Cassini está pronta para sua imersão final em Saturno
Cassini, uma sonda de 2,5 toneladas, foi lançada ao espaço em 1997, equipada com uma dezena de instrumentos
AFP
Publicado em 13 de setembro de 2017 às 17h38.
Última atualização em 13 de setembro de 2017 às 17h42.
As horas estão contadas para a sonda Cassini, que na sexta-feira vai fazer uma imersão na atmosfera de Saturno , pondo fim a uma missão de 13 anos, nos quais revolucionou o conhecimento sobre esse gigantesco planeta gasoso.
"Cassini-Huygens é uma missão de descoberta extraordinária que revolucionou nossa compreensão sobre o Sistema Solar", afirmou Alexander Hayes, professor de astronomia da Universidade de Cornell, em Nova York.
Após quase 300 órbitas em volta de Saturno, Cassini ajudou a fazer descobertas importantes: os mares de metano líquido sobre Titã, a maior lua do planeta, e a existência de um vasto oceano de água salgada sobre a superfície glaciar de Encélado, outro dos seus mais de 50 satélites naturais.
Os dados coletados pelo espectrômetro a bordo de Cassini mostraram a presença de hidrogênio que emanava de fissuras na espessa camada de gelo de Encélado, o que revelou uma atividade hidrotermal propícia à existência de vida, explicaram os cientistas ao anunciar esta descoberta, em abril passado.
Cassini, uma sonda de 2,5 toneladas, foi lançada ao espaço em 1997, equipada com uma dezena de instrumentos. Em 22 de abril passado começou a primeira manobra que a fará mergulhar, nesta sexta-feira, na atmosfera de Saturno, onde se desintegrará.
Para isso, a nave se aproximou de Titã, aproveitando o empurrão gravitacional desta lua, para se colocar em órbita entre os anéis de Saturno e a parte superior da sua camada nebulosa. Trata-se da primeira exploração deste espaço vazio de 2.700 km.
Beijo de despedida
Cassini sobrevoou Titã pela última vez na terça-feira, e deveria transmitir as imagens e dados científicos coletados nesta quarta-feira.
Os engenheiros da missão vão usar a informação coletada nesse encontro, que apelidaram de "beijo de despedida", para se assegurarem de que a nave está na trajetória correta em direção à atmosfera do gigante gasoso.
"A missão da Cassini foi cheia de descobertas científicas, e isso continuará porque os instrumentos recolherão amostras da atmosfera de Saturno até o último segundo", disse Linda Spilker, cientista de projeto desta missão no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa, na Califórnia.
"A sonda transmitirá os dados quase em tempo real durante a imersão na atmosfera, algo sem precedentes para Saturno", acrescentou.
Cassini perderá a comunicação por rádio com a Terra um ou dois minutos depois de iniciar a descida, mas dez dos seus doze instrumentos funcionarão, incluindo o espectrômetro que analisará a composição da atmosfera.
Estes dados poderiam ajudar a entender a formação e evolução do planeta.
Na quinta-feira, véspera de sua descida final, outros instrumentos farão observações detalhadas da aurora boreal, das temperaturas e dos vórtices polares de Saturno.
Grande final
As últimas manobras terão início às 08H37 GMT (05H37 em Brasília) de sexta-feira, e Cassini entrará na atmosfera de Saturno às 11H53 GMT (08H53 em Brasília).
Um minuto depois, 1.510 km acima da camada nebulosa, as comunicações se cortarão, e pouco depois Cassini começará a se desintegrar, segundo estimativas da Nasa.
"Este grande final representa a conclusão de um plano de sete anos para usar os recursos restantes da nave da forma mais cientificamente produtiva possível", disse Earl Maize, responsável do projeto Cassini no JPL.
"Ao descartar com segurança a nave espacial na atmosfera de Saturno, evitamos qualquer possibilidade de que Cassini colida com uma das luas de Saturno em algum momento, preservando-as para explorações futuras", indicou.
A missão é um empreendimento conjunto da Nasa, da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial Italiana. As agências europeias construíram a sonda Huygens transportada por Cassini, da qual se separou em dezembro de 2004 para chegar a Titã.
A missão Cassini-Huygen custou 3,26 bilhões de dólares. Os Estados Unidos contribuíram com 2,6 bilhões, a ESA com 500 milhões e a Itália com 160 milhões.
Giovanni Cassini, astrônomo italiano do século XVII, descobriu quatro luas de Saturno, enquanto seu contemporâneo Christiaan Huygens era um matemático holandês que determinou que este planeta tinha anéis e observou Titã pela primeira vez.