem ser mais frequentes.
Embora muitos casos sejam notáveis, como o de uma menina na Ásia que descreveu com precisão um assassinato em outra vida, os próprios pesquisadores reconhecem que as evidências não são conclusivas. "As memórias podem ser interpretadas de várias formas, como alucinações ou até mesmo clarividência", disse Tucker em uma entrevista recente ao New York Times.
Para além da ciência, o trabalho do DOPS levanta debates sobre espiritualidade e o impacto de crenças em reencarnação na forma como enxergamos a vida e a morte. Tucker, por exemplo, acredita que uma compreensão mais ampla sobre a continuidade da consciência poderia reduzir a ansiedade diante da morte e promover maior empatia entre as pessoas.
E o cadeado?
Enquanto a sucessão no comando do departamento é discutida, o mistério do cadeado de Ian Stevenson permanece como um símbolo da busca incessante por respostas que conectem ciência e espiritualidade. Já existe há 50 anos e o código ainda não foi descoberto.