Vacina da AstraZeneca (Dan Kitwood/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 18 de março de 2021 às 06h00.
A agência reguladora de medicamentos da União Europeia (EMA, na sigla em inglês) decide nesta quinta-feira (18) se a vacina da AstraZeneca com a Universidade de Oxford traz algum efeito colateral grave que pode levar a interrupção das campanhas de vacinação no bloco.
Nas últimas semanas, quinze países do bloco interromperam as vacinações com a vacina anglo-sueca, que pode ser armazenada e transportada em condições normais de refrigerações (2-8°C).
O motivo seria por que algumas pessoas na Dinamarca desenvolveram coágulos sanguíneos, uma das quais teria morrido, após serem vacinadas. O país imediatamente suspendeu o uso da vacina por 14 dias, mas realçou que era uma "medida de precaução".
Seguindo a Dinamarca, países como Holanda, Noruega, Irlanda, Islândia, Bulgária, Luxemburgo, Romênia, Estônia, Lituânia, Espanha, França, Alemanha, Itália e Portugal também suspenderam as aplicações com a vacina da AstraZeneca. A empresa farmacêutica afirma que “não houve eventos adversos graves confirmados associados à vacina”, mas que apoia as investigações.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também se manifestou e informou não haver evidências de que os incidentes sejam causados pelo imunizante. Ela ainda recomendou que as vacinações não fossem interrompidas. "É importante que as campanhas de vacinação continuem para que possamos salvar vidas e evitar os problemas graves causados pelo vírus", disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.
A EMA já realizou algumas reuniões durante a semana e disse que os benefícios da vacina superam os riscos de efeitos colaterais, mas a reunião de hoje (18) irá confirmar se o bloco deve prosseguir com a vacinação.
"Milhares de pessoas desenvolvem coágulos sanguíneos anualmente na União Europeia por diferentes razões. O número geral de eventos tromboembólicos em pessoas vacinadas não parece ser maior do que o observado na população em geral", afirmou a agência em comunicado.
Ainda de acordo com a EMA, 30 casos de coagulação sanguínea foram confirmados no dia 10 de março entre cerca de 5 milhões de pessoas que foram vacinadas na União Europeia. Atualmente, o bloco e o Reino Unido acumulam 17 milhões de pessoas vacinadas com o imunizante.
A empresa farmacêutica anglo-sueca anunciou alguns meses atrás que metade das vacinas vendidas à UE não chegariam até o tempo combinado. Ao todo, o bloco reservou 400 milhões de doses e a quebra do acordo não foi bem vista pelos líderes de suas potências.
Enquanto a União Europeia passa por dificuldades para garantir todas as suas doses, as entregas para o Reino Unido não tiveram atrasos tão significativos. O país é um dos que mais vacinaram no mundo até agora (foram 38 doses aplicadas a cada 100 habitantes, enquanto o bloco europeu administrou 11 doses a cada 100 habitantes). Além da AstraZeneca, ambos usam as vacinas de Pfizer e Moderna, que têm tecnologia de RNA mensageiro.
No meio deste embate, a AstraZeneca afirma que o Reino Unido aprovou a vacina antes da UE, o que fez o país receber doses mais cedo. A EMA, a reguladora da União Europeia, só aprovou a vacina em 29 de janeiro, quase dois meses após os britânicos.
No Brasil, a produção em grande escala da vacina de Oxford com a AstraZeneca teve início no dia 8 de março pela Fiocruz, que está produzindo as próprias doses com insumo (o chamado IFA) importado. O IFA foi enviado não pela fábrica própria da AstraZeneca, mas pelo Instituto Serum, na Índia, o maior fabricante de vacinas do mundo e que tem acordo com a empresa anglo-sueca para produzir e distribuir doses da vacina.
Outros 4 milhões de doses prontas que chegaram ao Brasil também vieram todas do Serum. A Fiocruz tem contrato para produzir 210 milhões de doses da vacina ao longo deste ano, sendo 100,4 milhões com insumos importados e o restante de produção 100% nacional.
Na última terça-feira (16), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a continuidade do uso do imunizante da AstraZeneca após concluir que não houve alteração no equilíbrio do benefício-risco do imunizante.
Um estudo, ainda não revisado por pares, indica que a vacina de Oxford pode imunizar a P1, variante brasileira do coronavírus que é mais transmissível, mas mais estudos precisam ser feitos para confirmar as análises dos pesquisadores que escreveram o artigo.